Na sua primeira intervenção nas comemorações do 25 de Abril enquanto Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa começou por saudar os capitães responsáveis pela instauração da democracia em Portugal e ausentes das comemorações no Parlamento desde 2012: “Saudar os Capitães de Abril, 42 anos depois, é dever de todos os que, em Portugal, se louvam da democracia que o seu gesto patriótico permitiu instaurar”. O Presidente aproveitou também para saudar “o povo que é a soberania popular”.
A revolução de 1974 “foi feita de muitas revoluções”. A constituição de 1976 – dois anos após o 25 de abril – acolheu o compromisso de visões diversas já que “olhando para os projetos de forças partidárias com assento na Assembleia Constituinte, é possível deparar com várias revoluções, a que se somaram as sonhadas por outras forças sem tal representação”.
Abril permitiu a Portugal “abrir horizontes” que antes da revolução não seriam possíveis. “É injusto negar o que devemos ao 25 de Abril”, defendeu o Presidente. Numa perspetiva mais particular, Marcelo afirmou que os jovens “podem começar a acreditar no futuro”.
O Chefe de Estado elencou quatro desafios trazidos com a revolução: descolonização, democratização, integração europeia e a mudança da economia em ciclos diversos. De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, estes “tiveram custos de várias ordens que legitimaram queixas nos mais jovens”, uma vez que “o saldo é positivo para quem tem memória” da década de 70. Contudo, o Presidente apelou a um combate mais eficaz à corrupção e a uma aposta numa maior participação das mulheres no mundo da política.
Quatro décadas depois
Olhando para os desafios, Marcelo teceu algumas críticas: “O Portugal que acredita na Europa deve ser menos confidencial, menos passivo, mais solidário, mais atento às pessoas, e sobretudo que não pareça aprovar nos factos o oposto daquilo que apregoa nos ideais”. O “Portugal pós-colonial tem de cuidar da língua, valorizar a cultura, ir mais longe na educação e apostar mais na CPLP”. Tem de abrir horizontes, “combater assimetrias e a pobreza”.
Ainda que os “tempos não sejam fáceis”, o Chefe de Estado mostrou-se otimista: “A solução não passa por pessimismos antidemocráticos, por populismos antieuropeus, por tentações de culpabilização constitucional”. “Unamo-nos no essencial”. Nesta linha de ideias, afirmou que se verifica um “larguíssimo acordo” entre os portugueses no que diz respeito aos “objetivos universais” conquistados. Marcelo Rebelo de Sousa fez um apelo às forças políticas para trocarem “as emoções pelo bom senso” em nome do que é “bom para Portugal”.
O tempo não muda todas as convicções, mas “pode trazer soluções”. Numa Assembleia da República em que se encontra uma maioria de esquerda e uma oposição de direita, é essencial, de acordo com o Chefe de Estado, chegar a consensos: “O pluralismo político não impede consensos setoriais de regime. Portugal não pode continuar a viver permanentemente em campanha eleitoral”. É preciso adquirir estabilidade, é “um sinal de pacificação”.
Para terminar, porque sem as pessoas nada seria possível, o Presidente da República elogiou os portugueses: “O povo é a verdadeira origem do poder, preservando sempre a unidade no essencial a pensar em Portugal”.
Artigo editado por Filipa Silva