A futura extensão do Museu da Cidade, a ser erguida no antigo Matadouro Industrial de Campanhã, vai ser a nova casa da coleção particular de Távora Sequeira Pinto. Depois de, em outubro de 2020, a Câmara Municipal do Porto e a empresa Mota Engil oficializarem a consignação da obra de reconversão do antigo Matadouro Industrial de Campanhã, novos projetos culturais começam, finalmente, a ter condições para poderem nascer neste espaço.

Coleção de mais 1.100 peças pretende contribuir para uma reflexão coletiva

O novo espaço museológico, cuja inauguração está prevista para 2023, vai albergar uma coleção com um acervo que documenta as profundas relações artísticas existentes entre Portugal e as culturas do Império Asiático. “O espectro temporal e geográfico é também ele vasto, entre a Índia, a China e o Japão, ou outros países em que a presença dos portugueses foi historicamente importante, tendo incidência nos séculos XV e XIX, mas ampliando-se à antiguidade clássica e a outras épocas” referiu Nuno Faria, diretor artístico do Museu da Cidade, em reunião da Câmara.

São mais de 1.100 peças de pintura, escultura, desenho, mobiliário, têxteis, ourivesaria, artefactos exóticos, objetos religiosos, entre outros mais particulares. Peças estas que foram já apresentadas em várias instituições prestigiadas – como o V&A Victoria and Albert Museum (Londres), ou até mesmo o Asian Civilisations Museum (Singapura) – mas que só agora, no espaço em Campanhã, vão encontrar lugar para que possam ser mostradas, pela primeira vez, no seu conjunto integral, para fruição dos habitantes da cidade do Porto e daqueles que a visitam.

O protocolo de comodato destas peças de tamanha “singularidade”, como as classificou Nuno Faria, foi aprovado por unanimidade, esta segunda-feira (5), e não só acrescenta valor à coleção municipal, como a “projeta para um patamar de excelência internacional”. A abrangência da coleção Távora Sequeira Pinto constitui ainda, para o diretor artístico, um “fascinante mosaico de influências recíprocas, e por essa razão é um campo de estudo particularmente fértil”.

Tenta em vista a construção de um museu para o tempo atual, a extensão que se vai erguer no antigo Matadouro vai debruçar-se sobre as feridas que o passado e o presente da sociedade têm em aberto. Para o diretor artístico, o espaço visa contribuir para uma reflexão “que considere os contextos e as diferentes narrativas históricas, que integre vários pontos de vista para além de uma perspetiva eurocêntrica, que as ponha à discussão, que fomente um debate descomplexado do ponto de vista social, rigoroso do ponto de vista histórico, tolerante do ponto de vista religioso, iluminado do ponto de vista espiritual, estimulante do ponto de vista museológico“.

“Sinal último do empenho da cidade” relativamente a Campanhã

As peças desta coleção foram adquiridas por Álvaro Sequeira Pinto, num processo de intenso estudo e dedicação pessoal. O museólogo e colecionador, que também esteve presente na reunião de Executivo Municipal durante a apresentação, disse estar pronto a partilhar o que considera ser “um livro aberto” e uma coleção rica em “interrogações ainda nela existentes, as dúvidas por responder, os diálogos inerentes, os cruzamentos constantes”.

“Estes quase 30 anos de colecionador têm sido uma enorme viagem, com inúmeros percursos, uma grande aventura de estudo e dedicação”, realçou, sinalizando que a viagem segue agora “um novo rumo”, “que abrirá a coleção a novos diálogos, a colocará à fruição e serviço do público e a submeterá abertamente ao mundo e à ciência”, disse o museólogo.

O presidente da Câmara, Rui Moreira, que levou a proposta à aprovação do Executivo Municipal, considerou a abertura de Álvaro Sequeira Pinto em disponibilizar a sua coleção para fruição do público como “um ato de grande generosidade”.

O autarca, que assinalou este como “um dos momentos mais importantes” da sua governação, vincou que o facto de a coleção ficar visitável na freguesia de Campanhã é o “sinal último do empenho da cidade relativamente àquele território”.

O projeto de conversão do antigo Matadouro tem a assinatura do arquiteto japonês Kengo Kuma, em parceria com o ateliê portuense OODA. Num comunicado enviado à imprensa, pode ler-se que, na zona oriental, “o Museu da Cidade vai ainda construir ao longo dos próximos dois anos as extensões da Indústria, na antiga central elétrica CACE, e da Natureza, na Quinta da Bonjóia”.

Artigo editado por João Malheiro