A quatro semanas do início da Jornada Mundial da Juventude, recapitulamos o que é sabido sobre aquele que é considerado o maior evento católico já realizado em Portugal.

O Papa Francisco vai estar em Portugal de 2 a 6 de agosto. Foto: Quirinale.it via Wikimedia Commons

O que é a Jornada Mundial da Juventude?

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) é um encontro entre jovens católicos de todo o mundo com o Papa, numa cidade escolhida pelo Papa.

Este encontro é vivido como uma peregrinação e inclui momentos de formação, convívio, oração, confissão, espetáculos, entre outros. “Mas é sobretudo o testemunho da alegria da fé dos jovens na cidade anfitriã aquilo que define uma JMJ”, refere o site da Diocese Leiria-Fátima.

A sua realização não é anual. Entre edições, há sempre um intervalo de dois a quatro anos.

O anúncio de que a edição deste ano seria em Lisboa foi realizado pelo cardeal Kevin Farrell, na Missa do Envio da JMJ Panamá 2019.

A JMJ foi criada em 1985 pelo Papa João Paulo II, tendo sido realizada pela primeira vez em 1986, em Roma. Ao longo dos anos, a Jornada Mundial da Juventude já ocorreu em outras cidades como, por exemplo, no Rio de Janeiro (2013), Toronto (2002), Paris (1997), Cracóvia (2016) e Sydney (2008). 

Lisboa vai acolher a 16.ª JMJ.

Quando vai acontecer?

A JMJ terá início a 1 de agosto, terça-feira, e terminará a 6 de agosto, domingo. Mas há eventos anteriores.

Uma semana antes do arranque da Jornada, de 26 a 31 de julho, arranca o processo de acolhimento dos jovens nas dioceses. Neste período, os peregrinos são recebidos pelas famílias de acolhimento inscritas. 

Em que locais de Lisboa vai decorrer a Jornada?

Os eventos centrais da JMJ Lisboa 2023 serão distribuídas por dois polos: o Parque Tejo-Trancão, onde se situa o altar-palco; e o Parque Eduardo VII, onde estará montado um palco secundário.

Mas a JMJ vai passar por outros locais de Lisboa. São disso exemplo a Cidade da Alegria, que vai ser instalada no Jardim Vasco da Gama, em Belém, ou o Festival da Juventude que, de acordo com a Câmara Municipal de Lisboa, “oferece mais de três centenas de eventos em mais de 100 espaços da cidade, entre palcos, auditórios, salas de cinema, teatros, museus, espaços de exposições e igrejas.” O Terreiro do Paço, a Alameda D. Afonso Henriques e o Parque da Belavista são alguns desses locais.

O que vai acontecer?

O programa da JMJ subdivide-se em eventos centrais e eventos secundários.

Os eventos centrais são cinco:

  • a Missa de Abertura, no dia 1 de agosto, presidida pelo cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, no Parque Eduardo VII;
  • a Cerimónia de Acolhimento, a 3 de agosto, também no Parque Eduardo VII, sendo esta a primeira cerimónia de encontro entre os jovens e o Papa;
  • a Via-Sacra, na sexta-feira, dia 4 de agosto, que simula o trajeto de Jesus com a cruz até ao Calvário e divide-se em 14 etapas;
  • a Vigília, no início da noite de sábado, que inclui a adoração ao Santíssimo Sacramento dos jovens com o Papa, no Campo da Graça (Parque Tejo);
  • e a Missa do Envio, na manhã de domingo, presidida pelo Santo Padre e que marca o fim da JMJ. 

De sábado para domingo, os peregrinos pernoitam ao ar livre para celebrarem, na manhã seguinte, a Eucaristia com o Papa, momento que dita o encerramento da JMJ e no qual é anunciada a data e local da próxima jornada.

O programa oficial da visita do Papa, que chega a Portugal a 2 de agosto, já é conhecido e inclui, além dos momentos associados à Jornada, uma visita ao Santuário de Fátima, marcada para o dia 5.

