Autarca escreve carta ao administrador da Metro do Porto na qual critica falta de diálogo da empresa e grandes atrasos nos trabalhos, com "implicações graves" no trânsito. Rui Moreira avisa também que não deixará abrir novas frentes de obra.

Em setembro, Rui Moreira visitou o estaleiro da futura estação da Galiza acompanhado pelo administrador da Metro do Porto, Tiago Braga, à esquerda, e do secretário de Estado Jorge Delgado, à direita. Foto: Filipa Silva

O presidente da Câmara Municipal do Porto (CMP), Rui Moreira, enviou, esta quinta-feira (10), uma carta ao administrador da Metro do Porto, Tiago Braga, na qual critica o andamento das obras da futura Linha Rosa, bem como os impactos da operação no trânsito da cidade. 

O autarca queixa-se também da falta de informação da Metro do Porto sobre o decurso dos trabalhos e deixa um aviso: as obras da futura Linha Rubi e do corredor BRT da Boavista, que ainda não começaram, “não poderão” avançar em simultâneo com as atuais

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A Linha Rosa vai ligar a Praça da Liberdade/São Bento à Boavista/Casa da Música ao longo de um túnel de 3 quilómetros, com quatro paragens subterrâneas. Começou a ser construída em 2021 e tem conclusão prevista para o final de 2024. A Metro do Porto estimava, em setembro, que a linha estará pronta a funcionar no final do primeiro trimestre de 2025.
Já a Linha Rubi, que vai ligar a Casa da Música a Santo Ovídio, via Devesas, e que inclui a construção de uma nova ponte no Campo Alegre, tem arranque de obra previsto para 2023 e início de operação estimado para 2026.

“Excessivos atrasos”

Sobre os atrasos, Rui Moreira refere na missiva, a que o JPN teve acesso, que pediu aos serviços municipais um estudo que anexou à carta enviada à Metro do Porto. O resultado foi que “praticamente todas as frentes de obra apresentam excessivos atrasos“.

Em concreto, o edil refere que as estações da Casa da Música e da Galiza são as mais atrasadas: com um atraso de 215 dias, no caso da primeira, e de 275 dias, na segunda. Na estação do Hospital de Santo António o atraso será de 92 dias e na estação da Praça da Liberdade o desvio face ao previsto andará na casa dos 120 dias, “sendo que a conclusão da intervenção só irá acontecer no final de abril de 2025”, menciona o autarca.

Além das estações, também foram detetados atrasos “na construção dos poços de ventilação e da infraestrutura de desvio do Rio de Vila”, com destaque para esta última. Segundo os técnicos das Câmara do Porto, a nova galeria para o Rio de Vila sob a Rua das Flores e a ligação à galeria já existente sob a Rua de Mouzinho da Silveira no Largo de S. Domingos devia ter ficado pronta a 30 de setembro deste ano. Contudo, a estimativa de conclusão da obra é agora 30 de novembro de 2023, ou seja, 426 dias depois do inicialmente previsto.

Reuniões interrompidas

Além dos atrasos, também a quebra de diálogo entre as partes está na base da chamada de atenção do presidente da CMP. Rui Moreira garante que estavam previstas reuniões quinzenais entre a autarquia e a Metro do Porto “a fim de partilhar o ponto de situação da empreitada”. 

Segundo o autarca, essas reuniões “foram, entretanto, canceladas pela Metro do Porto”, ficando o município sem informação sobre o andamento dos trabalhos, razões dos atrasos ou possíveis medidas de mitigação a encetar pela Metro do Porto.

Autocarros com atrasos superiores a 40 minutos

Aos atrasos e à falta de informação, juntam-se “implicações graves no escoamento do tráfego da cidade”, nomeadamente ao nível dos transportes públicos. Rui Moreira faz menção particular aos autocarro da STCP: “nas linhas 200, 201, 207, 305, 500 e 703“, refere o autarca, os atrasos “chegam a atingir os 40 minutos”.

À lista de queixas, Rui Moreira junta ainda a “repetida e permanente falta na mitigação dos impactos visuais das frentes de obra de uma cidade Património Mundial” e a “sistemática ausência de identificação do dono de obra”.

Um aviso à Metro do Porto

A carta do presidente da Câmara do Porto serve ainda para deixar uma advertência à Metro do Porto. A autarquia, a quem compete a emissão de licenças e autorizações de obra, não se mostra disponível para deixar que se abram novas frentes, numa referência explícita à futura Linha Rubi e ao corredor BRT da Boavista.

“Estando previstas novas obras, nomeadamente a Linha Rubi e a BRT Boavista, chamamos à atenção de V. Exa. que o início de tais obras, com o inevitável constrangimento no trânsito, não poderão ser concomitantes com as obras ainda em curso e cujo real cronograma não pode ser aferido.”

O JPN tentou, sem sucesso, obter uma reação da Metro do Porto.

Em setembro, numa visita ao estaleiro da futura estação da Galiza, o administrador Tiago Braga e o secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado Alves, garantiam aos jornalistas que o projeto estava “a ser cumprido” e que o prazo de conclusão da obra (finais de 2024) se mantinha, apesar do aumento de custos e de disrupções ao nível do fornecimento de materiais.

Na mesma ocasião, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira,  considerou que os constrangimentos causados pelas obras eram grandes, mas naturais. Dois meses depois, os resultados do estudo feito pelos serviços municipais e a interrupção das reuniões entre as duas entidades, sobretudo quando se perspetivam novas frentes de obra na cidade, motivaram a alteração de postura, de acordo com fonte oficial da autarquia questionada pelo JPN.