Foi apresentado hoje (quarta-feira), no Hotel Mundial de Lisboa, um grupo de apoio destinado a vítimas de abuso sexual no contexto da Igreja Católica, em Portugal. Denominado de “VITA”, o organismo será presidido pela psicóloga Rute Agulhas, que até agora fazia parte da Comissão da Diocese de Lisboa, devendo abranger tanto vítimas menores de idade, como adultos vulneráveis.  

Surge como uma proposta “isenta” e “autónoma”, mas “articulada” com a Igreja, segundo a presidente do “VITA”. As denúncias começam a ser recolhidas a partir de 22 de maio, por via telefónica, através do número de telemóvel 91 509 00 00, ou por email, no endereço [email protected].

Além do acompanhamento psicológico, o grupo abrange apoio social e jurídico. O atendimento telefónico vai decorrer de segunda a sexta-feira, entre as 9h e as 19h, e é feito por um dos membros executivos do “VITA”. O trabalho será ainda articulado com o INEM, para casos de maior fragilidade em que possa, por exemplo, haver risco de suicídio.

Durante o seu discurso, Rute Agulhas evidenciou a violência sexual como algo que se perpetua na vida das vítimas “a curto, médio e longo prazo”, frisando ainda a importância de se criar uma entidade para defender os seus direitos.

Constituição do grupo

O relatório “Dar Voz ao Silêncio”, conduzido pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht no ano passado e apresentado em fevereiro deste ano, estima que tenham existido pelo menos 4.815 vítimas de abusos na Igreja desde 1950 até à atualidade. Foi na sequência da apresentação desses dados, aliados a eventos mais recentes, que surgiu a necessidade de formar uma entidade especializado.

Além de Rute Agulhas, o grupo é constituído por Alexandra Anciães (psicóloga com experiência de avaliação e intervenção com vítimas adultas), Joana Alexandre (psicóloga, docente universitária e investigadora na área da prevenção primária dos abusos sexuais), Jorge Neo Costa (assistente social, especializado em intervenção com crianças e jovens em perigo), Márcia Mota (psiquiatra, especialista em Sexologia Clínica e em intervenção com vítimas e agressores sexuais) e, finalmente, Ricardo Barroso (psicólogo, docente universitário e especialista em intervenção com agressores sexuais).

José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), também presente na cerimónia de anúncio, declarou-se otimista quanto à implementação da iniciativa. Mais ainda, reitera que, com isto, “ficou clara a nossa determinação de não fechar os olhos” para o assunto.

Por agora, o mandato está programado para ter uma duração de pelo menos três anos. Todas as informações podem ser consultadas na página do grupo.

Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira