Aos 39 anos, o avançado português é um dos grandes destaques individuais da prova, nomeadamente, o jogador que mais esteve em fases finais e com mais golos marcados. Ainda assim, Cristiano Ronaldo pode quebrar outras cinco marcas na Alemanha.

Cristiano Ronaldo

Cristiano Ronaldo é o jogador com maior número de participações na Euro e pode aumentar as suas marcas na Alemanha. Foto: Federação Portuguesa de Futebol.

Cristiano Ronaldo é um dos maiores detentores de recordes no futebol mundial, não só em clubes, mas também pela seleção. Se se confirmar a sua presença na convocatória de Roberto Martínez para o Europeu deste ano, Ronaldo vai aumentar a lista de marcas.

O avançado terá 39 anos e 135 dias no dia 18 de junho, data do primeiro jogo de Portugal no Europeu de 2024, contra a República Checa. Se pisar no relvado, o capitão português tornar-se-á o jogador de campo mais velho a participar num Campeonato da Europa, superando Lothar Matthäus quando o alemão defrontou Portugal aos 39 anos e 91 dias, no Euro 2000.

Já o registo de mais velho de sempre continua a ser do guarda-redes Gábor Király. O jogador da Hungria disputou os oitavos de final, em 2016, depois de empatar por 3-3 contra Portugal na fase de grupos (e de sofrer dois golos de Ronaldo). Naquela ocasião, os húngaros foram derrotados pela Bélgica e Király tinha 40 anos e 86 dias de idade.

Sendo o maior goleador em atividade no futebol, com 875 golos, Ronaldo também poderá tornar-se o jogador mais velho da história dos Europeus a marcar. O capitão superaria o austríaco Ivica Vastic, que marcou de grande penalidade no empate frente à Polónia no Europeu de 2008, com 38 anos e 257 dias de idade.

Caso vença a final, Ronaldo marca um “hat-trick” de recordes

A final do Campeonato da Europa está marcada para o dia 14 de julho de 2024, no Estádio Olímpico de Berlim. Caso Portugal alcance o jogo da grande decisão, Ronaldo jogaria com 39 anos e 161 dias. Assim, seria também o jogador mais velho a disputar uma final. O atual recordista é o antigo guarda-redes alemão Jans Lehmann, derrotado pela Espanha em 2008, aos 38 anos e 232 dias.

Outro título que poderá ser conseguido pelo camisola 7 é tornar-se no jogador mais velho a marcar numa final. No último Campeonato da Europa, em 2020, o central italiano Leonardo Bonucci marcou frente à Inglaterra, na grande decisão, com 34 anos e 71 dias.

O terceiro recorde, em caso de vitória portuguesa, será o de único jogador não espanhol a vencer duas edições de Europeu. O bicampeonato de la roja, em 2008 e 2012, contou com Casillas, Pep Reina, Raúl Albiol, Álvaro Arbeloa, Sergio Ramos, Xavi, Iniesta, Xabi Alonso, David Silva, Santi Cazorla, Cesc Fábregas e Fernando Torres. Assim como Ronaldo, outros portugueses que estiveram no plantel de 2016, como Pepe, Raphael Guerreiro, William Carvalho e Danilo podem atingir o mesmo feito.

Aquele que parece ser o recorde menos provável de ser quebrado pelo avançado do Al-Nassr é o de mais velho melhor marcador de um Europeu. Isto porque Michel Platini marcou nove golos no Euro 1984 aos 29 anos e seis dias. A melhor marca de golos de Cristiano Ronaldo é cinco tentos, marcados no Euro 2020.

Os recordes que “perseguem” Cristiano Ronaldo

A nível de seleções, Cristiano Ronaldo já é o jogador mais internacional de sempre, com 205 jogos pela seleção principal de Portugal, além de ser quem mais marcou golos pela equipa do seu país, com 128.

