Serralves apresenta "Entelechy", uma exposição de algumas das obras mais conhecidas dos artistas Allora & Calzadilla - muitas delas nunca apresentadas na Europa. O JPN acompanhou a visita de imprensa à mostra, antes da abertura ao público, esta sexta-feira.

“Entelechy” é o nome da obra que dá nome à exposição. Foto: Leonor Alhinho

Jennifer Allora (1974, EUA) e Guillermo Calzadilla (1971, Cuba) colaboram desde 1995 e já tiveram muitos dos seus trabalhos expostos nos museus mais importantes do mundo. Desde esta sexta-feira (12) e até ao dia 29 de outubro, a dupla de artistas tem em Serralves a sua primeira retrospetiva na Europa.

“Entelechy”, assim se chama a exposição, reúne 24 obras dos artistas – 23 no Museu de Serralves e uma no Parque da Cidade do Porto. Uma mostra envolta em melancolia e com laivos distópicos, baseada em duas ideias primordiais: a de um apelo à justiça, seja ela ambiental, ecológica, energética ou colonial; e a do conceito aristotélico de “entelequia”, a “libertação do potencial, seja ele bom ou mau”, como explicou Philippe Vergne, um dos curadores da exposição, durante a visita de imprensa.

O Museum of Modern Art (Nova Iorque), a Tate Modern (Londres) e o Guggenheim Museum Bilbao (Bilbau) são só exemplos de museus conceituados por onde já passaram trabalhos da dupla de artistas visuais que vive e trabalha em Porto Rico. Em 2011, também representaram os Estados Unidos da América na 54.ª Exposição Internacional de Arte da Bienal de Veneza, com o projeto “Glória”.

A arte de Allora & Calzadilla tem especial interesse, porque, sublinha Phillipe Vergne, que é também o diretor do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, “a posição política dos artistas nesta exposição é muito importante.” “Eles não criam a partir do centro de poder, criam da periferia” e este aspeto é notório nas várias obras, repletas de crítica social.

A exposição, que começa no átrio e se prolonga pela ala esquerda do Museu de Serralves, usa diversas formas artísticas, como referiu o diretor: “é uma mistura de landscape, soundscape e performance.” Performance, escultura, som, vídeo e fotografia, num conjunto artístico com grande pendor ecológico e de intervenção.

Algumas das obras são estáticas. Porém, os grandes ex-libris da exposição, são aquelas que podem ser ativadas, como no caso de Hope Hippo (2005), Stop, Repair, Prepare: Variations on Ode to Joy for Prepared Piano (2008), Lifespan (2014) e a obra que dá nome à exposição, que data de 2020. Esta, tal como a obra Cadastre, nunca foram exibidas na Europa.

No átrio do museu encontramos Hope Hippo. A escultura criada em 2005, foi encomendada para a 51.ª Bienal de Veneza. A obra procura subverter a ideia de monumento histórico com cavalos de guerra, ao mesmo tempo que relata a relação entre civilização e barbárie. Um ser humano usa o hipopótamo como uma torre de vigia e, é ali, que, enquanto lê o jornal, faz, literalmente, soar os alarmes da injustiça.

Hope Hippo (2005) está exposto no átrio do Museu de Serralves. Foto: Leonor Alhinho

Entelechy, por sua vez, é uma escultura gigante de carvão, moldada através de uma árvore que foi atingida por um raio. A árvore remete para uma espécie encontrada em Montignac, França. Lugar este onde um grupo de jovens, em 1940, descobriu a Gruta de Lascaux. Nesta gruta, foi encontrada uma imagem de uma única figura humana, ou semi-humana, já que era um híbrido entre um humano e uma ave. David Lang, compositor recorrente nas obras de Allora & Calzadilla, inspirou-se neste facto para criar uma obra vocal que “contracena” com a árvore.

A exposição extravasa Serralves e vai até à entrada norte do Parque da Cidade do Porto, onde podemos encontrar uma única obra: Chalk. Construída através da disposição de enormes blocos de giz, pretende revelar o potencial da comunicação. O público pode interagir com os blocos, enquanto se vai tornando espectador, mas também parte da obra.

A exposição “Entelechy” é organizada pela Fundação Serralves, com curadoria de Philippe Vergne e Inês Grosso e coordenação de Paula Fernandes. Contam, também, com o apoio de Charles Kim, Gwen Weil, The grow/Annenberg Foundation, Lisson Gallery, Danniel Rangel e a Fundação “la Caixa”, como mecenas em colaboração com o BPI. Vai estar em Serralves até 29 de outubro deste ano.

Artigo editado por Filipa Silva