A primeira fase dos exames nacionais do ensino secundário arrancou esta segunda-feira com a prova de Português. Apesar do ano letivo marcado pelas greves dos professores, os alunos saíram das salas satisfeitos com um exame que consideraram "muito acessível".

 

JPN Exames Nacionais 2023

Mais de 30 mil alunos realizaram a prova de Português esta segunda-feira (19).

Esta segunda-feira, arrancou a época de exames nacionais do ensino secundário com a prova de Português para os alunos do 12.º ano. Este ano, mais de 42 mil alunos estavam inscritos na prova, mas só 33.515 é que a realizaram, uma descida em comparação com o ano passado.

Apesar da preocupação inicial, os alunos da Escola Básica e Secundária Clara de Resende, no Porto, saíram do exame descontraídos, com uma prova que lhes pareceu ser bastante “acessível”.

“Achei que fosse mais difícil, sinceramente. Acho que a escolha de poemas foi relativamente fácil”, afirma Maria, de 20 anos, que decidiu fazer a prova para conseguir entrar na faculdade após ter estado dois anos a trabalhar.

Íris, de 18 anos, também aluna da Escola Secundária Clara de Resende, partilha a mesma opinião. “Correu bem. Acho que em relação aos anos anteriores foi mais acessível, pelo menos foi a minha perceção. Não puxava assim muito por assuntos antigos, que era a minha preocupação. Nos outros anos havia a parte C, em que se tinha de fazer uma composição sobre um tema anterior, o qual eu não me lembrava nada sobre. Então, este ano, não houve nada disso. Portanto, acho que foi mais fácil”.

Ainda na mesma escola, Vitória Soberano, aluna de Humanidades de 17 anos, considerou que o exame foi “mais fácil do que aquilo que esperava”. “Algumas perguntas deixaram-me com dúvidas, mas a maior parte correu bem”, disse ao JPN.

Paulo Costa, também de Humanidades, realça que o exame foi “extremamente acessível em comparação com os exames de anos anteriores, como o de 2022 ou 2021”. Acrescentou ainda que “os conteúdos lecionados no exame, como as ‘Rimas’ de Camões ou as cantigas, são temas que um aluno, que não esteja tão bem preparado, consegue responder com base na interpretação, o que já não seria possível num poema, por exemplo, d'”A Mensagem” ou num texto do “Frei Luís de Sousa””.

No geral, o exame foi ao encontro das expectativas dos alunos. José Saramago, com “O Ano da Morte de Ricardo Reis” e “Memorial do Convento”, a poesia de Camões e a poesia trovadoresca foram os conteúdos incluídos na prova deste ano. O exame de português conta ainda com uma secção dedicada à gramática e um texto de opinião sobre o impacto da tecnologia nas relações humanas.

Exames nacionais iniciam com greve de professores: perspetivas das docentes sobre os impactos

Após um ano marcado pelos protestos dos professores, que reclamam do Governo melhores condições salariais, de carreira e de trabalho, também os exames nacionais arrancaram sob a sombra de uma greve aos exames e avaliações.

O protesto não se fez, contudo, sentir nas escolas, uma vez que um tribunal arbitral, a pedido do Ministério da Educação, fixou serviços mínimos, tanto para os exames como para “todos os procedimentos conducentes às mesmas”, esclareceu fonte da tutela à Agência Lusa.

Cecília Costa, professora de Português no Colégio Nova Encosta, considera que a greve convocada pode ter um impacto para os professores corretores. “Amanhã [terça-feira, 20] vou buscar exames e acredito que o número de exames distribuído seja proporcional ao número de professores disponíveis”, explica em declarações ao JPN. “Só aí saberei a quantidade de professores que estarão em greve, mas acredito que vá afetar o processo de classificação das provas sem dúvida, nomeadamente, implicar o maior número de provas por professor disponível”, concluiu.

Já Olga Brochado, também professora de Português, mas na Escola Secundária de Paredes, não acredita que a greve vá prejudicar a correções das provas: “Este é um trabalho profissional e, portanto, as pessoas que estão neste momento com os exames estiveram a trabalhar com os alunos e ninguém quer prejudicar os alunos. Ninguém quer nem vai facilitar agora nas correções, porque uma coisa é a discussão pública e a luta por direitos, outra coisa é o trabalho que fazemos e tem que ser um trabalho sério”.

Sobre este ano letivo marcado pelos protestos da classe docente, Olga Brochado faz um balanço, apesar de tudo, positivo. Na Escola Secundária de Paredes, onde leciona, garante que não foi sentido um impacto muito grande das paralisações, ao contrário do que pode ter acontecido noutros estabelecimentos de ensino: “Se calhar, as escolas dos grandes centros urbanos foram mais afetadas. A nossa escola, como é mais de interior, podemos dizer que sim, sentiu algum impacto, mas não me parece que tenha sido assim tão grande para afetar os alunos. Mesmos os exames correram na minha escola com serenidade. Hoje [segunda-feira,19], ninguém fez greve na escola”.

Sobre a prova de Português, Cecília Costa considera que o exame, apesar de simples, teve alguns conteúdos inesperados. “A prova foi acessível, embora a seleção de textos fosse um bocadinho inesperada. Não era de todo o que eu estava à espera. Sair ‘Memorial do Convento’ e ‘O Ano da Morte de Ricardo Reis’ não me surpreendeu, mas depois, as partes B e C, o contexto lírico, o Camões Lírico e Cantigas de Amor surpreendeu-me consideravelmente”. A docente acrescenta ainda que era um exame, acima de tudo, de competências: “Não implicava a mobilização de grandes conhecimentos prévios de educação literária, implicava sim que houvesse competências de leitura e de escrita acima de tudo”.

Também Olga Brochado considerou que o grau de dificuldade do exame não foi alto: “Sim, o grau foi médio, acho. Penso que até foi ligeiramente mais fácil do que no ano passado”, concluiu.

Editado por Filipa Silva