Estamos bem no coração do Porto, na característica rua de Santa Catarina, um palco abraçado por artistas de todos os géneros possíveis. Pedro Azevedo é um deles. Ao entardecer, o artista está sempre pela calçada da rua, muito concentrado, a praticas a sua arte apaixonada. Quando crianças, todos vimos ou brincámos com as típicas bolinhas de sabão. É mesmo esse o virtuosismo de Pedro Azevedo, só que em escalas muito maiores. O artista explicou e tornou explícita, ao JPN, a paixão pela arte que pratica, e de que são feitos os materiais das suas ferramentas utilizadas:
O artista acredita que o pior em ser artista de rua é o desprezo da sociedade, ao achar que um artista de rua “tem de ser necessariamente um pedinte”:
“Picnic” é outro dos artistas residentes na rua de Santa Catarina. Muitos de nós pensam que é só nos circos que os palhaços podem ser vistos e apreciados. Mas enganam-se. Nesta rua da Invicta, há cerca de 15 anos, este artista veste o seu nariz vermelho e macacão azul e encarna um personagem sempre sorridente para entreter as pessoas que por ele sempre passam. “Picnic” revela, ao JPN, que o que o move mais a ir diariamente para as ruas é para poder divulgar o seu trabalho “para poder arranjar contactos para eventos”, para assim poder ter rendimentos e continuar a viver da sua paixão. Contudo, apesar de acreditar que é a liberdade o mais aliciante na arte urbana, “Picnic” também acredita, tal como Pedro Azevedo, que “as pessoas têm que abrir a sua mentalidade em relação a este tipo de arte”.
Para o artista, não é principalmente pelo dinheiro que pratica o seu ofício: “Acima dessa porcaria que se chama “dinheiro” está a alegria de uma criança. O dinheiro é só um mal necessário”, remata. O que mais motivação a “Picnic” é também poder “dar mais alegria às pessoas, para poderem sorrir mais e “não pensarem tanto na crise”. “Não é pela crise existir, que uma pessoa vai andar sempre de trombas”, graceja.
Continuamos o caminho pela rua de Santa Catarina, e ouvimos o já bem típico acordeão do senhor José Antunes, que toca sempre no mesmo local fixo, sempre na mesma esquina com a rua Formosa , e há mais de trinta anos. É uma das pessoas que assume que rumou à arte “para poder sobreviver”. Tudo o que o músico aprendeu veio pela sua própria aprendizagem, sem nunca ter tido aulas. Tudo começou aos 17 anos, com “um acordeão pequenino” oferecido pela família. Ao JPN, afirma haver de tudo, no que diz respeito à reacção das pessoas: “Há aquelas que passam e ignoram” e outras “que agradecem e pedem para tocar mais”.
José é também da opinião que os transeuntes deveriam respeitar mais os artistas da rua. “Se um artista está na rua, já é mendigo. Se fumamos um cigarro, é porque somos mendigos, e pedimos para fumar. Se bebemos um copo de vinho, é porque bebemos um copo de vinho. Olham-nos sempre de lado”, remata o músico, apelando para que haja mais igualdade no tratamento entre pessoas, independentemente da sua atividade:
E a polícia, está alerta para esta temática da arte nas ruas? Fomos informar-nos melhor sobre a legislação, e descobrimos que não existe uma lei geral nacional para a arte urbana. Cada município é responsável pela legislação na sua área de influência. O Porto não tem legislação específicas, nem cobra licenças para qualquer artista atuar nas ruas. O Mesmo não acontece em Lisboa, onde todos têm que ter autorização, e pagar licenças para usar as ruas como palcos.
E porque é que há assim tantos estereótipos criados pela sociedade, em relação à arte urbana? Dirceu Graça, assistente social há mais de trinta e cinco anos, afirma, ao JPN, ser nas escolas que se deve começar “a abrir a mente dos jovens”, para que as pessoas não estejam só habituadas a ver arte “em recintos fechados, como museus ou salas de espectáculos”. Para o assistente social, há dois factores fundamentais que levam os artistas às ruas. A carência financeira, devido “aos baixos salários, à precariedade e à dificuldade em arranjar trabalho” e a ousadia em resistir e não querer compactuar com o sistema laboral atual, que segundo Dirceu, “é cada vez mais exploratório para os empregadores”:
Nem todos os artistas são portugueses, nem fixos e contínuos a atuar sempre em Santa Catarina. Há espaço para artistas internacionais e mais sazonais.
É o caso de Scott Brand, jovem australiano que faz vida de fazer teatro de rua com marionetas. Quem passa assiduamente na rua de Santa Catarina, já deve com certeza tê-lo visto. “Gosto muito das pessoas do Porto. Mas não é a região em Portugal onde ganho mais dinheiro. No Algarve foi onde já ganhei mais”, conta-nos. Atualmente o jovem já não se encontra a Portugal.
É o caso também da portuense Susana Silva. Muitas foram as vezes que a jovem se aventurava a partilhar a sua voz na rua da Invicta. Canções portuguesas e internacionais, umas com guitarra e outras sem, e uma paixão pela música, que a faz cantar, segundo as suas palavras, “com autenticidade e amor, em vez de com o ego”. Hoje a artista vive em Londres, onde foi prosseguir o sonho pela música. Continua a atuar nas ruas, mas muitos são os concertos que vai agendando em locais variados do país. A sua página no facebook conta com mais de 13000 seguidores, e nela é possível ouvir músicas pela jovem cantadas, como a que podem ouvir abaixo, numa performance feita no passado, cantando “vinho do Porto”, de Carlos Paião, momento que levou ao rubro a rua de Santa Catarina:
E o que pensam os comerciantes da rua, sobre os seus artistas residentes?
“Sónia” – que não quis revelar a sua identidade ao JPN – afirma não gostar de alguns dos artistas urbanos em Santa Catarina: “Há uns que não são artistas nenhuns. Trazem a guitarra, e fazem ruído e não música. Alguns até armam desacatos com as pessoas. Isso prejudica o andamento normal das pessoas pela calçada”, explica.
Anabela, também comerciante, que tal como José Antunes, povoa a rua de Santa Catarina há mais de trinta anos. A profissional é de opinião bastante diferente de “Sónia”, visto assumir “que os artistas são quem dá vida à rua, quem chama e diverte as pessoas”: