Passageiros que utilizam a rede de transportes nos municípios de Paredes e Vale de Cambra queixam-se de falta de informação. Cerca de 100 pessoas juntaram-se este sábado em frente à Câmara Municipal de Paredes para pedir mais autocarros e horários. A secretária da Comissão Executiva da AMP anteviu o funcionamento "em pleno" de uma plataforma de monitorização de transportes públicos "no final do mês de fevereiro".

A UNIR abrange um total de 439 linhas e interliga 17 municípios da AMP Foto: Jaime Silva/JPN

Dois meses após ter entrado em funcionamento, a UNIR continua a reunir críticas junto dos passageiros, que se queixam da falta de autocarros e da supressão de horários. Apesar de se verificarem melhorias nos concelhos mais centrais da Área Metropolitana do Porto (AMP), nomeadamente no Porto e em Vila Nova de Gaia, o serviço permanece aquém do esperado nas periferias, segundo utentes dos municípios de Paredes e Vale de Cambra.

Marco Dias, estudante residente em Besteiros, uma aldeia de Paredes, afirmou ao JPN que o problema mais proeminente reside nos atrasos verificados, “e pior do que atrasos é mesmo o autocarro não aparecer”. “Sou obrigado a ir de táxi, o que claramente é um balúrdio”, acrescentou.

O estudante assumiu sentir um “certo desleixo da própria empresa”, sugerindo que a clarificação e melhor difusão da informação poderiam solucionar o problema. “A única fonte de informação que temos são os sites, e o horário do site raramente corresponde ao horário a que o autocarro realmente aparece”, explicou. Marco sublinhou também as barreiras que estas adversidades podem trazer à vida dos residentes em Paredes: “Acabam por impossibilitar uma vida normal, principalmente à população idosa, que não tem mesmo outro método senão ir nos autocarros”.

Cerca de 100 pessoas juntaram-se este sábado (3) em frente à Câmara Municipal de Paredes para pedir mais autocarros e horários, bem como a reposição dos que existiam anteriormente e lhes permitiam chegar a tempo ao trabalho e à escola. No manifesto partilhado por Glória Marinho, pode ler-se que “nunca se sabe quando existirá autocarro, muitas vezes vão completamente cheios e há gente que fica a aguardar pelo incerto.” Os populares defendem também a existência de transportes adequados às suas “necessidades de trabalho, saúde e educação”.

Durante o protesto, um grupo de manifestantes foi recebido pelo vereador com o pelouro dos Transportes, Paulo Silva, que garantiu que seria lançado, no dia seguinte, uma nova oferta de horário nas linhas que passam pelo Porto. O JPN não conseguiu apurar se esta promessa foi cumprida.

A situação é similar em Vale de Cambra

Maria Brandão, estudante residente na cidade, reforça a imprecisão na apresentação dos horários, que “estão só com uma linha com início e fim, e não têm em conta os transbordos”. O facto da empresa não divulgar todos os horários levou Maria a criar autonomamente um documento “com um apanhado das várias coisas a que tinha acesso”. Mesmo assim, admite ser difícil perceber quais os autocarros que vão, efetivamente, chegar ao destino pretendido.

A dificuldade em aceder aos horários não passa apenas pela falta de informação relativa ao transbordo, mas também pela forma como os documentos no site oficial da UNIR estão organizados. “Aquilo são páginas e páginas, documentos PDF muito extensos, e temos que estar a entrar num documento e, depois, noutro para perceber as ligações [entre as linhas]”. Maria recorre aos transportes cerca de duas vezes por mês para poder regressar a casa da faculdade.

Em declarações ao JPN, uma fonte oficial da Câmara Municipal de Vale de Cambra garantiu estarem a decorrer reuniões constantes com o Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) e a UNIR para que seja possível repor os horários e linhas que existiam no município até à entrada em funcionamento da rede de transportes. O JPN tentou contactar a UNIR, sem sucesso.

A UNIR, que abrange um total de 439 linhas e interliga 17 municípios da AMP, tem revelado fragilidades desde que entrou em funcionamento, a 1 de dezembro de 2023. A supressão de autocarros e os horários não cumpridos marcaram a fase de lançamento do serviço. No primeiro dia de circulação, por exemplo, existiam autocarros sem linhas identificadas e com mensagens em sueco, que confundiram os passageiros.

Plataforma de monitorização de transportes públicos deverá estar em funcionamento “no final do mês de fevereiro”

Na última reunião do Conselho Metropolitano do Porto, Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, disse que “a UNIR teve um caderno de encargos, que foi desenhado pelos municípios, e que só ainda não está totalmente no terreno por falta de capacidade em termos do número de motoristas e de autocarros das empresas que venceram o concurso”. Em declarações prestadas à agência Lusa, Eduardo Vítor Rodrigues sublinhou a diminuição considerável do número de queixas, referindo que, atualmente, a “situação está estabilizada” no concelho de Vila Nova de Gaia. 

Apesar da redução do número de queixas, a autarquia tem em vista o investimento de quase um milhão de euros para instalar postes e as respetivas placas informativas nas paragens das redes de transportes rodoviários do concelho. Esta medida tem como objetivo colmatar os problemas a nível da falta de informação, que tem sido um dos principais pontos de fragilidade da empresa apontados pelos passageiros.

Na sessão da Assembleia Municipal do Porto, que se realizou esta segunda-feira (5), a secretária da Comissão Executiva da Área Metropolitana do Porto, Ariana Pinho, anteviu o funcionamento “em pleno” de uma plataforma de monitorização de transportes públicos “no final do mês de fevereiro”.

No site oficial do serviço de transportes, a empresa promete a reformulação e adequação dos horários dos lotes 2 (Gondomar-Valongo-Paredes-Santo Tirso), 4 (Vila Nova de Gaia-Espinho) e 5 (Santa Maria da Feira-Oliveira de Azeméis-Arouca-São João da Madeira-Vale de Cambra), e que em breve os mesmos vão ser disponibilizados.

Editado por Inês Pinto Pereira