Lê-se “vê”, nasceu a 23 de maio e é a nova aposta da Global Media Group, que detém órgãos de comunicação como o “Jornal de Notícias” (JN), o “Diário de Notícias” (DN), “O Jogo” e a TSF. Coloca-se no mundo digital, quando o consumo do jornalismo de papel está a decrescer cada vez mais, e aposta numa forte componente multimédia. Do V podemos esperar vídeos (muitos vídeos), fotogalerias, podcasts e, claro, o texto, que nunca é esquecido.

Não quer ser um site noticioso de uma geração: quer ser para todos aqueles que utilizam as redes. E isto vai desde “o senhor reformado que descobriu o facebook” até “aos jovens de 12 e 13 anos que têm telemóvel”, conta o diretor do V, David Pontes, ao JPN, na redação do Porto do projeto. E isto tudo para tentar preencher uma lacuna que existe em Portugal.

“Nos Estados Unidos, ou no universo anglo-saxónico, há marcas que todos nós admiramos e que gostaríamos de replicar, como a Vox e o Buzzfeed”, explica o também diretor da Global Media Play, os estúdios de vídeo do grupo. “[Mas] uma coisa é funcionares a partir de Nova Iorque para a América e outra é trabalhares a partir de Portugal, com a língua que tens, para 10 milhões de pessoas”, finaliza. E por isso não há um público com faixa etária definida. “Nós estamos direcionados para o público que consome em digital e que está nas redes sociais”, explica David Pontes.

“A maneira como vemos televisão ou imagem em movimento está a alterar-se, da mesma forma que se alterou a maneira como consumimos notícias”, salienta. E por isso, agora, as pessoas procuram referências de forma a “olhar para alguma coisa e saber que aquilo é credível – algo que o V quer fazer: dar credibilidade como marca de informação, feita por jornalistas, apesar de serem utilizadas ferramentas direcionadas para as redes sociais. Porquê? Porque é agora que lá se consome a maior parte dos conteúdos. “E isso tem regras”, relembra o jornalista.

David Pontes, na redação do V, no Porto FOTO: Miguel Ângelo Afonso

“Os vídeos têm que ser curtos, porque não queremos gastar dados ou porque estamos em andamento e não podemos perder muito tempo, têm que ser legendados, porque muitas vezes estamos em sítios em que não podemos ouvir o som e temos que olhar para aquilo e ver se o assunto nos interessa ou não, por exemplo”. E a lista vai-se prolongando. Sim, no gerúndio, uma vez que o V (ainda) é um laboratório experimental, onde se ensaiam as melhores técnicas e onde se ousa errar com vista a atingir a melhor forma de comunicação com o público.

“Estamos num mercado em que temos de disputar a atenção das pessoas”, refere David Pontes. Mas isso poderá não ser muito difícil para o V. Consciente de que “as pessoas querem aderir e querem ver representadas determinadas preocupações [comuns]”, sem que os media sejam “tão frios, como até agora”, o diretor do novo projeto editorial pretende que o V seja cúmplice do seu público e que, dessa forma, atinja alguma proximidade com a população. “Vai haver assuntos e causas que são transversais e importantes à sociedade sobre as quais nos temos de debruçar: o aquecimento global, as questões de género, as questões de desequilíbrio naquilo que é mais gritante em termos de diferenças, a questão do envelhecimento, as questões das nossas cidades e a maneira como, cada vez mais, vamos viver num ambiente urbano…” E a lista alonga-se.

Porque mais do que um simples telespectador, o V quer ser um ator, “no sentido em que traz para cima da mesa temas importantes” sobre os quais se espera haver resposta. “Não é muito ortodoxo do ponto de vista do jornalismo que, durante muitos anos, se pautou pela grande bandeira da imparcialidade quase laboratorial”, reconhece David Pontes, “[mas] não acredito nisso”. “Acho que prefiro mil vezes que se assumam determinadas causas e preocupações que nós sentimos que são transversais na sociedade; sobre as quais achamos que nós e os cidadãos deverão ter uma posição”, sublinha o diretor do V. “E Portugal tem um grande défice de participação civil nos assuntos que nos dizem respeito”, conclui.