Os eventos secundários são apenas destinados aos inscritos, que podem participar em várias iniciativas organizadas pela equipa da JMJ em diversos locais da cidade. 

A presença do Papa está confirmada?

Nos últimos meses, a presença do Papa chegou a estar comprometida por motivos de saúde. Porém, a 16 de junho, já depois de ter saído do hospital em que esteve internado em Roma, e onde foi sujeito a uma cirurgia abdominal, o próprio Papa assegurou, num vídeo dirigido aos participantes da JMJ, que a sua doença não irá impedir a sua presença na capital portuguesa.

A Jornada Mundial da Juventude é, por definição, um momento de reunião entre os jovens e o Papa. Contudo, no caso de o estado de saúde do Papa se agravar e de ele não poder estar presente, não haverá um cancelamento do evento, como explicou ao JPN Marta Esteves, membro da equipa de comunicação do Comité Organizador Diocesano do Porto: “Ficaremos muito tristes se o Papa não vier, como é óbvio, porque é ele que nos congrega, mas acima dele há outra pessoa que nos congrega, que é a nossa fé, que é Jesus Cristo. Portanto, vai acontecer na mesma. Nós não ponderamos não haver evento.”

Com o Papa presente, a JMJ vai representar a mais extensa visita de um Papa a Portugal.

Quantas pessoas são esperadas?

Os números variam. Porém, as estimativas andam entre o milhão e o milhão e meio de participantes

A 29 de junho, dos 480 mil jovens que avançaram para a segunda fase do processo de inscrição, 313 mil tinham a inscrição já validada. Estes participantes têm origem em 151 países. A maioria virá de Espanha (58.531), Itália (53.803) e França (41.055), segundo dados da organização. 

À rádio Observador, D. Américo Aguiar, presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, salvaguardou que o número não está aquém das expectativas: “Nós sabemos que por cada pessoa que se inscreve, segundo a tradição, participam mais duas ou três que não se inscrevem. A 30 dias da Jornada, estamos até acima da média das inscrições das outras jornadas”. 

A inscrição não é obrigatória para participar. Quem se inscreve dá uma contribuição para a realização da Jornada.

Qual é o mote da JMJ Lisboa 2023?

“Maria levantou-se e saiu apressadamente”.

Esta citação da Bíblia – uma passagem do Evangelho segundo São Lucas (Lc 1,39) – foi o mote escolhido pelo Papa para a edição de 2023 da JMJ. Segundo a mensagem oficial do Papa, este tema remete para “o caminho da proximidade e do encontro”.

“Nestes últimos tempos tão difíceis, em que a humanidade já provada pelo trauma da pandemia, é dilacerada pelo drama da guerra, Maria reabre para todos e em particular para vós, jovens como Ela, o caminho da proximidade e do encontro. Espero e creio fortemente que a experiência que muitos de vós ireis viver em Lisboa, no mês de agosto do próximo ano, representará um novo começo para vós jovens e, convosco, para toda a humanidade”, referiu Francisco aquando da divulgação do mote.

Quanto vai custar a JMJ?

Ao certo, não se sabe ainda, mas as estimativas feitas no início deste ano, a reboque do polémico altar-palco, apontam para um valor a rondar os 160 milhões de euros.

A maior fatia será investida pela Igreja (cerca de 80 milhões), naquele que é considerado o maior evento católico já realizado em Portugal.

O Governo investirá cerca de 36,6 milhões, a Câmara de Lisboa 35 milhões e a Câmara de Loures cerca de 9 milhões. O município de Oeiras também deverá contribuir.

Quanto ao altar-palco, que está a ser montado no Parque Tejo, a norte do Parque das Nações e junto ao Rio Trancão, deverá ficar pelos 2,9 milhões. Um valor 30% abaixo do inicialmente previsto (4.2 milhões), depois da polémica gerada quando foi tornado público o valor. 

