O objetivo do projeto é ajudar os mais jovens a aprofundarem os estudos e conhecimentos geológicos e potenciar o crescimento da litoteca física. O site deverá ser lançado oficialmente em maio.

Outras coleções são guardadas em oito armários da litoteca. Foto: Nádia Neto/JPN

Depois de vários meses de trabalho, a litoteca digital da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) está concluída. O protótipo final foi apresentado esta terça-feira (19), na biblioteca da FCUP.

A litoteca digital surgiu da necessidade de revelar o que está escondido, neste caso, o legado das rochas da FCUP, como suporte à litoteca física. “Foi o que fizemos: ‘Reveal the Underground’, mostrar o que está escondido”, disse Emília Dias Costa, professora e coordenadora do projeto, ao JPN. O objetivo é “trazer para todos uma litoteca bastante inacessível. Até porque ela está no piso -2”, referiu. 

Em relação ao projeto, as expectativas são elevadas. Para além de abrir a porta da litoteca”, o projeto visa ajudar os mais jovens, nomeadamente “os alunos do secundário”, a aprofundarem os estudos e conhecimentos geológicos. E, claro, potenciar o crescimento da litoteca física, com a sua divulgação, uma vez que o público em geral não a pode visitar, apenas estudantes e investigadores.

Não é uma parceria inédita entre as faculdades de Ciências, Letras e Belas Artes. O projeto envolveu cerca de 20 alunos da disciplina de comunicação visual e design. Os alunos passaram a primeira fase do projeto a recolher e a fotografar amostras de rochas, escolhidas por Bruno Teixeira, geólogo e coordenador da litoteca. Mais tarde, começaram os primeiros testes do site até chegarem ao resultado final.

O projeto não se limita a apresentar as rochas tal como são. Com vídeos e infográficos, “mais ilustração e menos realismo”, a litoteca digital é dinâmica, simples e sem linguagem científica complexa. A informação é apresentada em inglês, “porque é o latim do século XXI”, afirmou Emília Dias Costa. O site funciona como um mapa de rochas magmáticas, metamórficas e sedimentares, bem como minerais. Com os olhos postos no futuro, o site deverá também incluir informações sobre fósseis.

O site tem um espaço dedicado à “ciência alimentada pelo cidadão” – ‘Litizen Science’. A ideia é que quem quiser possa contactar a própria litoteca para tirar dúvidas, que vão ser respondidas por geólogos da faculdade, ou até para enviar rochas para análise.

O que é uma litoteca?

Uma litoteca assemelha-se a uma biblioteca, mas, em vez de ter livros, tem rochas, minerais e fósseis. Basta ter em atenção a própria palavra, ou não fosse lithos significar rocha e teca  significar armazenamento. 

Mas, o que torna a litoteca especial? “Alguém quer saber como é, por exemplo, o aspecto do mármore, vamos supor, do mármore da zona do Alentejo, mármore de Estremoz, uma rocha conhecida. Se tivermos essa rocha catalogada num local devidamente identificado, saber onde ela está, podemos vê-la e mostrá-la ao público em geral. Alguém que a queira estudar pode estudá-la de novo”, explicou Helena Sant’Ovaia, professora e geóloga do  Departamento de Geociências da FCUP, ao JPN.

 “Abrir a porta da litoteca”

Boa parte do trabalho de Bruno Teixeira tem sido realizado na litoteca da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Nádia Neto

Na litoteca da FCUP, no piso -2, acumulam-se amostras recolhidas pela comunidade académica, desde que há memória. Licenciado e com mestrado em geologia, Bruno Pereira estuda-as e organiza-as para melhorar o arquivo. Está há mais de um ano a coordenar a litoteca e, segundo o próprio, os fósseis são a principal atração.

O valor da litoteca é difícil de calcular e “relativo”, uma vez que arquiva rochas já inacessíveis, muitas delas, ao ser humano. Neste sentido, tem mais valor pela “inacessibilidade” e “indisponibilidade”, diz Helena Sant’Ovaia, professora e geóloga. Como se tratam de peças valiosas, as visitas têm de ser orientadas pelos professores ou pelo geólogo. 

E qual é a coleção mais antiga? Ao certo, Bruno não consegue identificar, mas sabe que “tem aqui coleções com mais de 100 anos”. “Rochas de locais que, neste momento, já não se consegue obter. De minas que já estão fechadas”, por exemplo, referiu ao JPN. Já a professora Helena Sant’Ovaia vai mais longe: “Aqui, temos rochas do subsolo do Porto, obtidas por professores, sei lá, na década de 50”.

No entanto, segundo o geólogo, poucos alunos acabam por ter conhecimento do espaço. “Às vezes, sabem que existe, mas nunca lá foram. Não têm noção das coisas boas que lá há para eles próprios poderem estudar”, disse.

O próximo passo? Bruno Teixeira quer também criar uma base de dados com todas as rochas e “espólio da litoteca”. O “Reveal The Underground” deverá ser lançado oficialmente em maio, no servidor da FCUP, mas também vai ter um domínio independente.

Editado por Inês Pinto Pereira