Em termos de campeonato europeu, Ronaldo é o campeão em termos de jogos e golos. O avançado português detém o maior número de presenças na fase final (cinco), é quem fez mais jogos na fase final (25) e também na qualificação (68).

Por outro lado, Cristiano Ronaldo é quem mais marcou golos em fases finais do Euro, 14, marcando nas cinco oportunidades em que marcou presença. Somando também a fase de qualificação, o mais internacional de sempre por Portugal marcou 55 golos.

Portugal não devia ser “tão dependente” do Ronaldo

João Nuno Coelho, comentador de futebol da TSF, considera impressionante que o avançado detenha quase todos os recordes em termos de jogos e golos. No entanto, assume algumas dúvidas sobre o rendimento do capitão frente aos “melhores jogadores do mundo”, tendo em conta que Cristiano Ronaldo está há duas épocas no futebol saudita, onde o nível é “certamente mais baixo”.

Sobre um possível estatuto de favorito da seleção portuguesa, o sociólogo e autor de livros sobre futebol cita o ex-treinador Fernando Santos para deixar clara a diferença entre candidato e favorito. Para o jornalista, apenas a França pode ser digna de favoritismo. Afirma, no entanto, que “basta um jogo correr mal e tudo muda, o que faz com estas provas tenham piada”. Aponta Portugal como um dos fortes candidatos, junto de Inglaterra, Alemanha, que joga em casa, apesar da má fase, Espanha e Itália.

João Nuno Coelho acredita que o desempenho da seleção das Quinas também está condicionado pelo nível de Ronaldo, mesmo considerando que Portugal tem outros jogadores em momentos excelentes, como Bruno Fernandes ou Bernardo Silva. O comentador aponta que a importância de Cristiano Ronaldo vai além da sua qualidade desportiva, relacionando-se também com a liderança. Ainda que discorde, o jornalista reconhece que mudar isto não será fácil.

“Penso que Portugal não deveria ser tão dependente do fator Ronaldo. Ele tem 39 anos, mas [a presença dele] é quase uma questão sociológica. É muito difícil dar um salto para o pós-Ronaldo para o grupo e também na federação”, sublinhou.

Convidado a apontar “novos Ronaldos”, o comentador da TSF pensa que, ainda que jogadores como Kylian Mbappé, Erling Haaland e Vinícius Jr. tenham muito potencial e possam alcançar números incríveis, atingir as metas de Cristiano Ronaldo é “realmente muito difícil”.

Já olhando para trás, questionado sobre jogadores europeus que tiveram números semelhantes ao português, João Nuno Coelho apontou nomes como Gerd Müller e Ferenc Puskás. Mesmo que Müller tenha marcado uns incríveis 68 golos em 62 jogos pela Alemanha, enquanto Puskás anotou 84 tentos em 85 partidas pela Hungria, nenhum deles num Europeu, os jogadores não detêm nenhum recorde no Campeonato da Europa.

João Nuno Coelho apontou uma evolução de Portugal com a chegada de Roberto Martínez, que venceu todas as dez partidas disputadas nas eliminatórias do Euro, marcando 36 golos e sofrendo apenas dois. “Houve a libertação de alguns jogadores, como o Bruno Fernandes. Outra coisa positiva relativamente à equipa de Fernando Santos é saber usar os jogadores de maneiras diferentes. A equipa está preparada para jogar e ser eficaz em, pelo menos, dois sistemas”, pontuou.

Relativamente ao grupo F, onde Portugal está inserido com Turquia, República Checa e o vencedor do play-off C (Geórgia, Grécia, Cazaquistão ou Luxemburgo), João Nuno Coelho acredita que a seleção não pode cometer o “erro típico de pensar nos oitavos quando estão em grupos aparentemente fáceis”.

Destaca ainda as seleções da Turquia e da República Checa, que têm “alguns jogadores que atuam nas principais ligas da Europa”, além de poderem contar com milhares de adeptos a apoiar nas bancadas alemãs.

Editado por Filipa Silva