Questões ligadas ao alojamento estudantil, mas não só, motivaram algumas dezenas de estudantes a manifestarem-se diante do primeiro-ministro, que esteve no Porto, na quarta-feira (13), a participar na receção aos novos estudantes da Universidade do Porto (UP) e na inauguração de uma nova residência.
O ingresso na universidade é um momento de grande entusiasmo para os que realizam a transição para o Ensino Superior. No entanto, a expectativa não invalida a revolta de muitos alunos, que aproveitaram a participação do primeiro-ministro António Costa na sessão de boas-vindas aos novos alunos da Universidade do Porto (UP), na última quarta-feira (13), para se manifestarem e reivindicarem melhores condições.
“Seja na luta contra a propina, seja no alojamento, seja por uma refeição mais barata, são tudo coisas que não têm sido garantidas”, frisou ao JPN um dos participantes, aluno da Faculdade de Belas Artes, que preferiu não ser identificado.
A falta de alojamento estudantil é o quebra-cabeças de mais difícil resolução para quem entra na universidade. Outro estudante, de um outro grupo de manifestantes, afirmou ao JPN que as 54 camas previstas na nova residência, que António Costa inauguraria no Porto na mesma tarde, “são um bom avanço, mas é preciso mais” e alertou para o facto de, “ao nível nacional, milhares de estudantes continuarem a não ter acesso fácil a alojamento”. O jovem deixou também a ideia de que os estudantes não vão deixar as ruas, prometendo “continuar a lutar por melhores condições para todos os alunos”.
Sobre o tópico da habitação, e depois de saudar com “um abraço alargado toda a comunidade académica”, Ana Gabriela Cabilhas, presidente da Federação Académica do Porto (FAP), insistiu que o Governo deve ir “além do Orçamento (do Estado) e do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)”, apostando em mais medidas de alojamento estudantil no Ensino Superior.
“Queremos ficar cá e contribuir para a economia do nosso país”, disse ainda a dirigente associativa, numa referência ao pacote de medidas anunciadas na semana transata pelo Governo. O Executivo socialista garante querer fixar os jovens qualificados no país, mas a presidente da FAP considerou que será preciso fazer mais do que devolver a propina por cada ano de trabalho em Portugal.
Em resposta, António Costa, que também interveio na sessão, defendeu-se, dizendo que estão a ser feitos todos os esforços: “Vamos praticamente duplicar o número de camas de residências universitárias públicas até 2026”, frisou. O primeiro-ministro assegurou ainda que “o PRR só paga as obras que estiverem concluídas à meia-noite do dia 31 de dezembro de 2026”, o que significa que as mesmas têm de estar prontas até essa data. “Dê por onde der, é mesmo até essa data que temos de conseguir o objetivo tão desafiante que é multiplicar por dois o número de camas das residências universitárias”, concluiu.
No final, os manifestantes fizeram-se ouvir, com palavras de ordem.
A sessão de boas-vindas aos novos alunos da UP reuniu centenas de estudantes numa cerimónia que teve lugar no Jardim da Cordoaria, nas traseiras da Reitoria, e que contou com a presença, além do primeiro-ministro, do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, do Reitor da UP, António de Sousa Pereira, e das ministras da Presidência e da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior, Mariana Vieira da Silva e Elvira Fortunato.
Inaugurada nova residência da UP
Da agenda de António Costa, que passou o dia no Porto – de manhã, esteve numa visita à renovada Escola Alexandre Herculano, acompanhado pelo ministro da Educação – fez também parte a inauguração da nova Residência Ventura Terra, localizada na Viela da Carvalhosa, perto da Igreja de Cedofeita.
Trata-se da segunda residência construída no país no âmbito do PRR (a primeira foi em Anadia, Aveiro), sendo abrangida pelo Plano Nacional para o Alojamento do Ensino Superior (PNAES), programa que pretende responder à falta de camas no país (em 2019, ano de lançamento do PNAES, havia 15 mil camas para 175 mil estudantes deslocados, no público e privado).
Sobre a Residência Ventura Terra, que homenageia no nome um arquiteto e benemérito nascido no séc. XIX, conta com 27 quartos duplos com casa de banho – três dos quais para pessoas com mobilidade reduzida -, ao longo de três pisos. Para além disso, os estudantes têm acesso no edifício – que tinha uso administrativo antes da obra a que foi sujeito -, a uma sala polivalente, cantina, sala de leitura, gabinetes administrativos e lavandaria.
António Costa, António de Sousa Pereira, Mariana Vieira da Silva e Elvira Fortunato realizaram uma breve visita às instalações na tarde de quarta-feira e conheceram alguns dos jovens que já habitam a agora inaugurada residência (estão lá desde 8 de setembro).
No final da visita, o primeiro-ministro voltou a lembrar que os esforços feitos para inaugurar a nova residência estudantil da Universidade do Porto provêm do pacote abrangido pelo PRR, que “disponibilizou as verbas que não existiam”.
Numa nota breve aos estudantes que estavam presentes na visita, António Costa afirmou que os jovens a ingressar no Ensino Superior daqui a cinco anos (em 2026) terão muito menos dificuldades na procura de alojamento, graças aos apoios vindos dos fundos comunitários.
A Universidade do Porto vai receber 20,5 milhões de euros de financiamento do PRR (o investimento total ascende aos 32 milhões) que abrangem sete projetos de alojamento estudantil. Três destes projetos são novas residências universitárias, que “vão permitir que mais estudantes, nomeadamente bolseiros, possam frequentar a Universidade do Porto, tendo uma residência de qualidade a preços acessíveis”, sublinhou a ministra Elvira Fortunato, reforçando ainda que o PNAES envolve instituições de ensino superior, autarquias, empresas públicas e entidades do terceiro setor.
Além da Residência Ventura Terra, agora inaugurada, a UP tem previsto criar mais duas residências: na Asprela, junto à Faculdade de Desporto (206 camas); e uma terceira na Rua da Boa Hora, nas instalações do Centro de Desporto da UP (151 camas). Sobre estas, ainda em fase de concurso para a apresentação de projeto, o reitor, António de Sousa Pereira, garantiu que “estão a correr dentro dos timings previstos”.
Se cumprido o PNAES, em 2026, a rede de residências públicas estudantis passará a contar com mais 12 mil camas, disponíveis a custos acessíveis. Portugal terá 246 residências (no lugar das 157 atuais), num total de aproximadamente 27 mil camas, tratando-se de um reforço de 78% face à capacidade instalada atualmente.
Editado por Filipa Silva