“A sociedade estava muito zangada”. Foi assim que João Teixeira Lopes, sociólogo e professor catedrático na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), começou por falar ao JPN sobre o movimento “Geração à Rasca”, de 12 de março de 2011. As dificuldades económicas das populações, a falta de oportunidade de emprego, a escassez de apoio aos jovens, todas estas e outras razões justificaram a mobilização popular. Foi uma espécie de “borbulha que rebentou”, usando as palavras do sociólogo.
Mas mesmo assim, o docente critica a incapacidade do movimento sugerir propostas alternativas. “Não houve nada de realmente organizado com propostas alternativas, com estrutura capaz de apresentar um programa”, diz.
É importante pensar como é que este tipo de ações podem suscitar a “verdadeira mudança social e fomentar a solidariedade”, pois só assim é que as pessoas poderão libertar-se do “medo” que delas se apoderou. Isto, reconhece, apesar de “alguma solidariedade inter-geracional” que a organização conseguiu. Mas a crítica vai mais além. O sociólogo diz, também, que estes movimentos são “muito frágeis e contraditórios”.
Um movimento que foi, na altura, “uma explosão muito forte” mas, que, em 2012, surge mais “virado para dentro”. E é precisamente por isso que João Teixeira Lopes diz que as pessoas estão “menos dispostas” para as manifestações e daí esperar “uma fraca adesão” ao “Movimento 12 de março” deste ano. E, neste sentido, o professor explica que a ideia de colocar em papéis, cartazes e camisolas algumas críticas e sugestões para mudar o país vai de encontro a esse “receio” de que as pessoas possam estar menos dispostas a manifestar-se nas ruas.
“As redes sociais não serão nenhuma varinha de condão”
Este “virar-se para dentro” que se tem vindo a constatar, na opinião do sociólogo, acaba por despoletar uma série de “lógicas de desconfiança mútuas” entre as pessoas e, diz, “as redes sociais não serão nenhuma varinha de condão”.
Utilizar as novas tecnologias é importante, pois têm potencialidades que podem ser bem aproveitadas, mas mesmo assim João Teixeira Lopes mostra-se reticente quanto à excessiva importância que lhes é dada. “Não devemos iludir-nos de que as relações fabricadas nos novos media sejam suficientes quando não há ainda uma ideia clara sobre o que se quer em termos alternativos e isso tem que surgir, provavelmente, através de outras formas de interação”, sublinha. É que Portugal apresenta, diz o docente, “índices de retraimento muito fortes e isso significa que as pessoas estão mais distantes da ação coletiva”.
Para João Teixeira Lopes, a sociedade portuguesa atravesa “a pior crise deste a instauração da democracia” e, acredita, “Portugal vai sair dela muito pior, com mais desigualdades”. “Só espero que não seja um país mais triste”, remata.