António Monteiro, antigo diplomata de Portugal nas Nações Unidas, não tem dúvidas que o antigo primeiro-ministro é o melhor candidato: “A eleição do secretário-geral é muito importante. Deve ser eleito o melhor, porque depois as políticas que vão ser aplicadas vão ser essenciais ao progresso e à adaptação da organização aos novos tempos. E por isso creio que deve avançar o melhor. Nessa linha, não tenho dúvidas que o melhor candidato é o António Guterres”, declarou ao JPN.

Sobre a audição desta terça-feira, o antigo presidente do Conselho de Segurança da ONU, considera que Guterres teve um discurso coerente, referindo todas as questões essenciais acerca do seu projeto para as Nações Unidas. “Ele mostrou que estava completamente à vontade com os temas essenciais para a ONU. Conseguiu transmitir uma visão que corresponde ao que grande parte da comunidade internacional deseja: que haja uma mudança no sentido de um multilateralismo muito mais efetivo, mais eficaz e muito mais democrático e transparente”. A audição de todos os candidatos, algo inédito na história da ONU, “é um processo inovador” que mostra que “as Nações Unidas estão no caminho certo”.

O antigo Alto Comissário para os Refugiados não está sozinho na corrida. António Monteiro considera que os principais rivais de Guterres são as representantes femininas: “A Helen Clark, antiga primeira-ministra da Nova Zelândia, que pertence ao mesmo grupo regional da ONU [ocidental] e a Irina Bokova que está à frente da UNESCO e que corresponde ao critério da variação regional”. Ainda que Bokova tenha tido “uma boa prestação, não se pode comparar à intervenção brilhante de Guterres”, conclui o antigo embaixador.

As principais ideias da apresentação de Guterres

“Considero-me um homem muito privilegiado. Deus deu-me muitas oportunidades na vida e eu só posso retribuir através do serviço público”, disse António Guterres, a abrir a apresentação.

A passagem, como voluntário, quando era jovem, pelos bairros de lata lisboetas e a experiência como Alto Comissário para os Refugiados, levam-no a apontar o centro da ONU como “o melhor lugar para combater as causas profundas do sofrimento humano”.

Alertou para a necessidade de ser mais eficaz na “prevenção e resolução de conflitos”, mais especificamente na “proteção da segurança global contra o terrorismo”.

Guterres sublinha também a importância da imigração para a sustentabilidade de países como Portugal, que têm uma taxa de natalidade baixa. O candidato considera que a multiculturalidade tem um efeito “positivo” para as sociedades e, por isso, diz ser essencial combater a exclusão e o extremismo.

A experiência política é também um trunfo de António Guterres: “Toda a minha vida tenho gerido crises. Fui líder de um partido durante dez anos e não há nada pior para gerir crises do que ser líder de um partido”.

Diz já ter sido criticado por “apostar demasiado no diálogo”, na altura em que era primeiro-ministro de Portugal. No entanto, vê isso como uma vantagem para a função de secretário-geral da ONU.

É imperativo melhorar a eficiência da ONU e alcançar mais resultados com menos conversas: “Temos demasiadas reuniões com demasiadas pessoas, a discutir demasiados assuntos com muito poucas decisões”.

A questão da equidade de género também esteve sob escrutínio, uma vez que 84% dos representantes e enviados especiais da ONU em 2015, eram homens. “Andámos para trás”, disse Guterres, aproveitando também para fazer uma promessa: “Se for secretário-geral, comprometo-me a produzir nos primeiros meses do meu mandato um calendário com objetivos e prazos bem definidos para uma agenda de paridade”, disse o candidato. O objetivo é “atingir os 50/50”.

O que se segue?

Às apresentações de Igor Lukšić, Irina Bokova e António Guterres, candidatos que discursaram ontem, seguem-se ainda as apresentações dos restantes candidatos, a serem distribuídas por esta quarta e quinta-feira.

Posteriormente, o Conselho de Segurança da ONU, numa reunião privada, sugere um desses candidatos aos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, China e França).

Caso seja aprovado por estes cinco membros, o escolhido vai a votação na assembleia-geral, onde tem que reunir, pelo menos, 66% dos votos. O secretário-geral é eleito por um período de cinco anos, não havendo nenhum limite de mandatos.

Ban Ki-moon vai continuar à frente da ONU até ao final do ano, sendo que o seu sucessor assume as funções de secretário-geral a 1 de janeiro de 2017.

 

Artigo editado por Filipa Silva