Francisco Sena Santos é do tempo em que “não havia sequer cursos de jornalismo”. Estudou medicina, mas a paixão pela rádio falou mais alto. Esta sexta-feira, vai estar no JPN como editor por um dia.
Iniciou-se na Record, em 1973, e pertenceu à equipa fundadora da TSF. Foi editor das manhãs tanto da TSF como da Antena 1 e em ambas fez noticiários a partir do exterior e emissões especiais, como são exemplo, a entrada de Portugal na CEE e a entrega do Nobel a Saramago.
Atualmente, é professor de rádio na Escola Superior de Comunicação Social (ESCS), em Lisboa, e não esconde o entusiasmo em trabalhar com os mais novos: “A experiência que vou tendo é de que sucessivas gerações vão sendo cada vez mais interessantes, entenda-se, mais exigentes. E apesar da paisagem instalada não ser a mais estimulante, quem está nas universidades, nas escolas de jornalismo, mostra uma capacidade crítica que me parece notável e que me faz apetecer imenso trabalhar com essas pessoas”.
As diferenças que encontra entre a geração que encontrou quando se iniciou na profissão e a que entra, agora, no mercado do trabalho são “múltiplas”, diz o jornalista: “Vivi um tempo em que cada pessoa tinha a sua função, até de forma exagerada. Tudo era emprateleirado, tudo era metido numa gaveta”.
Agora o panorama é bem diferente: “Já não há uma separação entre jornalista e técnico, todos são tudo. Hoje um jornalista deve ser multiplataforma. E isso tem gerado choques nas redações, choques entre gerações”.
“É preciso discutir, discutir, discutir”
Sena Santos é bem claro ao expressar o que pensa de “laboratórios de jornalismo” como o JPN: “É semear o futuro. Eu acompanho há vários anos a experiência do JPN e é assim que se adquirem competências. No Congresso do Jornalistas, [em que esteve presente como coordenador geral da redação multiplataforma] senti a capacidade das pessoas que têm o treino de uma redação assim. É decisivo. O ensino do jornalismo precisa, cada vez mais, de recriar as condições de funcionamento de uma redação”.
É essencial “haver conferências de redação, discutir as agendas e fazer conferências críticas onde se discute aquilo que se fez”, afirma.
Sobre os assuntos que vai trazer para a redação, o radialista não levanta o véu: “Quero ouvir o que é que as pessoas do JPN propõem para discussão e eu terei outras ideias – quem sabe se elas não vão ser absorvidas ou até superadas pelas vossas propostas. Mas quero, primeiro, ouvir-vos”.
Artigo editado por Rita Neves Costa