Quatro jovens de intenções iguais mas com caminhos distintos nas suas escolhas militares: desde fazer carreira a desistir ou, até, nunca conseguir ingressar. António, Hélder, Mónica e Eduarda contam a sua história.

Aos 22 anos, António Almeida, candidatou-se, após ter concluído o ensino secundário, à Escola Naval da Marinha Portuguesa. Atingir o ideal “corpo são em mente sã” era um dos objetivos, aliado ao espírito de aventura e ao “exercício físico e enriquecimento mental”.

Apesar de todas as expectativas que tinha quando entrou se terem confirmado, António considera que “a vida não é apenas feita disso”. “Havendo possibilidades na vida civil, essas permitem-nos ter mais espaço para voarmos mais alto. Sem dúvida que a progressão de carreira inicial no exército é fantástica e a estabilidade e condições de emprego são das melhores, mas é, ao mesmo tempo, muito limitada”, explica.

As limitações que lhe eram impostas militarmente foram um dos aspetos que o levaram a abandonar a Escola Naval. “Costumo dizer que tropa é casar com a pátria e esta ‘mulher’ não perdoa se chegas a casa tarde depois de um jantar e uns copos”, graceja. No entanto, não se arrepende da decisão que tomou. “Se eventualmente me arrepender será apenas quando tiver 40 anos e só se não atingir o estereótipo de vida que planeio”, considera.

A vida militar como carreira

Hélder Costa, de 24 anos, é, atualmente, soldado com especialidade de comunicações no exército, na Companhia de Transmissões da Brigada Mecanizada de Santa Margarida, em Santarém. A possibilidade de ingressar no exército veio através de pesquisas na Internet e no centro de emprego, aquando da chamada para oferta do emprego. Decidiu aceitar o desafio pelo “gosto pela aventura e pelo experimentar de coisas novas mas, também, por estar à procura de emprego”.

As expectativas de Hélder não corresponderam à realidade. “Hoje em dia existe bastante procura de emprego e os jovens tentam ingressar por esta via porque, durante seis ou sete anos, têm emprego garantido como ‘praça'”, explica. Ao fim desse tempo de serviço no exército, poderão arranjar emprego na função pública, talvez com maior facilidade, podendo também seguir “a carreira militar na Escola de Sargentos do Exército (ESE) ou na Academia Militar, tirando um curso universitário”.

Já no caso de Mónica Santana, de 26 anos, foi a escola que lhe deu conhecimento das potencialidades do exército. “Fizeram uma sessão na minha escola sobre isso e, a partir daí, fiquei mais interessada, até que cheguei à conclusão de que seria uma oportunidade”, afirma. Terminou o ensino secundário e, com 18 anos, ingressou na vida militar.

Primeiro veio a recruta de dois meses, na sua área geográfica, em Vila Real. Depois de escolhida a especialidade de atirador, saiu de Vila Real e foi para Mafra, onde continuou como atiradora. No entanto, “os ares do sul não trouxeram coisas muito boas a nível físico”, lembra. “Tive que desistir e escolher nova especialidade, desta vez na Escola Prática de Transmissões, no Porto.”

No exército, Mónica sentia um fascínio por “tudo o que envolvia a farda, o brilho, o exercício, a vida regrada”. Mas, “acima de tudo, mostra que a mulher não é inferior ao homem, que vai para a tropa”, considera. A jovem acabaria por abandonar o regime militar dois anos após ter ingressado, em função de uma “situação pessoal”.

Para a jovem natural de Resende, “cada vez mais gente vai para o exército, não por amor à farda ou à pátria, mas sim para fugir do desemprego”. “A nível de dinheiro compensa, mas a pessoa tem que se sentir realizada como militar”, considera.

Redefinir metas e objetivos

Eduarda Pinho está a fazer mestrado em Contabilidade no Instituto Politécnico de Bragança. Quando lá ingressou, em 2008, o curso de Contabilidade estava longe de ser a primeira opção. A Academia da Força Aérea foi uma primeira opção que teve que ser deixada para trás. “O conhecimento das opções surgiu através da minha vontade de querer saber mais sobre o futuro na vida militar e, por isso, foi através da minha própria pesquisa, sobretudo através da Internet”, explica.

Eduarda sempre teve uma paixão especial pela vida militar e por tudo o que esse mundo engloba. Quando chegou a altura de decidir qual seria o curso a escolher, ao contrário dos colegas que sabiam qual a profissão que queriam seguir, ela sabia apenas aquelas que não queria. “Quando comecei a descobrir a possibilidade de fazer a minha formação na Força Aérea pensei se juntaria o útil ao agradável, uma vez que não estaria apenas a formar-me academicamente mas também a nível pessoal, e isso tornou-se o fator mais importante na minha decisão”, afirma.

Para Eduarda, a Força Aérea era “uma elite” da qual tinha muita vontade de fazer parte. As expectativas estavam vincadas: “suor, lágrimas e trabalho duro”. “A longo prazo seria uma elevada formação pessoal, espírito de equipa, trabalho ‘seguro’, possibilidade de progressão na carreira, aventura e orgulho pela instituição que estaria a representar”, confessa.

A possibilidade de estudar foi um dos pontos que a convenceu, daí ter tentado entrar para a Academia da Força Aérea onde, além da formação militar, teria seis anos de formação académica para ficar habilitada a exercer uma profissão fora desse âmbito. “Entrar na vida militar sem ser para estudar não era opção”, admite.

Eduarda acabou por não conseguir entrar na academia por não ter tido a classificação suficiente no exame nacional de Matemática, apesar de já ter superado provas físicas e psicotécnicas. Seguiu para a licenciatura e pensava concorrer mais tarde à academia. No entanto, passados quatro anos, já não equaciona voltar a tentar porque se tornou uma “pessoa diferente e com objetivos também diferentes”.

A jovem defende veementemente que, hoje em dia, se entra para a vida militar “por necessidade e não por vocação”. “Para mim, o ordenado era uma mais-valia, para a maioria que agora entra esse é o principal ponto e depois a vocação vai-se ganhando … ou não”, admite.