Gonçalo Cadilhe, escritor de viagens, e Nuno Lobito, fotógrafo, viajam desde a sua juventude, tendo visitado milhares de lugares no mundo inteiro. Em entrevista ao JPN, contam como veem Portugal e o que significa, para si, o regresso. Ainda que encarem o país de origem com visões diferentes, há uma certeza partilhada: o conceito de "casa" é onde se é "feliz".

O conceito de casa é, para um viajante, diferente. É o que acontece a Gonçalo Cadilhe, autor de livros de viagem, e a Nuno Lobito, fotógrafo, que, ao longo das suas vidas, se dedicaram a explorar e retratar o mundo.

Madeira. Foto: Gonçalo Cadilhe

Ambos fizeram das viagens um modo de vida. Segundo Gonçalo Cadilhe, com uma partida há, porém, que ter um ponto de ancoragem. “Se não há um regresso a suportá-la, a viagem deixa de ter sentido. Não podes ser uma pessoa sem pontos de referência”, afirma.

No entanto, para o escritor, pode-se “relativizar a importância” do lugar onde se vive, ou de onde se vem. Para Nuno Lobito, a situação acentua-se, pois acredita que o lugar de onde se parte não tem de ser um sítio para onde se queira voltar. “O conceito de casa para mim não existe, por uma simples razão: é o local onde nos encontramos”, afirma. E completa: “Seja onde for: aqui, na Grécia, na China, na Alemanha. O conceito de casa, para mim, é sentir-me bem, feliz”.

Quando o assunto é a ideia de lar, o fotógrafo não pensa no país onde nasceu. “Se me perguntarem a casa onde fui mais feliz na minha vida, foi numa cabana de madeira na Amazónia”, partilha.

Portugal aos olhos de quem já viu o mundo 

Depois de 30 anos na estrada, Gonçalo Cadilhe já olha para o país onde nasceu “com alguma distância“. “Se conheceste bem o mundo, percebes que não te entusiasma muito“, partilha. E opina: “Aquilo que há para ver em Portugal – que é realmente fora do comum, único no mundo, que realmente merece o meu tempo -, não é muito”.

No seu entendimento, Portugal fica atrás em vários aspetos, quando comparado com outros países da Europa. Por exemplo, em termos de museus “não pode ganhar à Itália”, diz. Ou, continua, no que concerne a “banhos de mar”, “não pode ganhar à Grécia”. Para além disso, o escritor acredita que, no estrangeiro, o país tem uma reputação consolidada de destino turístico “para gastar pouco dinheiro”

Foto: Nuno Lobito

Mas ainda há certos encantos. Apesar de, para si, cidades como o Porto serem apenas “simpáticas como tantas outras pelo mundo”, o escritor considera que existem alguns lugares “que são extraordinários” em território nacional. Aponta “Açores, Madeira, os centros históricos de duas ou três cidades, como Évora”, onde consegue mesmo sentir-se turista e explorar com curiosidade.

O nosso país, tão pequenino que é, consegue ter uma beleza muito grande – basta procurar. – Nuno Lobito

Nuno Lobito, por outro lado, vê muito potencial nas cidades portuguesas e considera importante “descentralizar”. “Está tudo focado em Lisboa, Porto. Raramente alguém vai para Coimbra. Então espera lá, não será giro o Pinhão?”, diz. Acima de tudo, salienta que “basta procurar”. “O nosso país, tão pequenino que é, consegue ter uma beleza muito grande”, remata.

Para o fotógrafo, o mais interessante é visitar locais com pouca visibilidade, contactando com quem lá vive para conhecer a sua essência. E, nesse sentido, aponta os portugueses como particularmente prestáveis. “Se perguntarem a um alemão onde é o supermercado ele responde ‘é ali à direita’; se perguntarem a um português ele diz ‘venha lá que eu levo-o’. Nós somos orgulhosamente assim”, remata. 

Este trabalho  foi realizado no âmbito da disciplina de TEJ – Online – 2.º ano

Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira