“A participação política dos jovens tem vindo a aumentar ou a diminuir, ao longo dos anos?” Foi este o mote do novo estudo promovido pelo Fórum Futuro da Fundação Calouste Gulbenkian. Os resultados mostram uma mudança na forma como os jovens têm vindo a interagir com a política.

Este ano foi aprovado um regime excecional e temporário de voto antecipado. Qualquer eleitor registado pode optar por requerir o voto em mobilidade entre 10 e 14 de janeiro.

Votar é para muitos jovens uma responsabilidade e um dever cívico. Foto: Element5 Digital/Unsplash

No âmbito de uma conferência dedicada ao tema “Participação e Democracia”, a Fundação Calouste Gulbenkian apresentou, na última quinta-feira, os resultados da sua mais recente pesquisa. A investigação foi levada a cabo com a colaboração das universidades do Porto, Lisboa, Aveiro, Minho e Católica Portuguesa. Foram tidos em conta os resultados do European Social Survey, de 2002 a 2019, e as respostas a inquéritos e entrevistas originais feitos a diversos coletivos juvenis.

As conclusões foram mais positivas do que se estava à espera, com o relatório final a afirmar que “os rumores sobre a morte da política entre os jovens têm sido francamente exagerados” e que, na verdade, estamos apenas a assistir a uma mudança na forma como os mais novos têm vindo a interagir neste campo. O documento acrescenta ainda que a dormência política atribuída aos jovens é transversal a todas as gerações de portugueses.

Para o estudo, foram consideradas várias formas de participação política: as mais “convencionais” – como a presença em comícios, a participação em atividades partidárias ou o voto –, das quais os jovens têm tendência a afastar-se; a participação cívica, mais popular – que consiste em doar dinheiro, assinar petições, comprar/boicotar produtos – e a participação online.

Nestas duas últimas, os jovens são protagonistas. O estudo sublinha que “os jovens se interessam pelas questões políticas (em sentido amplo), mas não se revêem nos fóruns políticos convencionais”. Este desinteresse é atribuído “à desilusão com os atores políticos e à sua incapacidade de motivar e mobilizar as gerações mais novas”, concluindo-se que “a alienação ocorre em relação à ‘maquinaria democrática’ e não face aos princípios democráticos.”

Neste sentido, as entrevistas revelaram que os ativistas consideram que a participação dos mais novos na política é desvalorizada, por serem considerados “imaturos” e “pouco autónomos”. A postura generalizada de desvalorização tem resultado numa interação complicada entre as juventudes partidárias e os próprios partidos, que não lhes cedem lugares de destaque. Consequentemente, os jovens, não se sentindo representados, afastam-se das formas convencionais de participação.

Outro motivo associado à alta adesão aos métodos de participação não convencionais é a “autoeficácia política”. Este conceito é, nada mais, nada menos, que a perceção de cada um no que toca à sua capacidade para influenciar processos políticos. Os resultados da pesquisa da Gulbenkian mostram que essa perceção é maior quando se fala de métodos de participação não convencionais, como manifestações.

Ainda assim, mesmo que em Portugal miúdos não fiquem atrás dos graúdos no que toca à participação política, isso não se verifica quando comparamos números por toda a Europa. Postos lado a lado com os jovens de outros 15 países europeus, os portugueses ficam claramente atrás em todas as formas de envolvimento, com apenas 47% da população jovem inquirida a votar e 8% a participar em manifestações.

Artigo editado por Filipa Silva