A linha telefónica desenvolvida pelo Grupo VITA entra esta segunda-feira (22) em funcionamento. O objetivo deste sistema passa por facultar acompanhamento a vítimas de abusos sexuais, servindo também par intervir junto de abusadores ou indivíduos que sintam o impulso de cometer crimes da mesma índole. Está igualmente aberta a qualquer pessoa que tenha suspeita de alguma situação concreta de violência sexual em contexto eclesiástico.

Criada a pedido da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), a equipa destacada para o propósito pode ser contactada por via telefónica, através do número 915 090 000 (de segunda a sexta-feira, entre as 9h00 e as 18h00) ou pelo endereço de email [email protected]. A nova abordagem de acompanhamento das vítimas terá um prazo de atuação estimado para os próximos três anos.

Até ao momento, a adesão à iniciativa “superou as expectativas” dos colaboradores, avança a psicóloga Rute Agulhas, coordenadora do Grupo VITA, especialista em Psicologia Clínica e da Saúde e com especialidades avançadas em Psicoterapia e Psicologia da Justiça. Nesse sentido, refere que, mesmo antes da abertura da linha telefónica, já tinha sido recebidos pedidos de ajuda via e-mail – aos quais se somam agora as diversas chamadas recebidas durante o início desta segunda-feira. 

Em declarações ao JPN, a coordenadora explica que haverá “diferenciação [no encaminhamento] entre o próprio grupo de especialistas”. Apesar do assunto ser o mesmo – isto é, violência sexual -, a assistência será distinta entre agressores e vítimas, por serem dinâmicas de interação muito diferentes.

A especialista afirma ainda que o contacto através do Grupo VITA é apenas um “primeiro encontro”. Posteriormente, serão agendados acompanhamentos presenciais ou online, dependendo da urgência da situação e da zona onde os indivíduos se encontram. “Confiança é algo que não se ganha de um dia para o outro”, sublinha Rute Agulhas. O principal objetivo é que as pessoas “nos procurem e vão confiando em nós de uma forma progressiva”, completa.

O Grupo está em contacto com a Ordem dos Médicos e a Ordem dos Psicólogos Portugueses tendo em vista a criação de uma rede de psicólogos, presente em todo o país. Mais, os profissionais, que deverão estar identificados no início de junho, vão receber formação especializada na área da violência sexual.

Além de Rute Agulhas, o grupo é constituído por Alexandra Anciães (psicóloga com experiência de avaliação e intervenção com vítimas adultas), Joana Alexandre (psicóloga, docente universitária e investigadora na área da prevenção primária dos abusos sexuais), Jorge Neo Costa (assistente social, especializado em intervenção com crianças e jovens em perigo), Márcia Mota (psiquiatra, especialista em Sexologia Clínica e em intervenção com vítimas e agressores sexuais) e, por fim, Ricardo Barroso (psicólogo, docente universitário e especialista em intervenção com agressores sexuais).

Apresentado a 26 de abril no Hotel Mundial de Lisboa, o Grupo VITA surgiu na sequência do trabalho “Dar Voz ao Silêncio”, da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderado pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht. Ao longo de quase um ano, 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022 foram validados, apontando para uma estimativa mínima de 4.815 vítimas.

Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira