No mesmo dia, vão decorrer também duas concentrações no Porto e em Lisboa pela "dignidade" no jornalismo. Luís Filipe Simões, presidente do Sindicato dos Jornalistas, falou ao JPN sobre as dificuldades que o setor enfrenta.

A última greve geral dos jornalistas aconteceu há mais de 40 anos. Foto: Afonso Rodrigues/5º Congresso dos Jornalistas

A greve geral dos jornalistas vai realizar-se a 14 de março, quatro dias depois das eleições legislativas. A decisão foi anunciada esta segunda-feira (19) pelo Sindicato dos Jornalistas (SJ). Para Luís Filipe Simões, presidente do SJ, a escolha da data não foi uma coincidência.

“Sentimos que, havendo consenso em avançar para a greve, não fazia sentido avançarmos durante a campanha […] Uma eleição é um momento determinante também para a democracia, portanto fazemos depois da campanha e das pessoas terem toda a informação”, afirmou o presidente do Sindicato dos Jornalistas, em declarações ao JPN. Luís Filipe Simões disse ainda que, no mesmo dia da greve, vão decorrer também duas concentrações: uma no Porto, no final da manhã, e outra em Lisboa, por volta das 18h, no Largo de Camões.

A convocação da greve geral acontece no seguimento da moção conjunta, aprovada por unanimidade no V Congresso dos Jornalistas, na qual se propunha a realização de uma paralisação geral. “Estou certo de que vai envolver todos os meios, rádio, televisão, imprensa, digital, tudo, tudo”, afirmou. 

Para além dos profissionais da área, estão também envolvidos os vários sindicatos associados. “Envolvemos outros sindicatos que têm jornalistas e fazemos apelo à sociedade civil para se juntar ao grito de alerta, por uma razão: se o jornalismo é um pilar da democracia, vamos pedir à sociedade que de alguma forma esteja ao nosso lado”, reforçou Luís Filipe Simões.

A última greve geral dos jornalistas aconteceu há mais de 40 anos, em 1982. O presidente do Sindicato acredita que o acumular de anos sem paralisações se deveu sobretudo a uma visão romantizada da profissão. “Os jornalistas resistem sempre a parar, por causa daquela coisa romântica de que a nossa missão é informar. Portanto, não podemos parar […] Este é o momento em que nós dizemos: paramos um dia para que todos os dias a seguir a este tenhamos um jornalismo saudável”, disse.

Luís Filipe Simões referiu que o jornalismo vive uma fase de “emergência”. “Os salários são cada vez mais baixos, as condições de trabalho dos jornalistas são cada vez piores […]  Queremos um jornalismo digno com condições dignas de trabalho”, referiu, acrescentando que “dignidade é a palavra desta greve”.

Num ano em que se celebram os 50 anos do 25 de Abril, Luís Filipe Simões relembra que “uma das maiores conquistas de Abril foi a liberdade de imprensa e expressão”. Este ano, mais do que nunca, é importante “cumprirmos o Abril e cumprir a missão do jornalismo, que é informar com rigor, com isenção e independência”, reforçou o presidente do SJ.

Sobre o foco colocado em cima da profissão, Luís Filipe Simões considera-o necessário: “O jornalista não é notícia. O jornalismo tem que ser notícia, deve ser notícia. Para darmos notícias, temos que ser notícia”.

Editado por Inês Pinto Pereira