Esta quinta-feira, o Curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto recebeu o jornalista Alexandre Gamela, para uma conferência acerca das transformações do jornalismo em função das novas ferramentas da Web.

Alexandre Gamela defendeu que “estamos a atravessar uma revolução com impacto semelhante à da máquina a vapor”. A web tem proporcionado novos paradigmas de desenvolvimento social e os Media são uma das áreas que mais se tem transformado.

Os percursos da informação, as características dos conteúdos e o papel dos jornalistas foram os aspectos mais focados pelo orador como pontos de mudança.

Alexandre Gamela

É jornalista e tem dedicado os últimos anos ao estudo dos Novos Media. É autor d’O Lago, um blog que tem sido referenciado em alguns dos melhores sites nacionais e estrangeiros sobre o futuro do jornalismo, e que faz parte da lista dos Best of Journalism Blogs do Journalism.co.uk.

Quanto ao percurso da informação, Alexandre Gamela defende que se verifica um “efeito tornado”. A disseminação da informação passou de uma comunicação unidireccional, com uma relação vertical entre acontecimento, media e audiência para um modelo de disseminação “mais horizontal”, em que a comunicação é “relacional”, fazendo-se em vários sentidos, através de uma partilha entre o media e a audiência. Em volta do acontecimento surge um tornado de informação e, “no meio do ruído”, surge “informação verdadeiramente importante.”

As redes sociais são as plataformas que mais contribuem para o surgimento deste “tornado de informação”. Nesse sentido, Alexandre Gamela revelou o desejo de criar uma “ferramenta para medir o impacto das notícias nas redes sociais”.

Uma outra alteração decorrente da “revolução” de que falou o especialista diz respeito à durabilidade das notícias. Anteriormente, segundo explica Gamela, “o ciclo de vida da notícia assemelhava-se ao de uma árvore de folha caduca”. Agora, verifica-se uma nova forma de jornalismo, o “jornalismo base de dados”, pois a informação permanece online.

Para fazer face a esta mudança de paradigma, o desenvolvimento do jornalismo deve centrar-se no conteúdo. Segundo refere o especialista, “o desenvolvimento não deve centrar-se apenas na tecnologia”, deve trabalhar-se fundamentalmente o conteúdo, de modo a que se adapte aos novos canais de comunicação, às novas linguagens e aos novos públicos que têm vindo a surgir.

“É preciso valorizar a interacção”

De acordo com Alexandre Gamela, as competências necessárias ao jornalista acabaram também por se alterar. “O jornalista do futuro tem de saber fazer um pouco de tudo”, trabalhando áudio, editando vídeo e fotografia, percebendo de design e de informática. “Essas competências são fundamentais para se poder comunicar com os especialistas”, explica.

Por outro lado, o jornalista deixa de ser o orador da informação, para assumir um papel de moderador. “É mais um polícia de trânsito do que um investigador privado”, disse Gamela, explicando que cada vez mais o papel do jornalista é “remisturar e tornar coerente o fluxo de informação”, conferindo-lhe também credibilidade.

Em relação ao futuro da profissão, Alexandre Gamela defende que não se deve perder o facto de “o jornalista trabalhar para a sociedade”. Nesse sentido, e tendo em conta as potencialidades da web, “é preciso valorizar a interacção”. Segundo o jornalista, é necessário “encarar o público como pessoas a sério” e ter interesse pelo que elas sabem e precisam realmente saber.

Hoje em dia, “as pessoas não se interessam e, por isso, não compram jornais e os jornais não se interessam pelas pessoas, pelo que elas precisam”. Para contrariar esta tendência, Gamela acredita que a filosofia dos cursos de comunicação “tem de ser repensada”.