Para cortar nos custos, o palco principal da JMJ foi redimensionado: passou de 5 mil metros quadrados 3.250 metros quadrados, a capacidade baixou das 2 mil para 1.240 pessoas e a altura foi reduzida de nove para quatro metros.

Que impacto económico vai ter o evento?

Em bom rigor, ninguém sabe, mas tanto a Fundação JMJ, como o Governo e os municípios envolvidos estão convictos que o retorno excederá o investimento.

Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, afirmava em fevereiro que a CML “vai investir no total até 35 milhões de euros, dos quais, até 25 milhões” ficarão na cidade, disse. Os custos do evento, considerou o autarca, “são justificáveis e trarão um retorno para a cidade [de Lisboa] que vai muito para além do retorno financeiro”.

O Governo encomendou ao Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) um estudo sobre o impacto económico da JMJ.

Como vai afetar o dia a dia de quem vive e trabalha em Lisboa?

Um evento desta magnitude não se faz sem causar grandes constrangimentos, sobretudo na mobilidade e transportes. Haverá ruas cortadas, alterações no trânsito, reforço dos transportes públicos e corredores dedicados à circulação de peregrinos, mas a versão final do Plano de Mobilidade e Transportes do evento ainda não foi fechada, a menos de um mês do arranque.

Apontado para maio, depois para junho, o plano, garantiu o Governo na quinta-feira (29), fica pronto até 14 de julho.

Em abril, foram apresentadas as linhas gerais, depois de uma primeira fase de trabalho entre os municípios de Lisboa, Loures e Oeiras, operadores de transporte público ferroviário, fluvial e rodoviário, dioceses de acolhimento (Lisboa, Santarém e Setúbal), o gestor das infraestruturas rodoviárias e ferroviárias nacionais e as forças de segurança.

José Sá Fernandes, coordenador do Grupo de Projeto para a JMJ, disse na altura, em conferência de imprensa, que o plano assenta em vários tipos de corredores – corredores para transportes públicos, para peões ou apenas para o Papa. “Vai haver ruas fechadas e percursos pré-definidos para os caminhantes”, afirmou em conferência de imprensa.

Está contemplado também o uso de transporte público como o principal método de mobilidade. Para o efeito, estão previstos mais 4 mil autocarros de reforço para a semana da JMJ que irão ficar em parques ou usar locais novos (apenas para uso no evento), só para largarem ou recolherem passageiros. 

Sobre a informação que vai ser dada à população, D. Américo Aguiar anunciou, na entrevista já citada à Rádio Observador, que a organização estabeleceu uma parceria com os CTT para distribuir dois desdobráveis com informações úteis sobre as jornadas: “Na próxima semana, vamos distribuir um desdobrável nas caixas do correio de Lisboa, Loures, Cascais e Oeiras, um flyer explicativo e um convite para fazerem parte deste evento. E, na última quinzena, vamos distribuir um segundo desdobrável, com informações muito práticas para que as pessoas possam aderir mais positivamente”, afirmou.

As inscrições ainda estão abertas?

Sim, mas já sem a opção de inscrição com alojamento. Essa fechou a 30 de junho. De resto, as inscrições estão abertas até 11 de julho.

Podem inscrever-se jovens de todo o mundo entre os 14 e os 30 anos de idade, católicos ou não, individualmente ou em grupo, embora a organização estimule a que a participação seja feita nesta última modalidade.

Quanto a valores, variam consoante o pacote escolhido. Contudo, o acesso aos eventos principais da JMJ é gratuito, não sendo preciso a inscrição para participar. A inscrição é entendida pela organização como uma forma de contribuição para a cobertura das despesas associadas e também como um método para planear o acolhimento dos peregrinos, nomeadamente em termos de alojamento,  alimentação e os meios de transporte.

A inscrição de voluntários também já terminou a 30 de junho. No total, inscreveram-se 22.282 voluntários de 143 países. Quinhentos estarão dedicados exclusivamente à área da saúde.