Em Braga, fruto de uma iniciativa criada pelo serviço de neurologia do Hospital de Braga, nasceu numa orquestra que quer ajudar doentes de Parkinson. Chama-se “Projeto Parkinsound”, e foi liderado por Margarida Rodrigues, neurologista, e por Pedro Santos, músico. Ontem (11), no Dia Mundial do Doente de Parkinson, subiu ao palco do Auditório do Espaço Vita para mostrar “o que é ser doente de Parkinson”.

A investigação foi distinguida como Melhor Trabalho de Investigação Clínica no âmbito do Congresso Nacional de Doenças do Movimento, que decorreu em março. A premissa era avaliar o papel da música em pessoas com a doença de Parkinson, sobretudo na vertente do comportamento. Para tal, foram integrados 22 pacientes, entre os 25 e os 80 anos, numa orquestra comunitária que incluiu percussão, vozes, eletrónica, teclas e sopros.

Esta condição consiste numa disfunção neurológica causada pela quebra de produção de células que produzem a dopamina. Afeta, por isso, os movimentos corporais, conduzindo a tremores, rigidez e a alterações na marcha.

Para o estudo, apoiado pelo Município de Braga, foram realizados quinze ensaios, durante um período de avaliação, entre junho e outubro de 2022, culminando num concerto. Em declarações ao JPN, a neurologista Margarida Rodrigues explica que, ao longo do processo, foram aplicadas diversas escalas de análise nos pacientes – associadas tanto à componente do movimento, como à vertente psicológica.

Espetáculo final do projeto “Parkinsound” ontem (11), no Auditório do Espaço Vita, em Braga. Foto: Joana SousaDR

Pôde apurar-se que os participantes manifestaram mudanças positivas a nível comportamental (comparando com um outro grupo, de controlo, constituído por 21 doentes que não integraram o projeto). Em relação à escala do movimento, a neurologista revela que, devido ao número baixo de participantes e ao tempo reduzido de avaliação, os resultados mostraram apenas “tendência de melhoria”. No entanto, avança que na escala de impressão clínica global de melhoria – ou seja, no teste onde as pessoas que participaram no estudo respondem se se sentem melhores ou não -, as mudanças foram mais significativas

Sobre a colaboração com Pedro Santos, que dirigiu a orquestra, a profissional de saúde conta que o músico tratou de se inteirar do que é a doença, os seus sintomas e restrições. “O Pedro não se focou nas limitações das pessoas, mas no que poderiam oferecer à orquestra”, completa a neurologista. 

O espetáculo final, que reuniu uma plateia de 500 pessoas, funcionou igualmente como um promotor da integração cultural e social destas pessoas. Assim, através de músicas originais escritas pelos pacientes, tratou de retratar o universo da condição, diz a investigadora.

A investigadora afirma que, no futuro, pretende alargar o período de tempo em que os pacientes são avaliados, bem como o número de participantes, de modo a obter resultados mais “relevantes” sobre a influência da intervenção a vários níveis, incluindo o motor. “Estamos muito motivados para continuar”, declara Margarida Rodrigues.

Por agora, o “Parkinsound” vai ainda ser apresentado no Congresso da Sociedade Portuguesa de Neurologia, a decorrer na próxima semana. Em agosto, estende-se além-fronteiras e segue para o Congresso Mundial de Doenças do Movimento, em Copenhaga, na Dinamarca.

Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira