Sendo o presente o último mandato de Rui Moreira na presidência da Câmara do Porto, o Grupo de Ação para a Reabilitação do Ramal da Alfândega (GARRA) escreveu uma carta aberta apelando à plantação de árvores em ruas prioritárias. O documento surge no âmbito do Plano de Arborização da Cidade do Porto e, dirigindo-se ao autarca, pede que, antes da sua saída, se apresentem compromissos concretos –  e se levem até ao fim.

O plano, apresentado em maio deste ano, prevê arborizar centenas de quilómetros na cidade, mediante as características das ruas. Trata-se de um objetivo a longo prazo, estimando que sejam precisos 20 a 30 anos para sua aplicação. Porém, “pelo menos para já, o município não apresentou metas, responsabilidades, recursos e acompanhamento desta transformação”,  aponta, na carta (enviada ao JPN), o grupo, que assume como missão contribuir para a discussão pública e incentivar a melhoria da qualidade de vida na cidade.

Estabelecendo um marco concreto, o documento propõe que Rui Moreira “assuma o compromisso de arborizar pelo menos cinco quilómetros de ruas prioritárias”,  até ao final do mandato, seguindo assim o compromisso orçamental anual. “É preciso ter a ambição e a ousadia de avançar com a mudança”, reforça o grupo.

Pedro Pardinhas, integrante do GARRA, criador de projetos na área turístico-cultural e ativista pelo aproveitamento dos recursos da cidade, explica ao JPN que a meta sugerida a Rui Moreira foi um número “aleatório” – já que “o importante é que alguma coisa seja feita”, sendo para tal fundamental haver “objetivos quantificados“. O objetivo é que aenergia e boas intenções que o executivo e a Câmara Municipal têm se transformem em árvores e em melhoria da cidade“, continua.

Na carta é ainda referido que “nada está definido sobre quando e onde a arborização vai acontecer”. Em teoria, o plano já se encontra em andamento e foi adiantado que “as intervenções serão feitas progressivamente” – mas é algo que, ao grupo, parece “pouco ambicioso” frente à seriedade do tópico, além do considerável investimento e trabalho requeridos pelo projeto.

Portanto, este plano “não pode correr o risco de ser esquecido e abafado pelo tempo, morto pelas mudanças eleitorais, ou enterrado por falta de recursos ou planeamento”, sublinha o GARRA. Há que estabelecer “compromissos mais firmes” a favor da arborização da cidade e fazer um “esforço contínuo” na melhoria da gestão do parque arbóreo, reiteram.

Além de plantar árvores nas ruas prioritárias até 2025, o GARRA também intercede para que o presidente defina “os recursos necessários, anualmente, para implementar o plano depois de terminado o seu mandato”, a par de uma apresentação, a cada dois anos, de “um balanço da implementação à Assembleia Municipal”.

Pedro Pardinhas relata que, até ao momento, o grupo ainda não recebeu um parecer da Câmara Municipal do Porto sobre as suas exigências. “Mas isso também não é problema”, pois a intenção é colocar o tema em destaque. O ativista aponta o plano como um “excelente estudo académico e um diagnóstico de grande qualidade do que se pode ser feito” – mas o grupo quer que efetivamente “comece a ser posto em prática”, canalizando “imediatamente” a “energia” que surgiu na vertente teórica “para a ação”. 

GARRA movido pelo ativismo: desde o Ramal da Alfândega a um Porto mais verde

O GARRA, fundado em 2005 e reativado em 2020, como o próprio nome indica, move-se principalmente pela reabilitação do Ramal da Alfândega, que está abandonado há 30 anos. O objetivo era aproveitar esta infraestrutura, reativando o seu funcionamento de transportes públicos – um projeto que entretanto está a avançar, segundo foi adiantado ao JPN.

Segundo Pedro Pardinhas, o GARRA continua em contacto com o município e com a STCP de modo a acompanhar o processo ao perto. O empecilho atualmente a ser tratado consiste na preservação da estrutura, tendo em conta o “caminho que o TGV vai fazer a vir de Lisboa ao Porto” – pois o mesmo não pode “atropelar” nem acabar com o Ramal da Alfândega.

Apesar das intervenções do grupo perante a autarquia assumirem direções distintas – uma sobre o Ramal e outra sobre o Plano de Arborização -, há um tronco comum, que é a luta por melhorias na cidade.  Sobre a manifestação pela plantação de árvores, o integrante partilha que advém do efeito positivo conseguido pelo ativismo, relativamente ao caso da Alfândega.

O avanço na reativação dos transportes deixou o grupo “entusiasmado” por sentir que sua voz foi ouvida. Desta forma, consideram poder vir a alcançar mais conquistas noutras áreas e continuar a estimular a Câmara Municipal a fazer mais coisas” de forma mais rápida e eficiente.

Sobre o Plano de Arborização 

O Plano de Arborização surge sob a promessa de melhorar o espaço da arborização pública sustentável da cidade do Porto. Para tal, sob a coordenação de Paulo Farinha Marques, a equipa de arquitetura paisagística designada fez uma análise às ruas da cidade, estipulando a referência de uma “árvore mínima de arruamento”  (com 4 metros de largura da copa e 10 de altura total). Assim, foram identificados 191 quilómetros de ruas arborizáveis na cidade – além dos 156 que já estão e dos 186 que aparentemente não têm capacidade de receber a iniciativa “verde”.

Foi ainda necessário estudar dimensões das ruas e caraterísticas como exposição solar, vento, humidade, solo e vias de circulação. O foco principal é, a longo prazo, dobrar a quantidade de árvores em contexto urbano, de modo conseguir que 65% de ruas tenham árvores (atualmente só há 29%). 

O projeto indica igualmente os tipos de planta a manter, substituir, descontinuar e quais os novos tipos de arborização a criar. Estes métodos permitem melhorar os ecossistemas e serviços gerados pelas árvores (suporte, provisão, regulação e culturais).

O plano identifica como prioritárias na intervenção zonas mais centrais, enumerando as ruas da Constituição, Serpa Pinto, Camões, João Pedro Ribeiro, Santa Catarina, Alegria, Santos Pousada, Vale Formoso, Antero de Quental, D. Manuel II, Alexandre Herculano e Pinto Bessa.

Artigo editado por Ângela Rodrigues Pereira