“Se me perguntassem quais foram os cinco dias mais bonitos da minha vida, aquele com as esculturas de Giacometti seria certamente um dos primeiros três”. Foi assim que Peter Lindbergh (1944-2019) descreveu o dia em que foi convidado a fotografar o espólio de Alberto Giacometti, na fundação do artista, em Paris.

O Museu da Misericórdia do Porto (MMIPO), que reabre esta quinta-feira (15), vai ser agora a nova casa da exposição que junta as esculturas e desenhos de Alberto Giacometti (1901-1966) com as fotografias de Peter Lindbergh. É a primeira vez que esta exposição – “Alberto Giacometti – Peter Lindbergh. Capturar o Invisível” – sai do Instituto Giacometti, em Paris.

Trata-se de um diálogo íntimo entre a obra de Alberto Giacometti, um dos mais aclamados escultores do século XX, e a fotografia de Peter Lindbergh – dois artistas cujo ponto de encontro dos seus trabalhos era o olhar, como explica Serena Bucalo-Mussely, da Fundação Giacometti.

Serena Bucalo-Mussely, curadora da Fundação Giacometti Foto: Francisca Gomes

Em conversa com o JPN, a curadora clarifica que a exposição vem ajudar a explicar “a relação e estas similaridades dos dois artistas”, assim como “dar a conhecer um bocado das suas histórias”. A representante da Fundação do escultor, Serena Bucalo-Mussely, diz ser possível “acompanhar a evolução da sua arte” e realça a presença de “temáticas importantes como o interesse pela liberdade, pela realidade, a homossexualidade e a figura masculina”.

São mais de 110 as obras expostas nos dois andares do MMIPO, incluindo esculturas em bronze e desenhos de Giacometti, bem como fotografias de Peter Lindbergh da coleção e outras muito conhecidas do seu espólio – como o célebre retrato de Kate Moss que dá capa a um dos livros que compila as fotografias que foi captando ao longo de 40 anos.

Conseguir trazer esta exposição até à cidade do Porto demorou cerca de quatro anos. Quem o conta é Charlotte Crapts, a comissária de arte responsável pela exposição, que confessou ao JPN que este foi um dos seus “maiores desafios”. O processo foi marcado por muitos imprevistos, como a morte repentina do fotógrafo, em 2019, e o primeiro confinamento geral, em 2020 – que obrigou o museu a fechar 15 dias antes de poderem exibir a exposição na cidade portuense. Quando finalmente viram a exposição pronta para ser mostrada ao público, a comissária e a “pequena e fantástica equipa portuguesa que ajudou no processo de montagem” puderam dizer: “We did it!” – “Conseguimos”, em português.

Para Charlotte Crapts, a relevância e importância da presença desta exposição em Portugal ultrapassa os limites físicos da cidade do Porto e atinge um nível nacional. Quem a visitar pode encontrar uma “paz, um silêncio e uma qualidade de tão alto nível mundialmente” que a passagem pelo MMIPO se torna obrigatória para que todas as pessoas possam “sentir o que é a beleza da arte neste espaço tão bonito”. A comissária foi visitar vários espaços, mas foi no Museu da Misericórdia que pensou: “É isto! É aqui que eu quero fazer esta exposição!”.

António Tavares, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto Foto: Francisca Gomes

A exposição surge também como um tributo a Peter Lindbergh , que esteve totalmente envolvido no processo de trazer a exposição até à cidade Invicta. António Tavares, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, detentora do MMIPO, realça que “esta exposição é a concretização de uma das últimas projeções de Peter Lindbergh”. “Aquando da sua visita ao Porto, procurou conhecer mais sobre a cidade, sobre nós, enfim, sobre o espaço e as gentes que iriam acolher esta exposição. Agora, num entorno tão peculiar, cabe-nos a nós cumprir este momento artístico, certos que a cidade e as nossas pessoas o irão saber celebrar”, referiu.

Artigo editado por João Malheiro