Mara Batiste “sempre” teve o sonho de adoptar uma criança. Uma espera que a fez “sonhar”, “desesperar e esmorecer”, “cair e voltar a levantar”. Leu “tudo” o que havia para ler sobre adopção, pensou em mil e uma soluções para conseguir atingir o seu objectivo de vida.
“Para depois chegar à conclusão que pior do que a minha espera, só a espera dele pela minha – um dia dele – família.” Um propósito que, finalmente, foi alcançado, quando Mara Batiste conseguiu, juntamente com o seu companheiro, adoptar um menino de nove anos.
Já Maria Pereira assumiu desde cedo a intenção de adoptar uma criança diferente, uma criança “que ninguém quisesse”. Acabou por adoptar Bruno, uma criança negra com Trissomia 21. “Se eu já me tinha apaixonado pela história do Bruno, depois de o ver foi impossível dizer-lhe que não”.
Rute (nome fictício) partilhou o mesmo sonho. Avançou para a adopção numa altura complicada. Estava sozinha, acabara de se divorciar. Acabou por adoptar uma menina negra de oito anos e não nega que teve de enfrentar vários preconceitos. Por ser uma criança de cor, adoptada por uma mãe solteira.
Apesar dos problemas, Rute não tem dúvidas de que foi a melhor decisão que já tomou: “O carinho que ela me dá em troca de todas as dificuldades é muito.”
O problema “está nas pessoas”
Seis anos foi o tempo que João (nome fictício) teve de esperar para obter a paternidade do filho. “O processo de adopção foi lento, foi complicado, foi frustrante”, acusa. Cansado de esperar, João optou por uma segunda adopção, desta vez, a nível internacional, em particular em Cabo Verde. “Chegámos à conclusão que não queríamos estar de novo à espera seis ou sete anos para ter um filho.”
João acredita que o problema não está nas leis da adopção, mas sim nas pessoas. “São as pessoas que estão na Segurança Social, são as pessoas que estão nos Centros de Acolhimento, são os juízes que estão nos tribunais de família. Se nós olharmos para a lei e para o processo, é uma coisa simples. O problema está nas pessoas que não cumprem as leis”, afirma.
Ainda para mais, acusa, é “mentira que exista uma lista nacional” de espera para a adopção. “As assistentes sociais do distrito onde me inscrevi disseram-me que não utilizam a lista porque só trabalham com os candidatos e as crianças do distrito. E isto é só um exemplo de como as coisas não funcionam”, acusa.
A adopção como “um acto de egoísmo”
Pai biológico de uma menina, João confessa ver a adopção “como um acto de egoísmo”. “A maior parte das pessoas não tem a intenção de ajudar uma criança, mas sim de ser pai e isso é um acto de egoísmo. Nós queremos ser pais e não olhamos a meios para o sermos.”
Mas para João, a realidade foi diferente. “Para mim, adoptar uma criança foi ter um filho.”
Também Maria Pereira partilha desta visão. “Eu costumo falar muito na adopção enquanto um acto de egoísmo. A maior parte dos candidatos à adopção em Portugal querem um bebé, um nenuco de olhos azuis e cabelo loiro. Eu tenho o meu nenuco que por acaso tem olhos castanhos, é castanho e tem Trissomia 21. Todos nós procuramos o nosso nenuco à nossa maneira”, afirma.