O Bosque do Choupal recebeu a quarta edição do Indie Music Fest. Centenas de festivaleiros serviram de audiência para nomes 100% portugueses como The Walks, Whales, Paus, You Can’t Win, Charlie Brown e Salto.
Quinta-feira, 1 de setembro, hora de almoço. O mostrador do comboio da CP anunciava 35 graus no exterior. Na estação de Paredes, amontoavam-se festivaleiros à espera do “transfer” que os levaria ao prometido “bosque mágico”. Pela quarta vez, o Bosque do Choupal, em Baltar, recebeu o Indie Music Fest. Três dias, quatro palcos e 31 concertos.
No primeiro dia, pelas 16h00, ainda chegavam campistas e davam-se os últimos retoques no recinto. O dia começou quente e prometia manter-se assim com nomes como The Walks, Whales e GoBabyGo.
O concerto de abertura pertencia aos Fora de Cena, mas o sistema de som não colaborou e esse papel acabou por ser entregue aos 800 Gondomar. Como o nome indica, chegaram de Gondomar, “tiveram a ideia da banda no nono ano” – leia-se por volta de 2011 – e começaram a correr festivais há menos de um ano.
Já contam uma dezena de paragens: “Vamos ao Reverence, viemos aqui ao Indie. Fomos ao Rodelos e, no inverno, temos sempre o Barreiro Rocks”, contaram ao JPN. Pela primeira vez no Indie Music Fest para a maioria dos membros, as expectativas não corriam demasiado altas mas “tinham ouvido falar muito do festival e achavam que ia ser fixe”.
Abriram o Indie com o seu punk pesadão mas que caiu bem nos ouvidos dos festivaleiros que começaram a noite com uma boa dose de “headbanging”.
Com os problemas técnicos resolvidos, o sol pôs-se ao som dos Fora de Cena. Vencedores do concurso Acorda Banda – promovido pelas Associações de Estudantes da FBAUP, da FAUP, da ESMAE e do Núcleo de Estudantes de Biologia da Universidade do Porto (NEBUP) – tiveram como prémio atuar no Indie.
Com bom humor e uma energia que contrastou como de água para o vinho com a dos 800 Gondomar, trouxeram ao Indie o concerto mais sereno do primeiro dia. A atuação ainda deu direito a brincar com os problemas iniciais: “Esta música é particularmente irónica, ‘Better Not Stop’, tendo em conta que é a quarta vez que estamos a começar”.
O rock n’ roll dos The Walks – que eram cabeça de cartaz – conquistou os “indies” e fez o “highlight” da noite que ficou marcada por um som pesado. Marcaram pela forma de estar em palco e pela boa energia que se fez sentir durante todo o concerto.
A noite teve ainda espaço para o “primeiro concerto de sempre” dos Pinturas Negras, o rock electrónico dos Whales e o bom humor dos GoBabyGo.
Pode um concerto ser um segredo?
O segundo dia ergueu-se depois de uma noite de festa que os campistas fizeram questão de fazer durar até haver sol. A expectativa estava mais elevada, houve quem dissesse que o alinhamento prometia mais. Com quase o dobro dos nomes, em relação ao primeiro dia, entre os quais Alek Rein, Galgo e os muito aguardados Paus.
Os primeiros acordes deram-se no concerto secreto. Longe dos olhos da maioria dos indies, os We Find You abriram o segundo dia do IMF num concerto acústico e intimista. A audiência era pequena mas participativa e, naquela praça de Paredes, a música fez-se em conjunto: com artistas e festivaleiros. Em jeito de conversa, os We Find You aproveitaram para anunciar que vão estar dia 11 de setembro no Palácio de Cristal, a atuar na Feira do Livro do Porto.
No Bosque do Choupal, o dia começou ligeiramente mais tarde pelas mãos de Desligado. Um homem e uma guitarra, à sombra das árvores, num registo relaxante que encaixou perfeitamente num início de tarde. Seguiram-se Chibazqui, no palco Cisma, e depois o palco Antena 3 voltou a encher para O Bom, o Mau e o Azevedo.
A banda foi montada “relativamente rápido, no espaço de um ano”, como explicaram ao JPN, e o nome surgiu na pressão de ter o que escrever no cartaz das Lazy Sessions, no Porto, onde iriam atuar pela primeira vez. Nasceu “daquele ‘brainstorm’ clássico de banda, de uma data de nomes que fomos atirando – ainda tenho esse papel -, nomes tão idiotas como Los não sei quê… Acho que até foi o Rajada que disse: ‘e o Bom, o Mau e o Azevedo?’, grizada total. Pronto, ficou”.
Embora “tivesse receio de não estar tanta gente por ser à tarde”, a banda viu-se frente a frente com um bom público “festivaleiros e tudo, ali à frente a pedir finos”. Marcaram pela energia, pela boa disposição constante e pela interação exemplar com o público.
Coube aos Basset Hounds inaugurar o palco principal do Indie Music Fest. Trouxeram consigo o seu mais recente single “Bossa”. “Esta é mais calminha, se estiverem a planear um engate este é o momento certo para meterem aquele braço sensual”, disseram ao público. Mais tarde a audiência no palco principal voltou a apresentar-se muito bem composta para Alek Rein e ainda mais para Galgo que arrancou do público palmas, assobios e “headbanging”.
O melhor e mais aguardado estava ainda para vir. À uma da manhã, os Paus subiram ao palco principal para a maior enchente da noite. O público estava ao rubro e não os deixou cantar sozinhos, entre vários episódios de “crowdsurfing” e braços no ar as vozes acompanharam em coro as dos Paus. De entre as centenas no público, a banda destacou um na fila da frente: “A partir de hoje és o Perna de Paus. Esta é para ti, Perna de Paus!”.
You Can’t Win, Charlie Brown revelaram novos temas
O terceiro e último dia levantou-se cheio de promessa. Houve quem dissesse que a organização tinha “condensado os melhores nomes no último dia”. Esperavam-se Ganso, Savanna, You Can’t Win, Charlie Brown, Salto.
À semelhança do dia anterior, o primeiro concerto não estava no cartaz. O Parque Natural da Senhora do Salto foi o palco perfeito para o concerto secreto dos Fugly. Entre montanhas, “mostrou um bocadinho” do que se iria passar à meia-noite, no palco Cisma. Sem a bateria, o concerto fez-se com uma guitarra acústica, uma elétrica, um baixo e voz num registo que se mostrou consideravelmente mais “chill” que o que se ouviu ao final da noite.
Já no Bosque do Choupal, o concerto dos Ganso teve direito a bolas de praia, uma máscara de elefante e uma audiência que fez de coro. O sol pôs-se com os Savanna que entre o dream pop e o rock psicadélico reuniram os indies em frente ao palco principal e aproveitaram para se despedir do seu baterista, que fez o seu último concerto com a banda ali mesmo.
Os You Can’t Win, Charlie Brown eram um dos nomes mais esperados do cartaz. Pela primeira vez no Indie, vieram “desvendar um bocadinho do que aí vem”, com três temas do seu novo trabalho que “são mais fáceis de consumir, principalmente em concerto, porque levam para dança”, observaram. A resposta do público esteve de acordo com a expetativa.
Os Salto voltaram a trazer o “crowdsurfing” ao palco principal do Indie, com uma energia contagiante e um público que sabia as letras de cor e que não parou durante todo o concerto.
A noite fechou com Octa Push e Pista, que encerraram a quarta edição do Indie Music Fest. A organização prometeu voltar para o ano sempre com a intenção de “servir de montra para o que se faz de bom em Portugal”.
Artigo revisto por Filipa Silva