Da Liga de Clubes à FIFA, da Federação Portuguesa de Futebol à CGTP, do Presidente da República ao primeiro-ministro, foram às centenas as reações de repúdio aos insultos de cariz racista de que Moussa Marega foi alvo, este domingo, em Guimarães, no encontro entre o Vitória e o FC Porto.
O camisa 11 dos dragões, autor do golo que deu a vitória ao FC Porto, decidiu abandonar o jogo, expressando revolta pelo que ia ouvindo das bancadas do Estádio D. Afonso Henriques, onde já defendeu as cores do Vitória.
Depois do jogo, Marega manifestou-se nas redes sociais onde condenou a atitude dos adeptos e deixou um recado ao árbitro da partida, Luís Goudinho: “Espero nunca mais encontrá-lo num campo de futebol! VOCÊ É UMA VERGONHA!!!!”, lê-se na página Instagram do jogador.
O presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF), Luciano Gonçalves, declarou ao JPN, que a APAF não se revê e que “repudia” os comportamentos registados no terreno vimaranense . No entanto, acrescenta não terem “mais nada a dizer sobre o tema”.
O JPN contactou o Sindicato dos Jogadores, mas sem sucesso, até à hora de publicação deste artigo. Mas ao final da tarde de segunda-feira, a entidade, presidida por Joaquim Evangelista, emitiu um comunicado no qual exprime total solidariedade com Moussa Marega e reconhece que o avançado teve um ato de coragem perante os insultos de que foi alvo.
O organismo afirma que condena este episódio “lamentável” e que as autoridades não podem “pactuar em silêncio” nem mesmo deixar impunes os culpados, “colocando em prática todos os meios disponíveis para a identificação dos autores”, lê-se na página da entidade.
O presidente Marcelo Rebelo de Sousa, assim como o primeiro-ministro, António Costa, também já reagiram a esta situação. Ambos condenam os insultos racistas e Marcelo Rebelo de Sousa recorda que todo o ato de discriminação, xenofobia e racismo deve ser alvo de condenação.
António Costa manifestou-se no Twitter onde afirmou uma “total solidariedade” com o “grande cidadão” que é Marega. “Nenhum ser humano deve ser sujeito a esta humilhação. Condeno todos e quaisquer atos de racismo, em quaisquer circunstâncias”, escreveu o primeiro-ministro.
A Liga de Clubes emitiu também um comunicado, no dia do jogo, a condenar os atos racistas de que Marega foi alvo durante o jogo. O órgão afirma que “a Liga Portugal tudo fará para que este, e todos os episódios de racismo, não fiquem impunes” e acrescenta ainda que esta é “uma luta sem cores”.
O jornal “Público” avança esta segunda-feira que o Ministério Público vai investigar este episódio de racismo para com o jogador do FC Porto. É ainda noticiado que o inquérito já se encontra a decorrer no Departamento de Investigação e Ação Penal de Guimarães.
Outros casos de racismo no futebol
Moussa Marega não foi o primeiro a vivenciar racismo dentro das quatro linhas.
Jogadores como Balotelli, Dani Alves, Benjamin Mendy e Taison são alguns dos exemplos que estiveram envolvidos em episódios racistas.
Em Itália, o caso mais conhecido é o de Balotelli. O jogador italiano de origem ganesa já foi vítima de vários episódios racistas devido à cor da sua pele. O episódio mais recente aconteceu num jogo disputado entre o Hellas Verona e o Brescia, clube defendido pelo internacional italiano, em novembro de 2019.
Mas Balotelli não é o único em na liga Itália a queixar-se deste tipo de acontecimentos. Jogadores como Romelu Lukaku, Franck Kessie, Dalbert Henrique, Miralem Pjanic, Ronaldo Vieira, Kalidou Koulibaly também têm sido visados com cânticos racistas.
Em dezembro, a liga Italiana comprometeu-se a identificar os autores de tais atos e de bani-los dos estádios.
No caso de Benjamin Mendy foi um tweet de Bernado Silva a ser considerado inapropriado pela federação inglesa (e não pelo amigo francês). O internacional português foi condenado pela entidade por conduta imprópria e ofensiva, assim como à suspensão de um jogo e a uma multa de 50 mil libras – aproximadamente 58 mil euros.
Também o avançado brasileiro Taison foi castigado depois de reagir aos cânticos racistas que lhe foram dirigidos durante um jogo frente ao Dínamo Kiev, a 10 de novembro. A Associação Ucraniana de Futebol puniu o jogador com um jogo de castigo, depois de Taison ter reagido com gestos obscenos e pontapeado a bola em direção à bancada dos adeptos adversários por receber insultos racistas. O jogador chegou a ser expulso do jogo, saindo em lágrimas do campo. O Dínamo Kiev não saiu impune, sendo sancionado a um jogo à porta fechada e uma multa de quase 19.000 euros.
Ao nível de seleções, a Sérvia foi também condenada por manifestações racistas na derrota contra Portugal num jogo de qualificação para o Euro de 2020. A seleção sérvia foi castigada com um jogo à porta fechada, e a liquidar uma multa de 33.250 euros pela UEFA.
Em outubro de 2019, ficou também conhecido o caso da norte-americana Shade Pratt. A jogadora revelou ter sido vítima de insultos racistas durante um jogo da primeira liga de futebol feminino. A futebolista declarou ter sido alvo de racismo por parte de uma adepta da equipa adversaria. O Sporting de Braga, clube representado por Pratt desde 2019, adiantou ainda que foi feita uma participação disciplinar à Federação Portuguesa de Futebol.
Artigo ediatdo por Filipa Silva