A Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia (APEF) é a entidade responsável em Portugal pelo Student Exchange Program, programa de intercâmbio organizado a nível internacional pela Federação Internacional de Estudantes de Farmácia (IPSF). Ao longo dos anos, Carlos Afonso, presidente da APEF, tem notado “um crescimento brutal na adesão dos futuros farmacêuticos ao programa”.
O SEP é, assim, uma oportunidade única para viver uma experiência profissional a nível internacional, permitindo o contacto com outras perspetivas da profissão farmacêutica e a aquisição de novos conhecimentos e competências, constituindo um relevante complemento à formação académica.
Há vários anos consecutivos que Portugal tem estado em lugar de destaque neste programa, sendo o país número um, tanto em estudantes recebidos como em enviados. Este ano está previsto que Portugal receba cerca de uma centena de alunos estrangeiros oriundos de todo o globo e que envie cerca de 125 estudantes portugueses.
Através deste intercâmbio, os estudantes portugueses aproveitam para viver a experiência numa realidade completamente diferente. Índia, Egito, República Checa e Polónia são os destinos mais procurados, a par do Reino Unido e dos Estados Unidos da América. Já Portugal é o país eleito dos nórdicos, checos e polacos, que fazem a sua escolha com base em critérios para além do estágio. Segundo Carlos Afonso, os estágios “são normalmente feitos no verão para não coincidirem com a faculdade”, em especial entre os meses de julho e setembro.
Quando os alunos estrangeiros chegam a Portugal, a APEF encaminha-os para as áreas onde se situam as faculdades e aí são acompanhados através dos núcleos e associações locais. No mês de maior afluência de estudantes, a associação organiza um encontro numa cidade onde possam conhecer, ainda mais, a realidade portuguesa. O ano passado foi Coimbra a cidade eleita, considerada património mundial. O local do encontro deste ano ainda não está confirmado.
O intercâmbio na primeira pessoa
Ricardo Rosa é um dos estudantes portugueses que participou no programa SEP e valoriza a existência de um programa com estas características. “Numa altura em que o país parece demasiado pequeno para os nossos sonhos, é de extrema importância que os alunos de Farmácia não se resignem em perder oportunidades de trabalho para a crise e apostem na constante valorização pessoal. O SEP aparece como uma ferramenta para esse fim, um programa seguro que permite conhecer novas realidades e mercados, ganhar experiência de trabalho, mas, acima de tudo, alargar a rede de contactos para o futuro”, diz.
Mercado de trabalho
Ricardo Rosa está atualmente no quinto ano do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Universidade de Coimbra e descreve o mercado de trabalho em Portugal para os futuros farmacêuticos: “Apesar de haver um forte crescimento das empresas farmacêuticas portuguesas, é muito difícil satisfazer as necessidades do crescente número de farmacêuticos, ainda para mais com o atual clima político e económico”. Perante este cenário, Ricardo admite que o estrageiro passa a ser uma opção válida. Porém, afirma que antes de se descartar o mercado português é importante conhecê-lo bem e valorizá-lo.
Quando se candidatou ao programa de intercâmbio tinha dois critérios em mente: estagiar na indústria farmacêutica e fazê-lo numa realidade totalmente diferente. A primeira opção foi Singapura, mas acabou por não resultar. Porém, não quis perder a oportunidade de ir para a Índia e, assim, a 21 de julho de 2013 aterrou em Nova Deli.
As sete semanas que esteve na Índia são recordadas com saudade. “Tive o privilégio de poder conhecer mais da Índia do que apenas a cidade onde iria estagiar, o que contribuiu imenso para a minha bagagem cultural e enriqueceu a minha perspetiva do país. Quase tudo o que tinha ouvido e lido acerca da Índia revelou-se verdade, mas foi o que não me contaram que me apaixonou”, conta.
No estágio, Ricardo teve a oportunidade de entender e participar no dia-a-dia de uma grande empresa farmacêutica, ganhando experiência em diversas áreas que a compõem. “Através da minha passagem por vários departamentos como controlo de qualidade, análises químicas, análises físicas, Investigação & Desenvolvimento e marketing, tive a oportunidade de compreender melhor a essência da atividade farmacêutica e refletir acerca do meu futuro profissional, acerca do que me preenche e faz feliz nesta profissão”, revela.
A experiência em terras indianas foi, acima de tudo, “uma lição de humildade”. Ser mais um em 1.2 biliões de pessoas obrigou Ricardo “a crescer de diversas maneiras, a repensar a forma de estar na vida e a amadurecer”.
No dia 8 de setembro de 2013 regressou a Portugal e acredita que voltou “com uma noção diferente acerca da natureza humana. Talvez mais frio, mas decididamente mais consciente e alerta para as disparidades sociais e para a miséria que existe no mundo”.