Para além de jornalistas, a redação é composta por produtores e profissionais de vídeo FOTO: Miguel Ângelo Afonso

Mas nem só disto se faz o V. Para além de notícias há ainda espaço para podcasts e uma secção de lifestyle, algo que “os jornais sempre tiveram”. “Se formos buscar um jornal de há 30 anos, em muitos casos, está lá o folhetim, os passatempos, os horóscopos, os restaurantes, e nós procurámos trazer isso para outros formatos e acrescentar coisas que o nosso grupo não tinha”, refere David Pontes. E por isso esperam trabalhar com produtoras e já começaram mesmo a preparar produções humorísticas com autores – “que não pertencem ao nosso universo, mas que tentamos trazer para este lado”.

Novidades editoriais em 2018

Dia 15 de maio foi lançado, pela primeira vez, o jornal mensal “DIA 15”, um jornal generalista em papel.

A MadMen, empresa que detém a New in Town (NiT), prepara-se para lançar uma rádio de lifestyle com uma produção noticiosa 24 horas, 7 dias por semana.Vai-se chamar NiTfm e vai para o ar ainda este mês de maio, no endereço já disponibilizado nitfm.pt

A partir de 17 de junho, o Diário de Notícias passa a semanário. O nome, contudo, vai permanecer.

Com a ideia de que existe uma fragmentação na maneira como o público consome vídeo (ou “imagem em movimento”, como David Pontes também lhe chama), o V quer “apanhar o barco” para entrar no mundo digital. E isso começou logo a ser feito, desde a criação da app (já disponível para Android e iOS) que chegou em primeiro lugar que a versão web — uma vez que a equipa por de trás do V tem noção “de que as pessoas consomem prioritariamente em plataformas móveis”, algo que se reflete, também, na forma como se colocam os conteúdos na plataforma móvel.

O vídeo como elo de ligação

Como diretor (também) da Media Play, David Pontes refere ao JPN que o V veio preencher uma lacuna que nos outros grupos de media em Portugal não existe: a televisão — ou, no caso da Global Media, a falta dela. “E, por isso, esta estrutura nasce também para trabalhar áreas, nomeadamente comerciais, na parte do vídeo, para o ajudar a crescer dentro do grupo nas suas diferentes marcas”. Sim, isso mesmo. O V, para além de produzir conteúdo multimédia para a sua plataforma, vai também produzir para marcas do seu grupo, como o “JN”, o “DN”, a “TSF”, “O Jogo” ou ainda para o “Motor 24”.

Não que não existisse já vídeo nestes órgãos de comunicação social, mas David Pontes refere que, na maior parte dos casos, “as marcas, nomeadamente escritas, aquilo que fizeram foi adaptar ou encontrar pessoas que fizessem um bocadinho o caminho de curiosos dentro da área do vídeo”. Algo não profissional, portanto. Mas agora, querendo apostar neste âmbito, o caso muda de figura.

O V marca-se por uma grande componente multimédia FOTO: Miguel Ângelo Afonso

Para além de jornalistas, a equipa do V é composta por outros elementos não muito habituais numa redação. Divididos entre Porto e Lisboa, tendo a capital um número maior de profissionais, quem trabalha no V chegou dos mais variados meios de comunicação social, como a Renascença, a SIC e a Bola TV, por exemplo, mas também há membros de produção de vídeo — uma adição à equipa que é fulcral nesta recém redação. “Aquilo que estamos a tentar fazer é ir buscar pessoas que já são editores de vídeo e que já trabalharam em produtoras ou televisões, de forma a qualificar a nossa oferta nessa área”, sublinha David Pontes.

Porque, até agora, um jornalista filmava e montava a sua própria peça. “[Mas] nós agora, aqui, já temos pessoas que estão só a montar peças e pessoas que estao só a captar vídeo; e depois há aqueles que estão a fazer tudo e a juntar estes dois mundos”, explica. E os fotógrafos da Global Imagens, a agência interna de fotografia do grupo, também tanto filmam como fotografam – um sinal tanto dos tempos como das suas mudanças.

“Eu acho que o futuro do V está em crescer, nomeadamente, no tipo de parceiros externos que vai integrar”, refere David Pontes ao JPN, sem adiantar pormenores. “Imagino que lá para setembro ou outubro (…) tenhamos outro fôlego, com novas parcerias e com caras mais conhecidas e acho que aos poucos as pessoas vão começar a perceber da fiabilidade da marca, da nossa capacidade para surpreender e imagino que neste mundo, mais ou menos fluído, no caso dos media, não estejamos limitados ao desktop e ao telemóvel e que possamos estar, também, nas televisões de uma forma ou outra, ajudando o grupo de forma a fazer essa passagem”, conclui.

Artigo editado por Filipa Silva