Criada em 2020, a Juventude Unida dos Países de Língua Portuguesa pretende ser “uma representação” para a juventude lusófona e aproximar os diferentes países do “mundo da lusofonia”, através do diálogo e do debate. Com o evento Conexões prestes a acontecer no Porto e em Vigo, o JPN conversou com Ricardo Soares, fundador do movimento.

JUPLP pretende ser “uma representação” para a juventude lusófona. Foto: Fauxels/Pexels

Ser “uma representação para 48 milhões de jovens” dos países lusófonos: é esta a missão da Juventude Unida dos Países de Língua Portuguesa (JUPLP). De maneira a “aproximar as nações que promovem o diálogo, debate e o intercâmbio cultural”, este movimento tem realizado várias iniciativas. Destaca-se o evento Conexões, em que são feitos debates sobre temáticas lusófonas, que já vai na terceira edição e que vai passar pelo Porto e por Vigo, na Galiza, esta semana, nos dias 16 e 17 de junho.

Constituída em julho de 2020, em plena pandemia, a JUPLP foi criada por Ricardo Soares, jovem brasileiro de 24 anos, natural de Belo Horizonte. Ao perceber que os brasileiros “não conhecem tanto sobre a lusofonia”, pensou que seria “interessante” criar um movimento que representasse a juventude lusófona. A partir dessa ideia, o fundador começou a contactar pessoas para fazerem parte do movimento, conta ao JPN.

Ricardo Soares assume como “uma responsabilidade muito grande” representar um grupo tão vasto, na certeza de que será impossível chegar a todos os jovens lusófonos. Contudo, o movimento trabalha “para todas essas pessoas” e tenta priorizar a “diversidade”, ao integrar membros de vários países lusófonos – Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, entre outros.

O fundador da JUPLP considera que o movimento é “importante” para a população, porque a juventude lusófona está “muito desalentada”. Para o jovem, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) “não abrange a juventude da forma certa” e, assim, encontra-se “longe” dela “por causa da burocracia e da formalidade”.

Deste modo, para ter um “contacto mais próximo” e “entender a juventude” e também “não ser só uma instituição, uma entidade, como a CPLP”, Ricardo decidiu “fazer esse trabalho de representação, com muita independência e com muito carinho”. A JUPLP corresponde a um movimento independente, e não recebe qualquer apoio financeiro.

Contudo, não receber “um real sequer”, como diz Ricardo, não tem impedido o movimento de “mudar um pouquinho a história”. A partir de novembro de 2021, a Galiza, que apresenta um movimento de luta para “estar dentro da língua portuguesa”, passou a integrar a JUPLP, uma “questão muito importante para a história” e para os membros galegos da associação, diz Ricardo. Tendo a “independência para reconhecer” a integração da região espanhola, o movimento trabalha agora “com a Galiza dentro da lusofonia” e, de certa forma, dá-lhe destaque ao levar a sua “história para outros países” e ao trazer “jovens de outros países para estar na Galiza.”

Embora a JUPLP não tenha “ligação com a CPLP”, Ricardo Soares admite que se, alguma vez, houver a “oportunidade” de o movimento colaborar com a entidade, estará “100% disponível”, pois o objetivo é que a iniciativa tenha o maior alcance possível. Todavia, o também coordenador da JUPLP assegura que o movimento não quer estar integrado “nem um pouco com a CPLP”, pois o “mundo da lusofonia pertence ao mundo da lusofonia” e é “muito maior do que uma instituição”, defende.

JUPLP também é um espaço de aprendizagem e lazer

“Para quem quer entender um pouco mais sobre a lusofonia, é bom a gente saber um bocado de coisas sobre cada cultura”. Com este pensamento em mente, Ricardo Soares e a equipa da JUPLP apostam em publicações diárias, nas redes sociais do movimento, sobre distintas vertentes, desde a escrita à cultura até ao empreendedorismo e à política, nos diferentes países lusófonos.

Por causa da pandemia, o movimento começou inteiramente em modo online. Em 2021, Ricardo percebeu que “a JUPLP deveria mudar de rumo” e passar ao presencial.

