Fruto da preocupação crescente pelo planeta, a sustentabilidade tem sido um assunto cada vez mais comentado. O JPN reúne, num glossário, alguns conceitos relacionados com a produção sustentável de vestuário. Do 'greenwashing' como estratégia de marketing, à criação de peças a partir de 'deadstock', até à complexidade da economia circular.

O tema da sustentabilidade está na ordem do dia, sobretudo no mundo da moda. Sendo esta indústria uma das mais poluentes do planeta, são vários os conceitos que entraram no dicionário dos agentes do setor. Para ajudar a descodificar algumas dessas expressões, o JPN compilou neste glossário uma série de expressões úteis para os consumidores que se preocupam com o ambiente na hora de comprar roupa. 

Greenwashing

Greenwashing

Fazer passar por “verde” e ecológico o que na prática não o é: eis a estratégia do “greenwashing”. Ilustração: Afonso Melo

É a tentativa, por parte de uma empresa, de parecer sustentável ou fazer esforços nesse sentido. Na realidade, as práticas “verdes” promovidas pelas organizações podem ser apenas uma farsa que desvia a atenção da sua verdadeira natureza, confundindo e enganando o consumidor. Por exemplo, bastantes marcas apresentam linhas sustentáveis – peças feitas com materiais reciclados ou orgânicos -, mas lançam novas coleções todas as semanas, prática que por si só não é amiga do ambiente.

Localismo

O localismo é a aposta na produção de proximidade, em oposição ao sistema de moda global. Assim, estreita-se o processo de produção e consumo, o que resulta numa relação sustentável. 

Post-growth fashion / Degrowth / Green growth

Todos estes termos surgem como crítica ao modelo capitalista atual, que procura o lucro sem olhar às consequências ambientais e humanas.

O degrowth defende, por isso, uma redução planeada da produção e, de um modo mais geral, do crescimento económico como um todo. Já o conceito de post-growth fashion trata-se de uma alternativa que pretende consciencializar o consumidor para a necessidade de cuidar e fazer um uso prolongado do vestuário, sem a constante procura das empresas em aumentar o seu poder económico. Este termo procura fazer evoluir os métodos de produção atuais, ao mesmo tempo que pretendemos diminuir os padrões de consumo, mantendo sempre a atenção no modo como isto pode acabar por influenciar a sociedade.

Também o termo green growth se enquadra dentro deste esquema uma vez que, assim como a definição anterior, tenta propôr um caminho económico distinto do atual, mas com enfoque em soluções que atentam ao ambiente.

Supply Chain

Para avaliar a sustentabilidade de uma marca, a cadeia de abastecimento – ou supply chain, em inglêsé fundamental. A cadeia envolve todos os momentos da produção, desde a extração e transformação dos materiais indispensáveis à produção da roupa, até à compra por parte do consumidor. A indústria da moda tem uma supply chain global muito complexa, que dificulta a identificação da origem dos produtos e, consequentemente, a compra consciente dos mesmos.

Um dos grandes problemas que enfrenta é o facto de, por exemplo, as peças serem desenhadas na Europa, mas a maior parte das vezes os protótipos das peças são enviados para fábricas em países com custos de produção menores, como no continente africano ou asiático. Isto leva a que o constante movimento das peças de roupa resulte em mais de 100% de gases de efeito de estufa sejam libertadps para o ambiente, o que acaba por ser um processo bastante prejudicial. 

Economia Circular

No fundo, a economia circular é a utilização e reutilização de materiais e produtos durante o maior tempo possível, com o objetivo de reduzir o desperdício e a poluição causados pela produção em massa. Este modelo económico está diretamente relacionado com uma série de conceitos, entre eles o upcycling, recyclability e repairability.  

Design Circular / End of life

O design circular é uma nova forma de pensar a criação de peças, que vai ao encontro do conceito de moda circular. Neste processo, o designer escolhe materiais sustentáveis, que minimizem a poluição e o desperdício, que sejam recicláveis ou reutilizáveis e que possam ser usados durante o maior tempo possível. Junta-se aqui a necessidade de criar soluções para evitar que o vestuário tenha uma “data de validade”, adiando o seu “fim de vida” (end of life). 

Economia Circular

A economia circular é uma prática de consumo mais sustentável do que a promovida pelo ‘fast-fashion’. Ilustração: Afonso Melo

Closed loop recycling

Também integrado no conceito de economia circular, closed loop recycling (reciclagem em circuito fechado) consiste em reciclar coleções anteriores para produzir novas peças. 

Upcycling 

Fazer upcycling é uma forma de reciclagem na qual os materiais descartados são transformados num produto com maior valor. Por exemplo, pegar em vários pedaços de tecido e fazer uma camisola pode ser considerado upcycling, uma vez que as sobras de material que, por si só, não tinham valor foram usadas para criar algo a que se pode dar uso. Muitos designers começam também a aproveitar têxteis lar (colchões, mantas, etc.) para criação de roupas, como é o caso da marca AHCOR, de Sílvia Rocha, com quem o JPN falou no Portugal Fashion.

“Reciclabilidade”

Em inglês, recyclability, a “reciclabilidade” consiste no potencial que um determinado produto ou material tem para ser reciclado. Uma peça de roupa é considerada reciclável se for composta por uma única fibra, já que as tecnologias para reciclar peças feitas de vários materiais ainda não foram desenvolvidas. 

Repairability

Por sua vez, a “reparabilidade” diz respeito à possibilidade de reparar um material ou produto que tenha sido danificado, permitindo o seu uso prolongado. 

Design for disassembly 

No fundo, é a produção de roupas que, no seu fim de vida, podem ser transformadas através da desconstrução de têxtil. Isto irá permitir juntar as peças, criando um produto de vestuário diferente. 

Design

Esta técnica permite que todas as partes que constituem uma peça de roupa possam ser desmontadas facilmente e aplicadas a outras peças. Ilustração: Afonso Melo

Downcycling

É o oposto de upcycling. Trata-se de transformar uma peça caída em desuso em algo com um valor menor, mas que ainda possa ser útil. Por exemplo, usar uma t-shirt velha como pano do pó. 

Resale / Rental / Re-commerce

Estas formas de comércio inserem-se no contexto da moda circular. A revenda (resale) pode ser feita em lojas físicas – lojas vintage ou de roupa em segunda mão – ou online (re-commerce, cada vez mais popular entre os jovens). Rental (alugar roupa) é uma aposta que tem vindo a crescer, nomeadamente entre as marcas de luxo, como a Gucci, Oscar de la Renta e outras. 

Zero waste design

Esta técnica prevê o uso na totalidade de tecidos para a produção de vestuário. O objetivo é gerar um resíduo têxtil pequeno ou praticamente nulo, contribuindo para uma prática de criação sustentável. 

Deadstock

Alguns designers aproveitam o “lixo” das fábricas e lojas para criar peças únicas. Ilustração: Afonso Melo

Deadstock

Os materiais deadstock referem-se às “sobras” da indústria da moda que, se não fossem compradas, seriam despejadas em aterros. Podem vir na forma de tecido ou peças de roupa já confecionadas que as lojas não conseguiram vender (quer por terem pequenos defeitos ou pela falta de procura). 

Há estilistas que usam esse material “morto” na produção das suas coleções por razões de sustentabilidade ambiental.

Artigo editado por Filipa Silva