Diversas nações, incluindo Portugal, têm trabalhado para retirar em segurança os seus respetivos cidadãos do Sudão – que atualmente, desde dia 15 de abril, está a atravessar uma guerra civil. Esta terça-feira (25) um cessar-fogo de 72 horas, fruto de um acordo mediado pelos Estados Unidos, foi anunciado. Porém, de acordo com fontes locais, não tem sido cumprido, levando a situação a poder ficar mais difícil para aqueles que ainda não conseguiram sair.

O conflito tem por base o embate de duas forças militares: de um lado, as Forças Armadas Sudanesas, comandadas pelo general Abdel Fatah al-Burhan, governante do país desde o golpe de 2021; do outro, as Forças de Apoio Rápido (RSF, em inglês), lideradas pelo “número dois” – o general Mohamed Hamdane Daglo. Ao longo de vários meses, a tensão entre as duas frentes veio a aumentar, fruto de negociações sobre partilha de poder. O resultado é um conflito armado no país, que tentava transitar para um regime democrático.

Segundo a mais recente contagem da Organização Mundial da Saúde (OMS), os confrontos entre Exército e forças paramilitares já causaram a morte de pelo menos 420 civis 3.700 ficaram feridos. Mas cenário pode piorar: também na terça-feira, a organização alertou para uma situação de “alto risco biológico”, advinda da ocupação do laboratório nacional de saúde pública (LNSP), na capital, Cartum, por parte de combatentes.

Invasão “extremamente perigosa” pode desencadear “bomba biológica”

As forças paramilitares de apoio rápido tomaram controlo do LNSP, que armazena amostras de agentes patogénicos de doenças como poliomielite, sarampo e da cólera, criando uma situação “extremamente perigosa”, alerta a OMS. Após a entrada dos combatente nas instalações, o ambiente é de cautela, principalmente com a acentuação do risco de um combate armado dentro, ou próximo, da área.

A má gestão destes componentes pode até desencadear uma “bomba biológica”. Relatos de alguns cortes de energia na instalação também preocupam a organização, pois comprometem igualmente unidades de sangue saudáveis ali armazenadas. Um a vez que o acesso por parte de funcionários do local está restrito, as medidas de preservação estão limitadas.

Continuam as missões de resgate no Sudão

Um barco com 1.687 civis, de mais de 50 países, em fuga dos combates, chegou esta quarta-feira (26) à Arábia Saudita, avança o Ministério Saudita dos Negócios Estrangeiros. Até ao momento, já foram retiradas cerca de 2.150 pessoas do Sudão para a Arábia Saudita – dois mil dos quais eram estrangeiros.

No total, havia 22 portugueses registados como moradores no Sudão. Destes, apenas um preferiu permanecer no país, por não estar localizada próxima a zona de confrontos. Num comunicado de imprensa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) revelou que, ao final de domingo (23), “todos os cidadãos nacionais conhecidos no Sudão foram já contactados” e que “as diferentes situações estão a ser acompanhadas.”

Em declarações aos jornalistas, avançadas pela RTP, João Gomes Cravinho, Ministro dos Negócios Estrangeiros avançou que, do total de portugueses, “onze já estão fora [do país]” e “os restantes estão a caminho da fronteira”. O português que recusou ajuda permanecerá em contacto com as autoridades, a fim de possibilitar o acompanhamento da guerra civil. “A garantia de segurança é, evidentemente, a primeira prioridade”, reforçou o ministro.

O MNE da França revelou que a retirada de diplomatas e cidadãos franceses foi uma operação rápida, tendo recebido apoio por parte de outras nações aliadas. Segundo Joe Biden, ainda no sábado (22), a retirada dos funcionários da embaixada dos Estados Unidos já havia sido realizada por completo.

Já o Governo Britânico começou, no domingo (23), o repatriamento de funcionários diplomáticos do Sudão, apelando aos britânicos retidos a comunicar a sua presença ao Ministério das Relações Externas e a que procurar um local seguro. A embaixada da Turquia também anunciou no mesmo dia o início da comoção para buscar os seus cidadãos presos no meio do conflito.

No seguimento da retirada dos civis e perante violação do estipulado cessar-fogo, António Guterres apela ao fim imediato dos combates, frisando que o conflito sudanês não pode ser resolvido à custa da vida de centenas de pessoas.

O Sudão tem vindo a sentir uma grande instabilidade social e política há já vários anos. Em 2011, depois de dois conflitos de longa duração, parte do país tornou-se independente sob a nomenclatura de Sudão do Sul. Mais recentemente, em 2021, o primeiro-ministro civil – à frente de um governo de transição que sucedeu a queda das três décadas de presidência de Omar al-Bashir –, foi destituído também com um golpe militar.

Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira