Forças de segurança exigem melhores condições salariais e um suplemento de missão idêntico ao da PJ. O presidente da Associação Nacional Autónoma de Guardas refere que "isto é o culminar de uma forma de destratamento de que as polícias, sobretudo PSP e GNR, têm vindo a ser alvo por parte dos sucessivos Governos".

A concentração, junto ao aeroporto Francisco Sá Carneiro, teve início às seis da manhã Foto: Miguel Rocha Pinto/JPN

Cerca de 150 elementos da Polícia de Segurança Pública (PSP) e Guarda Nacional Republicana (GNR) protestaram, esta quinta-feira (15), junto ao aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, por melhores condições salariais. As forças de segurança exigem um suplemento de missão idêntico ao da Polícia Judiciária (PJ), que consiste numa compensação no vencimento decorrente da alta exposição a situações de risco.

A concentração teve início às seis da manhã e durou até bem perto da hora de almoço. Em declarações ao JPN, Manuel Borges, vice-presidente do Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP), afirmou que os profissionais exigem melhores condições salariais, nomeadamente uma revisão da remuneração básica dos polícias e um suplemento de missão.

Pedro Gouveia, presidente da Associação Nacional Autónoma de Guardas (ANAG), disse que este é um protesto, que “não tendo período para acabar”, “vai estar na ordem do dia, todos os dias”. O objetivo é mostrar o descontentamento das forças de segurança, em especial da PSP e da GNR: “Isto é o culminar de uma forma de destratamento de que as polícias, sobretudo PSP e GNR, têm vindo a ser alvo por parte dos sucessivos Governos, muito particularmente por culpa deste”.

De acordo com o responsável da ANAG, foram cerca de 150 os elementos das forças policiais que se mobilizaram no aeroporto Francisco Sá Carneiro em vígilia. Os profissionais protestaram também em outros aeroportos portugueses e no porto marítimo de Lisboa.

Segundo Manuel Borges, os profissionais tiveram de se revezar ao longo da manhã, já que não têm direito à greve: “Isto é tudo fora do horário de trabalho, conforme a disponibilidade de cada um”.

Na quarta-feira (14), estava convocada uma reunião com o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, para negociar os serviços remunerados com várias estruturas das forças de segurança. No entanto, as forças de segurança recusaram comparecer por considerarem que o Governo queria usar a reunião “como forma de propaganda”, afirmou Pedro Gouveia.

“O Sr. ministro [da Administração Interna] que não diga que há negociações a decorrer, porque não há negociações a decorrer em medida nenhuma”, garantiu o presidente da ANAG.

A segurança pública em Portugal precisa de uma reforma drástica

O JPN falou ainda com um agente da GNR que não integra o sindicato nacional e que preferiu manter o anonimato. Questionado sobre a razão pela qual os profissionais se reuniram numa vigília nos aeroportos de todo o país, o agente afirmou que o Governo se esqueceu “de quem corre riscos na vida”, referindo-se ao suplemento de risco atribuído aos agentes da PJ.

“Já não esperamos nada”, declarou, dizendo que o Governo “se escuda por sermos muitos e gerarmos muita despesa ao Orçamento de Estado”. O agente disse ainda que, ao contrário da PJ que, quando faz uma detenção, “escolhe o momento”, as restantes forças de segurança “não o fazem”. A “PJ solicita à PSP ou à GNR que se faça o controlo da situação” e, só depois “de estar tudo controlado”, é que eles intervêm, disse, acrescentando que “quem corre risco na sociedade somos nós”.

“Não é por ter uma licenciatura que a vida de uns vale mais do que a de outros. Quando estamos a falar de risco, é isto que tem de ser avaliado. O risco da PSP e da GNR é, na nossa opinião, sempre mais arriscado e mais grave do que o da Judiciária”, afirmou Manuel Borges, vice-presidente da SPP-Norte.

Questionado sobre um possível acordo com o Governo após as eleições legislativas, marcadas para 10 de março, Pedro Gouveia afirmou que “a segurança pública em Portugal precisa de uma reforma drástica”, não sendo possível “manterem-se polícias a serem órgãos de polícia criminal com baixos salários”. O responsável pela ANAG disse ainda que “o dispositivo policial português é ímpar” e que funciona como uma “manta de retalhos”, já que expande as suas competências a distintos ministérios, nomeadamente, ao da Administração Interna e da Justiça.

O dirigente sindical reitera que o Governo não pode dizer que “temos muitos polícias” e que não pode “pagar bem a todos” e defende que é necessária uma gestão de recursos mais eficiente.

Editado por Inês Pinto Pereira