Durante a reunião com os especialistas do Infarmed desta sexta-feira (11), o ministro da Saúde afastou "nesta fase" a adoção de medidas de caráter obrigatório contra a Covid-19. A vacinação já preveniu um milhão de infeções e dois milhões de dias de internamento.
“Temos mesmo de virar a página do período mais difícil desta pandemia”. Foi desta forma que o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, excluiu por agora o regresso do uso obrigatório de máscara ou a implementação de regras de distanciamento social.
O ministro falou na primeira reunião com especialistas do Infarmed desde maio, esta sexta-feira (11), em Lisboa, numa sessão que, esclareceu, não teve o objetivo de causar alarme, mas sim de partilhar informação sobre a pandemia da Covid-19, em jeito de preparação do Inverno vindouro.
O coordenador do Núcleo de Apoio ao Ministério da Saúde, coronel Carlos Penha Gonçalves, apresentou dados sobre a campanha de vacinação sazonal contra a Covid-19 e a gripe, revelando que mais de 1,8 milhões de pessoas já estão vacinadas contra ambos os vírus.
A taxa de vacinação contra a Covid-19 na campanha sazonal é de 69% na população acima dos 80 anos, 68% na faixa etária dos 70 aos 79 e 31% entre os 60 e os 69 anos. “Estamos no ritmo em que estávamos a pretender vacinar e estamos a cumprir o ritmo”, declarou o coronel.
Nos lares e instituições de Cuidados Continuados Integrados, somando utentes e profissionais, já foram vacinadas 154 mil pessoas contra a Covid-19 e 160 mil contra a gripe.
A capacidade de vacinação atual em Portugal é de 290 mil pessoas por semana, mas há o objetivo de aumentar esta capacidade em 11%. Caso se verifique, pessoas com mais de 50 anos podem ser vacinadas antes do fim do ano.
Henrique Barros, epidemiologista do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), apresentou alguns cálculos relativos aos efeitos das vacinas. De acordo com o presidente do Conselho Nacional de Saúde, o processo de vacinação preveniu mais de 12 mil mortes, 2 milhões de dias de internamento (130 mil dos quais em cuidados intensivos) e um milhão de infeções.
Vacinas continuam eficazes
Segundo os resultados de um inquérito online sobre a perceção do risco de infeção por Covid-19, um terço dos portugueses percecionam o risco como baixo ou nulo, mas Henrique Barros alertou para o facto de a pandemia não ter terminado: “Foi inequivocamente exagerado o anúncio da sua morte”, afirmou.
Carlos Alves, infecciologista e membro do conselho diretivo do Infarmed, referiu a existência de duas vacinas proteicas no mercado, das quais uma já está autorizada na Europa. A utilização de vacinas proteicas, por não se tratar de tecnologia recente, pode ajudar a mitigar a questão da hesitação vacinal (recusa ou atraso de toma de vacinas disponíveis e acessíveis).
O infecciologista desvalorizou as diferenças na eficácia das várias vacinas, sublinhando que a diferença maior está entre os que recebem e os que não recebem a inoculação. Apesar da existência de novas sub-linhagens, Carlos Alves reforçou que as vacinas continuam eficazes na diminuição da gravidade da doença provocada pelo vírus SARS-CoV-2.
O investigador do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, João Paulo Gomes, distinguiu as realidades observadas em Portugal aquando do período de predominância da variante Delta e da variante Ómicron. A primeira, “até hoje a mais severa” em Portugal, afetou o país numa fase em que o processo de vacinação ainda dava os primeiros passos e o sistema imunitário da população ainda não estava preparado.
Quando a variante Ómicron se tornou dominante, as elevadas taxas de vacinação e a imunidade comunitária diminuíram a capacidade do vírus de criar mutações. Daí esta variante se manter dominante até hoje e não terem surgido novas variantes com impacto epidemiológico.
Dois anos depois, há lições a tirar
Sónia Dias, diretora da Escola Nacional de Saúde Pública, explicou que as mulheres e os maiores de 65 anos são quem mais refere que a Covid-19 teve impacto ao nível das relações interpessoas. Por outro lado, os jovens assumem que a pandemia os afetou mais ao nível da saúde mental, da educação e da situação económica.
Já Henrique Barros destacou “quatro grandes lições” que Portugal aprendeu durante a pandemia: o facto de a vacinação ser essencial, apesar das limitações; a necessidade de atentar às desigualdades no país (dando o exemplo dos lares, em que residentes e profissionais têm uma tendência maior para se infetar e os utentes uma maior probabilidade de morrer); o facto das decisões transparentes informadas pela evidência gerarem confiança e a noção de que uma vigilância eficaz é imperativa para se conseguir uma resposta eficaz.
Segundo os últimos dados divulgados pela Direção-Geral de Saúde (de 25 a 31 de outubro), Portugal registou 5.920 infeções por SARS-CoV-2 na última semana de outubro e 53 mortes. No mesmo período havia 525 pessoas internadas e 34 em cuidados intensivos.