Posições extremadas, troca de acusações, visões diferentes de um modelo que se pretende para o sucesso. As negociações entre a reitoria da Universidade do Porto (UP) e o Centro Desportivo Universitário do Porto (CDUP) para colocar um ponto final num conflito que dura há quatro anos estão longe de terminar. A situação permanece de tal forma num impasse que há quem admita o fim do clube.
“Com a situação a continuar assim por muito mais tempo, o CDUP não tem condições para continuar a sua actividade. Há alturas em que pensamos se todos estes atrasos serão uma forma de encostar-nos à parede e de obrigar-nos a desistir, porque a reitoria tem-nos dificultado toda a actividade no CDUP”, acusa João Tiago Silva, vice-presidente do clube.
Luís Miguel Álvares Ribeiro, antigo presidente do CDUP, vai mais longe e responsabiliza a reitoria por um eventual desaparecimento do CDUP. “O que a equipa reitoral pretende é o fim do CDUP. Aliás, tem dado todos os passos nesse sentido”, afirma.
A reitoria, no entanto, rejeita liminarmente essas acusações. “Isso é uma ideia peregrina do professor Álvares Ribeiro. O CDUP esteve ligado à UP mais de 40 anos e agora queria fazer acabar o CDUP?”, responde Manuel Janeira, pró-reitor e responsável pela política desportiva da UP.
Propostas e contra-propostas
A verdade é que, entre propostas da reitoria e contra-propostas do CDUP, o caso arrasta-se no tempo e as instalações, a precisar de obras urgentes, definham e estão cada vez mais abandonadas. A reitoria aguarda uma resposta do CDUP à proposta feita “há pelo menos dois meses”, na versão de Manuel Janeira, ou “há duas ou três semanas”, segundo garante João Tiago Silva.
“Para nosso espanto, a proposta foi enviada sem incluir nenhum dos nossos pontos, mostrando um pouco de intransigência em relação a todo este processo negocial. Estamos a elaborar nova resposta e estará para breve essa resposta”, promete o vice-presidente.
Manuel Janeira responde: “É completamente falso. As propostas incluíram tudo o que a reitoria aceitou, apenas fizemos uma alteração relativamente a um ponto que o CDUP fez uma sugestão de alteração. Agora, o que não conseguimos ter é uma resposta rápida por parte do CDUP e com estes”.
Divergências sem fim à vista
As duas partes divergem também quanto ao estado em que se encontram as negociações. A reitoria assegura que faltam alinhavar algumas questões de pormenor, enquanto o CDUP diz que há ainda um desencontro “considerável” relativamente à verba que a UP pretende pagar como contrapartida pelo investimento feito nas instalações por parte do CDUP.
“São valores consideráveis, mas tendo em conta o dinheiro gasto em termos de recuperação de instalações e de materiais, achamos que é justo”, explica João Tiago Silva. Manuel Janeira, por seu turno, diz que isso já está acordado, mas escusa-se a revelar o montante em causa.
A proposta da reitoria assenta fundamentalmente em dois pontos: tornar o clube mais autónomo através da separação da gestão do desporto universitário, a cargo da reitoria, do desporto federado, da responsabilidade do CDUP. O financiamento por parte da reitoria dependeria do número de alunos que o CDUP consiga atrair.
“A meta colocada por parte da reitoria é uma fasquia muito elevada e quem assumir os destinos do clube vai ter uma tarefa muito árdua”, avisa João Tiago Silva, que discorda da separação proposta pela reitoria, mas admite que “para o CDUP poder continuar vivo” a direcção tenha que fazer algumas cedências.
De acordo com Manuel Janeira, esta foi a última proposta que a reitoria fez ao CDUP. Se não houver acordo, o pró-reitor da UP não coloca de lado a hipótese de o caso ser resolvido nas instâncias judiciais, mas garante que ela ainda não foi equacionada pela reitoria.
“Não me parece que seja necessário recorrer aos tribunais para resolver um assunto desta natureza. Esperamos é que nos respondam rapidamente à nossa proposta”. A bola parece estar agora do lado CDUP.