A 2.ª edição do maior torneio de futebol ficou manchada pela influência política, e pelas várias histórias com árbitros de Benito Mussolini. O ditador italiano percebeu que uma competição desta dimensão seria importante para divulgar as suas ideologias, e que se a seleção Azurri vencesse, essa divulgação tornar-se-ia ainda mais fácil.

O ex-ditador começou bem antes do Mundial a trabalhar nos bastidores. Antes do torneio, alterou a regra das naturalizações de forma a bons jogadores que tivessem descendência italiana mas que nasceram noutros países pudessem jogar pela sua seleção. Filó, brasileiro que jogava no Corinthians, foi um dos naturalizados a ser campeão do mundo.

Mas Mussolini não ficou por aqui. O líder italiano teve influência na escolha dos árbitros para algumas partidas, como a escolha do árbitro sueco Ivan Eklind para a meia-final com a Áustria que se encontrou com Mussolini antes da partida. Os árbitros René Marcet e Louis Baert foram suspensos depois da competição devido a influência de resultados em jogos da Itália.

A seleção espanhola foi eliminada pela equipa anfitriã nos quartos-de-final da competição depois do jogo de desempate (não havia decisão por penalties, nesta altura), culpando os árbitros pela derrota. Motivo? Golos mal anulados nas duas partidas que impediram “La Roja” de chegar às meias-finais.

Semelhanças com o Uruguai 1930?

Este foi um Mundial onde foram introduzidas algumas alterações em relação ao Mundial de 1930 no Uruguai. Nesta edição participaram 16 seleções que se apuraram por eliminatórias, num total de 32 países, ao contrário do que ocorrido em 1930, onde as seleções foram convidadas a participar.

O “mata-mata” e as cidades anfitriãs

Destaque para o estilo de “mata-mata” da competição. Em vez da fase de grupos, o Mundial começou a partir dos oitavos-de-final, com eliminação de quem perdia o jogo. Outra diferença em relação ao mundial sul-americano foi a questão das cidades anfitriãs. Se no Uruguai só Montevideu recebeu a competição, em Itália foram 7 as cidades que receberam a competição rainha do futebol mundial: Roma, Mlão, Turim, Florença, Bolonha, Trieste, Nápoles.

Uma pequena nota para o facto da seleção anfitriã ter disputado as eliminatórias de apuramento para o Mundial. Esta foi a única vez que o país que recebe a competição teve que se apurar e correr o risco de ficar afastado.

Mais uma curiosidade. O Uruguai não disputou este Mundial para se vingar de algumas seleções europeias, inclusive a italiana, que ignoraram a competição de 1930. Foi também a única vez que uma seleção campeã do Mundo não defendeu o seu troféu.

Mas, e futebol?

No futebol jogado, uma das poucas semelhanças com a edição anterior: a seleção anfitriã ficou com o “caneco”. A seleção italiana entrou bem no torneio e goleou os EUA por uns claros 7-1, que empolgou o povo nacionalista. Angelo Schiavo, uma das grandes estrelas italianas, marcou por 3 vezes neste jogo, o que o levou a ser um dos segundos melhores marcadores com 4 golos.

A seguir veio a Espanha, com polémica à mistura e depois de jogo de desempate, os Azurri conseguiram a vitória com um golo de Guiseppe Meazza, jogador que mais tarde viria a dar nome ao estádio do Inter de Milão.

A “seleção maravilha”, designação pela qual era apelidada a Áustria, foi o adversário que se seguiu no caminho dos italianos. Os austríacos tinham eliminado a França e a Hungria e acabaram por dar muito trabalho aos transalpinos, mas as condições do relvado prejudicaram o futebol curto e simples dos austríacos. A relva encharcada complicou a posse de bola dos visitantes e beneficiou a resistência e combatividade dos italianos. 1-0 com golo de Guaita.

Egipto e Palestina, as surpresas

16 equipas preencheram as vagas deste torneio depois de disputarem eliminatórias. Na 1ª edição só participaram equipas europeias e americanas. 4 anos depois, o Mundial suscitou o interesse de duas seleções exteriores a estes continentes. Egipto e Palestina foram os interessados, mas só os egípcios conseguiram apurar-se e jogar em Itália.

Na final, disputada a 10 de junho, o estádio do Partido Nacional Fascista estava lotado com mais de 70 mil italianos. O jogo era frente a Checoslováquia, seleção da Europa de Leste que vinha de uma vitória sobre a Alemanha. A vitória sorriu aos italianos por 2-1 no prolongamento. Os forasteiros ainda gelaram o estádio ao marcarem um golo a 20 minutos do fim, mas a Itália empatou a 36 segundos do fim com golo de Orsi. Schiavo no prolongamento deu a vitória para alegria geral e fez a vontade a Mussolini de ver uma Itália campeã do Mundo.

O onze tipo da Itália: