Com o objectivo de “explorar as potencialidades” do gadget da Apple e com o desejo, comum a todas as iniciativas do Serviço Educativo (SE) da Casa da Música (CdM), de “fazer música em grupo”, decorreu este sábado, dia 9, o primeiro workshop Sons do Dia dedicado ao iPhone.
A orquestra de iPhones, liderada por Filipe Lopes e Rui Penha , começou o workshop ainda de manhã, numa das salas de ensaio, mas foi só à tarde que o JPN se lhes juntou. A sessão da tarde começou no gamaleão, instrumento musical originário da Indonésia que, no ano passado, foi estrela de um seminário a ele dedicado e aberto apenas ao público especializado.
Sons do Dia
Sons do Dia é o nome de um dos workshops do Serviço Educativo (SE) da Casa da Música. Realizados sempre a um sábado, a particularidade, para lá do calendário, está no trabalho de criação acabado que desenvolve. Depois das suas sessões de trabalho, uma matinal e a outra vespertina, segue-se a apresentação do resultado das várias horas de trabalho.
Divididos os participantes por cada uma das secções do gamelão (três iPhones por instrumento), o objectivo era, através de software desenvolvido pela própria CdM, controlar as diferentes peças do colectivo de percussões usando o iPhone como interface e como baqueta à distância. Ou seja, cada participante definia alguns critérios no touchscreen do iPhone e a seguir, abanava no ar o gadget para que a secção correspondente ao seu iPhone reagisse, activando uma baqueta automatizada que percutia o gamelão robótico.
O entusiasmo em controlar um instrumento com um movimento do telemóvel foi notório, sobretudo nos participantes mais jovens, dificultando a tarefa de orientação dos monitores.
Na segunda parte, na sala VIP do piso inferior, a exploração foi mais livre e individual. Os participantes espraiaram-se pelo espaço, alguns munidos com mini-colunas ligadas ao iPhone, explorando agora outro software à disposição. As possibilidades de criação musical surpreenderam muitos dos participantes, sobretudo pela abrangência de registos das aplicações: desde “Ocarina”, que emula o instrumento de sopro com o mesmo nome, até ao “Looptastic”, em que o participante compõe através de loops.
Depois de alguns ensaios conjuntos à volta de uma composição original e da mais conhecida “Cânone em Ré Maior” do compositor barroco Pachelbel (interpretada por todos no software da Smule “Ocarina”), seguiu-se a apresentação ao público, constituído por pais e amigos dos participantes, mas também alguns curiosos.
“Por mais gente a fazer música”
Terminado o Sons do Dia, o JPN conversou com Rui Penha, um dos monitores do workshop e curador da Digitópia, que explicou que a ideia surgiu pela “questão da mobilidade” que o iPhone permite enquanto computador de bolso e graças à “explosão de aplicações” que lhe permitem ser uma “plataforma muito interessante”. “Queremos fazer música com tudo”, resume o músico.
Quanto a expectativas, Rui Penha é da opinião que esta primeira experiência serviu para “perceber as expectativas das pessoas” em relação à “música que é possível fazer com um telemóvel” e perceber “que estratégias resultavam” com um grupo de não-músicos em tão pouco tempo. “Foi bom para começar, mas espero que haja oportunidade de fazer um trabalho mais continuado e mais profundo, hoje foi um abordagem superficial mas divertida”, resume o monitor que promete mais sessões para o futuro. “Eventualmente o iPhone encontrará o seu lugar noutros workshops”, adivinha Rui Penha, enquanto guarda a esperança de “ter uma orquestra de iPhones em permanência”.
Apesar da primeira experiência estar inserida num ramo diferente do SE, este workshop de iPhones teve algo de Digitópia, pela informalidade do convívio, pela partilha, pelo âmago digital e porque um dos monitores é Rui Penha. “A orquestra de iPhones é uma evolução natural da Digitópia e, de certa forma, o espírito da Digitópia contagiou outras actividades da CdM” na medida em que “queremos acreditar que conseguimos por mais gente a fazer música”, concorda o curador.
“Qualquer dia, os ‘skaters’ aí fora poderão estar a usar software da CdM para fazer música enquanto fazem skate e, por que não, usar o acelerómetro que têm no telemóvel que está no bolso para fazer uma banda sonora que acompanha em tempo real o movimento do skate”, deseja Rui Penha, que promete mais concursos e seminários para o projecto do SE, do qual é curador.