Uma fábrica ou um teatro antigo, um edifício abandonado, uma velha construção de cimento degradada pelo tempo. Lugares que ao olhar comum podem parecer desagradáveis, mas que são uma verdadeira oportunidade para estes exploradores urbanos.

Inflitração

Embora incida sobretudo na exploração de locais abandonados, o urbex também engloba áreas ocupadas pelos proprietários, mas de acesso interdito, como por exemplo telhados, salas de máquinas ou estruturas subterrâneas. Esta modalidade tem o nome de “infiltração”.

A exploração urbana, ou urbex, é um movimento que se dedica à procura de espaços urbanos desabitados. Ao possibilitar o registo dos lugares encontrados, a fotografia veio revelar-se uma forte aliada dos exploradores urbanos. Hoje, são vários os fotógrafos – profissionais e amadores – a aventurarem-se por estes ambientes.

João, nome fictício, é fotógrafo profissional. Devido ao caráter clandestino da atividade – que implica, por vezes, a entrada em espaços privados – prefere não identificar-se. Conta que, para ele, a exploração urbana é “uma viagem no tempo”. Encontrar uma beleza característica no meio do “lixo” permite-lhe o exercício do seu “olho fotográfico” e, simultaneamente, a experiência de um sentimento de “melancolia” e de “tristeza”, que estes locais deixados ao abandono suscitam.

Apesar de já ter visto o seu trabalho exposto numa galeria em Setúbal, João não fotografa locais abandonados com intuito comercial. Patrícia Mateus, também fotógrafa e administradora do grupo de Facebook Urbex Portugal, vê a exploração urbana da mesma forma: “Nós fazemos isto por paixão e não por dinheiro. Queremos descobrir as pequenas histórias isoladas de casas, hospitais, fábricas e quintas… que um dia estiveram cheias, que um dia fizeram história e que hoje não são mais do que paredes, do que edifícios deixados no silêncio”, conclui.

O risco de um encontro inesperado

A exploração urbana implica, por definição, a visita de espaços inóspitos. Parte da emoção que origina reside no risco de um encontro inesperado durante as expedições. Patrícia conta que já apanhou vários sustos, entre eles, durante a exploração de uma antiga clínica: “Não tínhamos como fugir caso acontecesse alguma coisa. Abrimos uma porta e estava lá um senhor. Também ficou assustado, mas tranquilizou-nos logo e explicou que andava apenas a ver. Pessoalmente foi o que me assustou mais mas também porque ia uma criança no grupo”, descreve.

João explica que nem sempre é fácil avaliar a segurança dos locais. Para além de eventuais encontros com sem-abrigo ou toxicodependentes, existe ainda a possibilidade de se cruzar com a polícia: “Tento sempre ser o mais discreto possível e os anos de experiência ajudam a evitar chamar a atenção quando estou a ‘invadir’ algum local”, conta. “Para além de alguns sustos com animais, escadas partidas e pessoas no local, nunca tive problema”, esclarece.

Como encontrar estes locais

Exploração Rural

À exploração de espaços abandonados rurais dá-se o nome de rurbrex. Compreende a exploração de antigas quintas, casas de campo, estábulos, adegas, etc.

Segundo João, encontrar bons lugares para fotografia urbex nem sempre é fácil: “A maioria das vezes é de boca em boca que ficamos a saber da existência destes locais. Eu mantenho sempre um olho atento quando estou a conduzir ou a caminhar pela rua”, conta.

Patrícia Mateus explica que basta estar-se atento a “pequenos traços ou pequenas impressões que foram deixadas para trás”. Para os exploradores urbanos mais experientes, a deteção é mais fácil: “Para quem sabe como os encontrar, eles saltam à vista num pequeno relance. Isto porque com o passar do tempo e da experiência no terreno, estes edifícios aparecem como cogumelos”, conclui.