E daí surgiu o evento Conexões, cuja primeira edição ocorreu em Coimbra, em dezembro de 2021, enquanto a segunda ocorreu ainda este ano, em abril, em Cabo Verde. De acordo com Ricardo, o objetivo deste evento é “sentar com essas pessoas” do mundo da lusofonia para serem debatidos temas relacionados com a condição lusófona. Assim, pretende-se que os participantes “aprendam um pouco mais” e que, ao mesmo tempo, se conheçam e criem “novas relações”.

O Conexões em Coimbra foi, assim, o “primeiro ponto” nesta transição para o formato presencial. Mesmo juntando apenas 15 jovens em Coimbra, um número que, segundo Ricardo Soares, “parece pouco, mas para um debate é muita gente”. O encontro resultou num debate “muito melhor do que [no] online.

1ª edição do evento Conexões, em Coimbra (dezembro de 2021) Foto: juplpmundo/Instagram

Para além das duas edições do Conexões, o movimento independente e a empresa Verda (com quem teve uma parceria), disponibilizaram, em março, um curso para jovens lusófonos aprenderem “como criar um negócio” e “sobre o empreendedorismo social”: Desenhando Negócios de Impacto. Feito “com muita cautela, muita sabedoria”, o curso impactou “realmente” todos os alunos que se inscreveram nele, assevera Ricardo.

Terceira edição do Conexões: o que podemos esperar?

Após o sucesso das duas edições do Conexões, o evento de debates regressa com uma nova edição, passando pelo Porto esta quinta-feira, dia 16 de junho, às 14h00, no espaço criativo Jubilant Relax (Avenida de Fernão de Magalhães, 619), e por Vigo, Galiza, a 17 de junho, à mesma hora, na Casa da Lusofonia. RicardoSoares vai marcar presença em ambos os encontros. Quem estiver interessado em participar deve preencher um formulário online.

 

 
 
 
 
 
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Mas porquê estas cidades? A escolha de Vigo deve-se à integração da Galiza no movimento de jovens, servindo o encontro como um “ponto-chave” nesta estratégia. Já a opção pelo Porto não foi tão imediata: inicialmente, os membros da JUPLP estavam indecisos entre Lisboa e Porto, mas, por uma questão de proximidade à Galiza, acabaram por escolher a cidade nortenha. Para além de ser uma cidade universitária e de ser uma “cidade mais jovem”, “mais ativa”, “mais diversa, mais cultural”, optar pelo Porto foi também uma forma de “descentralizar um pouco e sair da capital” portuguesa, refere o fundador da JUPLP.

O tema desta edição do Conexões é “A juventude é o presente”, uma discussão em torno de “qual é o lugar da juventude no debate da sociedade em si”. Esta não será, contudo, a única temática abordada nos debates.

A relação do movimento com a CPLP (que é “muito importante ser conversada”, segundo o fundador da JUPLP) e dos imigrantes em Portugal serão também temas abordados. Considerando que grande parte dos portugueses ”não ligam tanto” ao debate da lusofonia, o coordenador da JUPLP espera que o movimento consiga cumprir o “desafio” de “começar a trabalhar para que eles se interessem mais” pela conversa com este Conexões.

Entretanto, na Galiza, para além do tema principal do evento, surgirão temas “completamente diferentes dos que vão ser discutidos no Porto”, mais especificamente, a questão da integração da Galiza no mundo da lusofonia. Apesar de acreditar que, com estas conversas, a JUPLP possa “ter parte” no debate, o jovem de 24 anos considera que este tema em particular “tem de ser [discutido] muito lá para cima”, por parte de governos e de entidades, como a CPLP.

À parte do debate e do “momento de confraternização”, a JUPLP “possivelmente” vai passar no Conexões um mini-documentário da autoria do Museu da Língua Portuguesa, localizado em São Paulo, adianta Ricardo Soares ao JPN. De acordo com o coordenador, este mini-filme é “impactante e emocionante” para “quem está envolvido com a língua portuguesa.”

“Tenho a certeza que a juventude, um dia, vai ter mais voz no meio lusófono”, remata Ricardo Soares. Com 24 anos, o fundador da JUPLP sabe que “não vai ser jovem para a vida toda”, mas deseja que a JUPLP “se renove”, com a integração de novos membros, e que “se torne na representação para 48 milhões de jovens”, mesmo que demore “10, 20, 30 anos”. “Não vou ser eu a concretizar esse sonho, mas eu vou estar assistindo”, conclui.

Artigo editado por Filipa Silva