Não é todos os dias – talvez seja mesmo inédito – que se festejam “8 anos e meio de carreira” e David Bruno não quis deixar passar a data em claro. A iniciativa não lhe podia ter corrido melhor. A 15 de dezembro, mesmo perante a situação pandémica em que vivemos, o artista conseguiu encher a lotação disponível da sala principal da Casa da Música, a sala Suggia, num concerto de caráter informal e intimista, com o indispensável toque de humor, que já se tornou uma imagem de marca do artista de Gaia.

A abrir, David Bruno (DB) confessou que já não esperava cantar ao vivo este ano. O certo é que acabou 2020 a pisar dois grands palcos: o da Casa da Música e o do Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, quatro dias antes do concerto no Porto. O ano pode ter sido mau para a maioria. Não para DB.

A justificar a sua perspetiva está, por exemplo, o facto de ter recebido a medalha de mérito cultural e recreativo da União de Freguesias de Mafamude e Vilar do Paraíso. Medalha essa que usou pendurada ao pescoço durante quase todo o evento – a meio decidiu tirar; o peso da responsabilidade tem os seus limites.

Sobre a paixão por Mafamude, não estavamos ainda conversados – não lhe tivesse DB dedicado um álbum inteiro, com “O Último Tango em Mafamude” – porque há coisas que ele nunca se esquece, como a admiração pelo dono e pelo restaurante Carpa. Acrescentou ainda, a propósito, que videoclipe da música “Mesa Para Dois no Carpa” ganhou o prémio na competição de vídeos musicais na 27ª edição do Festival Curtas Vila do Conde.

Sem deixar o domínio da restauração, o concerto começou com “Café Central”, um tema do seu mais recente álbum, lançado em 2020, “Raiashopping”.

Durante o concerto, o artista fez-se acompanhar dos seus fiéis companheiros: António Bandeiras [alter-ego de Renato Cruz Santos], um “dançarino e performer”, que fez um pequeno DJ Set antes do início do espetáculo e Marco Duarte, guitarrista com uma energia frenética. Ainda teve como convidado especial Mike El Nite (sem o KITT) para interpretar o tema que têm em conjunto, “Interveniente Acidental”.

Do alinhamento da noite fizeram ainda parte alguns dos seus maiores hits como “Bebe e Dorme”, “Com Contribuinte” e a “Festa de Espuma”, na qual recordou as idas às discotecas e a festas temáticas, durante as quais, recorda, tostas mistas coberto de espuma.

DB surpreendeu ainda o público com a apresentação de “Lamborguini na roulotte”, um tema exclusivo para concertos ao vivo.

A viagem discográfica que se ouviu levou o público simultaneamente por uma viagem geográfica, quase etnográfica, por lugares a que DB tem uma forte ligação, de Salamanca a Vila Nova de Gaia e, dentro desta, a Miramar, Mafamude, Arcozelo.

David Bruno teve ainda oportunidade de explicar aos seus fãs que este concerto era de grande importância, porque tanto o patrão como os sogros estavam a assistir. Com a graça e a humildade que lhe assiste, o músico pediu ao público que lhes dedicasse uma salva de palmas. Ao longo do concerto pediu o mesmo para “quem passa recibos verdes”, para o já famoso Adriano Malheiro Caloteiro, para os refrigerantes Gruta da Lomba e ainda para o “Dorinho”, um rapaz da sua infância que o ensinou a “defender-se e a dar porrada”.

Quase no final do espetáculo, numa viagem ao passado, ressuscitou o primeiro álbum, 4400 OG, lançado em 2016, e recordou tempos em que era mais jovem (quando se alimentava muitas vezes de fast food) para cantar “#150mL”.

Já depois de ter saído do palco, voltou para tocar mais dois temas. Um deles foi “Flan Chino Mandarim”, acompanhado de um pedido: “Quando eu morrer quero que toquem no meu funeral ‘Flan Chino Mandarim’”. Longa vida a DB!

Artigo editado por Filipa Silva