Ucranianos e portugueses unidos nos protestos pelo fim do conflito no leste europeu, no Porto.
Já passaram dois anos, mas a ferida ainda não sarou. Este sábado (24), centenas de pessoas encheram a Praça Gomes Teixeira – mais conhecida como Praça dos Leões – em frente à Reitoria do Porto, para assinalar o segundo ano da invasão russa da Ucrânia.
A concentração foi organizada pela Associação de Ucranianos no Porto, que se dedica a ajudar os ucranianos na sua integração em Portugal, bem como a enviar mantimentos para o país. A Câmara Municipal do Porto também colaborou na organização do evento.
No local inicial da concentração ouviam-se músicas ucranianas, o hino nacional, cânticos de glória à nação e testemunhos daqueles que escaparam ao terror. Posteriormente, a multidão mobilizou-se numa marcha lenta em protesto pela Guerra, num percurso que se estendeu até aos Aliados, em frente à Câmara Municipal do Porto.
A manifestação pacífica começou às quatro da tarde. No ar viam-se bandeiras e cartazes. Os manifestantes, ucranianos na sua maioria, expressaram-se na sua língua natal, em inglês e em português. Pediam o fim da guerra e das atrocidades, o apoio da União Europeia e a condenação da Rússia. A palavra que mais soava durante o protesto ucraniano era uma: glória.
Para Ivan Muzychak, presidente da Associação de Ucranianos no Porto, o evento foi necessário, “mas podia ser maior”: “Muitos propagandistas dizem que as pessoas já se habituaram [à guerra], mas na minha experiência, não”, explica Ivan. “Sinto-me como há dois anos: mal”, acrescenta.
As emoções estavam à flor da pele, o ambiente estava carregado e sentia-se a união entre ucranianos e portugueses. Ouviu-se “Obrigado, Portugal” pelos esforços em proteger aqueles que aqui procuraram refúgio, bem como todo o apoio fornecido ao país invadido.
Natalia Voloshchuk é ucraniana e está de visita a Portugal pela primeira vez. A universitária mostrou-se grata pela quantidade de pessoas que saíram à rua “não para comemorar, mas para recordar a invasão em grande escala da Rússia na Ucrânia”. Em poucos dias regressa à terra natal, mas leva no coração “muitos portugueses queridos que realmente mostram apoio e compreendem” a situação do seu país.
Natalia explica que já conheceu muitos lusos que apoiam a causa ucraniana mas que, ainda assim, seria benéfico reforçar ainda mais as suas ligações políticas, económicas e culturais entre os dois países. “Como a Ucrânia é um país distante, às vezes, simplesmente não se pensa nisso. Mas quando há uma guerra, percebe-se que não está tão longe como parece”, acrescenta.
Valentyna Zasadko viajou junto com Natalia e em apelo aos portugueses pede para que se deixe de apoiar a Rússia economicamente e para boicotar produtos russos ou aqueles que tenham sido fabricados e transportados no território.
Maria Kryvorchuk está em Portugal há um ano e meio. Ao JPN, a refugiada de Mariupol mostrou-se reticente ao responder a perguntas sobre o passado e sobre a guerra, mas disse estar feliz pela grande adesão ao evento. Ainda assim, confessa que gostaria que fossem ainda mais aqueles a juntar-se à causa e à manifestação. Maria não deixou de expressar gratidão a Portugal, pedindo ao governo para prolongar a estadia dos ucranianos no país: “Temos medo de voltar à guerra. Não é uma experiência agradável. Podemos trabalhar e somos bons cidadãos”, concluiu.
Marta Aguiar não deixou de sair à rua e mostrar solidariedade com a causa. Conta que sempre esteve a par dos acontecimentos da Guerra na Ucrânia, mas só quando conheceu um ucraniano, que se mudou para sua casa, teve esta vontade de se expressar. A portuguesa comparou esta manifestação às que normalmente acontecem em Portugal e concluiu que “é uma causa diferente” e a “atmosfera está muito pesada”, confessa que até já esteve “com as lágrimas nos olhos”.
Para além das centenas de pessoas presentes, ucranianos e portugueses, a Iniciativa Liberal foi convidada a marcar presença no evento. Rui Rocha e Tiago Mayan discursaram em frente à Câmara do Porto e expressaram o seu apoio a Kiev. Os políticos ataram uma fita branca em homenagem às crianças mortas durante a guerra e a eles seguiu-se o resto da multidão, que não deixou passar o tributo.
Assinalados os dois anos da invasão das tropas russas, ainda há esperança que a Guerra termine em breve. “Há muitos portugueses que nos apoiam até hoje e estão com esperança, como nós, que vamos ganhar esta guerra. Não é ‘nós’, ucranianos, mas a Europa e a democracia”, conclui Ivan Muzychak.
Editado por Filipa Silva