Numa reunião extraordinária que aconteceu na segunda-feira, o Executivo da Câmara Municipal de Matosinhos (CMM) aprovou uma moção na qual defende que a obra de ampliação do Porto de Leixões não deve ser entregue enquanto a autarquia não conhecer o projeto global e uma avaliação do impacto ambiental da intervenção.

Segundo o documento aprovado pelo Executivo, “a Câmara Municipal de Matosinhos não pode prescindir de conhecer o projeto global de todos os investimentos, nomeadamente a localização da área a contentorizar, que justifica o conjunto de investimentos previstos”. O novo Terminal de Contentores do Porto de Leixões irá ter, de acordo com o Executivo da CMM, uma “área estimada de 25 hectares“, com uma capacidade máxima para cerca de 750 mil contentores por ano, não sendo conhecida uma Análise de Impacto Ambiental, que a autarquia reclama.

No documento, é apresentado um conjunto de condições que devem ser seguidas antes, durante e após as obras no Porto de Leixões. Entre os requisitos consta “um plano de monitorização físico-químico na baía da praia de Matosinhos”, uma lista de “medidas necessárias para garantir que os níveis de qualidade da água não afetam a prática balnear e atividades a si associadas” e uma “demonstração de que o investimento não coloca em causa a relevância do porto de pesca” de Matosinhos.

Mas a obra já começa a sair do papel. A 22 de fevereiro, a Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL) abriu o concurso público para as obras de prolongamento do quebra-mar, aprofundamento do canal de acesso, do anteporto e da bacia de rotação do porto.

Surfistas alertam para aumento da poluição

Para Frederico Brito, técnico de surf e dono de uma escola em Matosinhos, “o projeto está feito e vai avançar”. “Não temos hipótese nenhuma de contrariar um investimento que vai trazer para os cofres do estado mil milhões de euros”, observa.

Ainda assim, o surfista admite que a comunidade não vai baixar os braços, porque “é preciso alertar a população” sobre as consequências que as obras vão trazer à zona. Além da redução da ondulação que vai afetar a prática de surf na praia de Matosinhos, Frederico Brito fala de problemas ecológicos decorrentes da falta de circulação e oxigenação na praia. “Não vai entrar ondulação do quadrante noroeste, que são as ondas mais frequentes e fazem a limpeza e oxigenação da água”, alerta o surfista.

Frederico Brito considera que a ideia de fazer a obra para só depois avaliar as consequências é “prematura” e que todas as reuniões tidas com a APDL e a CMM não asseguraram “de maneira nenhuma” a proteção das escolas nem dos praticantes de desportos aquáticos, bem como dos utilizadores das praias em questão.

Para Carlos Coelho, professor auxiliar do Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro, com o prolongamento do molhe vai haver uma “interferência com a dinâmica sedimentar”, o que vai causar tanto uma “deposição de sedimentos do lado norte do porto” como “uma situação de défice sedimentar a sul“.

O prolongamento do quebra-mar do Porto de Leixões vai fazer com que “algumas águas fiquem mais calmas naquela zona“, o que se traduzirá numa menor “capacidade de suporte, nomeadamente da poluição”.

Artigo editado por Filipa Silva