Num parecer que data de abril e a que o Público teve acesso, o Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios, Icomos, recomenda que a organização não aceite o projeto para a ala sul da estação de São Bento “na sua forma atual”. O parecer requer um plano global para a estação ferroviária e critica a supressão do estacionamento.
A proposta da Time Out, projetada pelo arquiteto Eduardo Souto de Moura, necessita de autorização por parte da entidade, uma vez que o espaço se encontra inserido numa área classificada como património mundial. O Icomos é uma organização não governamental fundada em 1965 em Varsóvia, que aconselha a UNESCO nas deliberações relacionadas com esta temática.
Segundo o parecer da organização, a obra não deve ser levada a cabo sem antes se realizar um estudo global para toda a estação nem deve interferir com os lugares de estacionamento existentes a sul do edifício.
Obra não deve “pôr em causa os lugares de estacionamento de que a gare necessita”
“A mudança de usos da ala sul da Gare de São Bento não pode ser avaliada à margem de um plano geral de conjunto. É essencial salvaguardar a função da estação para conservar o bem. Estando a função de origem assegurada, os outros espaços podem (e devem) ser reabilitados para funções socialmente úteis (e isso inclui os restaurantes para uso pelos viajantes)”, pode ler-se no primeiro parágrafo do parecer do Icomos face ao plano.
No entanto, a avaliação salienta que “a nova obra [uma torre panorâmica com vista para os clérigos] e outros equipamentos exteriores não devem pôr em causa os lugares de estacionamento de que a gare necessita”. Para o Icomos, o estacionamento é uma questão fulcral, tendo em conta o serviço de passageiros, funcionários e de transportes públicos no local.
“Um estudo de conjunto, que definisse os acessos, a circulação de veículos, as zonas de estacionamento e os lugares previstos” para cada um dos usos dos espaços da estação “seria útil”, lê-se no parecer.
A entidade acrescentou que não viu no projeto nenhum espaço dedicado à cultura
Além disso, a organização com sede em Paris considera que a proposta para os edifícios da ala sul “modifica completamente a tipologia e os volumes exteriores, altera a leveza da estrutura metálica e a forma e o ritmo dos vãos”. Relativamente ao esforço na maximização da ocupação do espaço indicado na proposta, o Icomos declara que “supõe igualmente uma demolição que poderá ser qualificada como excessiva”.
Quanto à torre de 21 metros projetada por Souto de Moura, o organismo não vê qualquer entrave na sua construção, já que “não terá um impacto visual na envolvente”.
A entidade acrescentou ainda que não viu no projeto nenhum espaço dedicado à cultura, como mencionava o documento entregue pela Time Out. Nota ainda que a ala noroeste do edifício principal da estação, onde existe o The Passenger Hostel, foi esquecida.
A Time Out encontra-se ainda à espera da aprovação da UNESCO para avançar com o projeto.
Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro