Simone Biles foi uma das estrelas dos Jogos Olímpicos do Rio 2016. Com apenas 19 anos, na altura, impressionou o desporto mundial ao ganhar cinco medalhas, tornando-se na primeira ginasta americana a ganhar quatro “ouros” no mesmo evento. Desde então, Biles continua a desafiar os limites da modalidade, agora com os olhos postos em Tóquio.

Após uma paragem de 18 meses sem competições devido à pandemia de covid-19, a norte-americana voltou a brilhar no U.S. Classic, que decorreu em Indianápolis, nos Estados Unidos, entre os dias 21 e 22 de maio. A ginasta de 24 anos conseguiu fazer o Yurchenko Double Pike, um elemento na prova de cavalo que nunca tinha sido realizado por uma mulher.

O único americano a executar com sucesso o mesmo salto foi David Sender, campeão dos EUA em 2008, que reagiu com surpresa ao momento inédito: “A minha primeira impressão foi, ‘uau’, penso que foi melhor do que quando eu fiz”, afirmou à NBC Sports.

Com o feito alcançado, a ginasta obteve uma pontuação de 16.100, tendo esta sido superior à que teve nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (15.866), o que leva Pedro Almeida, treinador de alto rendimento de Ginástica Artística Masculina no Ginásio Clube Português (GCP), a afirmar ao JPN que Biles “vai ser um fenómeno nos Jogos Olímpicos de Tóquio”.


No entanto, apesar da significativa dificuldade do movimento, os juízes atribuíram a Biles um 6.6 no campo de “dificuldade”. A pontuação gerou controvérsia por ser baixa face à exigência do salto e a outras prestações já realizadas pela atleta consideradas menos difíceis. “Não faz sentido dar luta, porque não vai ser recompensada. Só temos de aceitar e ficar caladas. Eles não querem que as pontuações sejam demasiado altas. Isso é um problema deles. Não é comigo”, disse Simone Biles a meios de comunicação internacionais.

Para o treinador do GCP, a Federação Internacional de Ginástica não deu “uma valorização excessiva”, de forma “a garantir que os atletas não cometam riscos”. Porém, o risco não impede Biles de conseguir “fazer os elementos de elevadíssima dificuldade com um grau de execução, controlo e mestria” que a faz continuar a atingir feitos históricos.

Desde 2013 que a ginasta escreve uma história repleta de vitórias e o que alcançou nos Campeonatos Nacionais dos Estados Unidos (3-6 junho) foi mais um marco na sua carreira. Conquistou o sétimo título nacional, tendo ganho a prova all-around com uma diferença de 4.7 pontos para a segunda classificada.

Face a esta larga distância para as suas adversárias, Pedro Almeida questiona: “Porque é que com quatro pontos de avanço ainda quer correr um risco de fazer um elemento super difícil como é o seu novo salto, por exemplo?”. E Simone Biles, perante esta e outras questões, responde: “Porque eu consigo”.

Para além das vitórias

A coragem e o espírito de desafio têm levado a que a atleta eleve sempre o nível da modalidade. Segundo o treinador de ginástica artística, que já integrou várias missões portuguesas às Universíadas, Biles “está a ajudar o desporto a dar um salto em frente”, não só pela sua “capacidade competitiva”, mas também pela “forma como tem criticado a cultura de treino e apresentado uma visão diferente.”

Treinada desde 2017 pelo casal francês Laurent e Cecile Landi, a ginasta continua com “vontade de evoluir e fazer coisas novas”, o que, também, se reflete no impacto que tem na ginástica.

“Biles está a derrubar um conjunto de barreiras que na ginástica ainda não tinham sido derrubadas”, declarou Pedro Almeida. Realçou, ainda, que “um dos aspetos mais positivos” é o facto de a americana demonstrar que “a idade não é um problema” e que “é possível ter emoção positiva” nas competições.

“O maior contributo que Biles pode trazer para a ginástica, para além dos seus feitos desportivos, será a mudança de uma cultura de medo e opressão para uma cultura saudável de superação e excelência”, concluiu o treinador português.

Tóquio 2020 na mira

Estes resultados surgem numa altura em que os Jogos de Tóquio estão à porta e, ao mesmo tempo, em que as previsões para os próximos feitos da ginasta começam a debater-se. O apuramento olímpico, disputado esta semana (24 a 27 de junho), poderá ser mais um ensaio da prestação de Biles nos Jogos Olímpicos.

Na perspetiva de Pedro Almeida, apesar de na ginástica haver “muita dificuldade em comparar marcas”, Biles poderá ganhar “mais quatro medalhas de ouro no mínimo”, podendo ser campeã olímpica em “três ou quatro aparelhos, mais o all-around”.

Em Tóquio, a ginasta mais medalhada em campeonatos do Mundo terá a oportunidade de dar continuidade ao seu legado olímpico. Por outro lado, antes do adiamento dos Jogos Olímpicos para este ano devido à pandemia, Biles admitiu que os Jogos de Tóquio poderiam ser os últimos da sua carreira, mas, mais recentemente, deixou em aberto a possibilidade de chegar a Paris 2024.

A questão não é quem poderá vencer Simone Biles, mas sim se a ginasta conseguirá superar-se a si própria e ao desempenho olímpico alcançado em 2016, visto que é uma atleta cuja “realização está na sua autossuperação”, ideia que, aliás, subjaz ao título da mini-série documental Simone vs. Herself que o Facebook recentemente lançou.

Será, de facto, a melhor de sempre? Em Tóquio se verá.

Artigo editado por Filipa Silva