O futuro do projeto europeu esteve no centro do discurso com que Sergio Mattarella, chefe de Estado de Itália, brindou a assistência na cerimónia de doutoramento honoris causa que lhe foi dedicada na manhã desta quinta-feira, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto.

O Presidente da República de Itália, agraciado por proposta do reitor Sebastião Feyo de Azevedo, depois de agradecer a presença do homólogo e também ele doutor honoris causa da UP, Marcelo Rebelo de Sousa, fez um discurso virado para os jovens, a importância da formação e do conhecimento e da integração europeia.

Nessa medida, prestou homenagem ao programa Erasmus que celebra este ano 30 anos. Trata-se, nas suas palavras, de “um dos maiores sucessos da nossa União”.

“Não se presta a devida atenção ao papel que o programa Erasmus teve e tem no reforço do sentimento de pertença das novas gerações ao projeto europeu”, disse.

Marcelo, o Reitor, Isabel Pires de Lima e Sergio Mattarella. Foto: Carolina Marques

Compreensão recíproca e comunhão de valores são aspetos determinantes sobretudo num mercado de emprego cada vez mais europeu, como frisou o governante.

“O Erasmus e os Erasmus, como começamos a chamar-lhes, são os autênticos protagonistas de uma Europa 2.0”, declarou o chefe de Estado que foi cumprimentado à chegada e à saída por vários estudantes Erasmus italianos a fazer o programa na UP.

O programa que ajudou os jovens a ter por “estranha a conceção de uma Europa dividida por limites rígidos e barreiras aduaneiras”, parece assim um oásis no projeto de integração europeu.

Para esse projeto, o presidente italiano considera que foi dado um contributo importante e recente, em Gotemburgo, com a aprovação do Pilar Europeu dos Direitos Sociais. “A razão de ser da Europa são os seus cidadãos”, enfatizou.

Considerou também “encorajadora” as recomendações saídas de Gotemburgo no sentido da União renovar a sua atenção sobre “a formação, a cultura e a política a favor dos jovens” e apelidou de “irrenunciável” o ambicioso projeto de construção de um Espaço Europeu de Cultura e da Educação em 2025.

“Hoje, como no passado, a Europa deve poder olhar com otimismo os fenómenos que tem pela frente, a globalização, a revolução digital e aquela muito próxima da Inteligência Artificial com o objetivo de poder dirigi-los”, concluiu.

Para isso, o trabalho em rede das universidades, a mobilidade dos jovens, a integração europeia em matérias como investigação, aprendizagem e formação são apontadas como fundamentais.

Sergio Matarella, 76 anos, diplomado em Direito pela Universidade de Roma La Sapienza, antigo ministro da Educação, Assuntos Parlamentares e Defesa e, desde janeiro de 2015, Presidente da República de Itália, tornou-se esta quinta-feira o 96º doutor honoris causa da UP.

Isabel Pires de Lima, também ela antiga ministra, professora Emérita da UP, a quem coube o elogio do doutorando, sublinhou o “perfil humanista” de Mattarella e a sua preocupação com a educação, o ensino e a paz.

As relações entre Portugal e Itália também não foram esquecidas: “No quadro democrático europeísta de hoje e na comum condição de países do Sul renovam-se boas condições para uma fase intensa de interlocução entre Portugal e Itália, na qual Sérgio Mattarella e o seu padrinho neste Doutoramento, Marcelo Rebelo de Sousa, são agentes empenhados”.