Manuel Jorge Marmelo é portuense de gema. Nasceu, na cidade do Porto, em 1971. Desde a sua adolescência que sentiu que o seu futuro profissional “poderia de algum modo passar pela escrita”. Assim, formou-se em jornalismo, em 1989. Hoje trabalha no jornal “Público”, tendo já vencido o prémio de Jornalismo da Lufthansa, em 1994, e a menção honrosa dos Prémios Gazeta de Jornalismo do Clube do Jornalismo / Press Club.

Do jornalismo à literatura foi um passo. No ano de 1996, lançou o seu primeiro livro, “O Homem que Julgou Morrer de Amor”, e desde aí já escreveu inúmeras obras, entre as quais “As mulheres deviam vir com livro de instruções”, “O Silêncio de Um Homem Só”, “Aonde o vento me levar” ou “As sereias do Mindelo”, o seu último livro.

Apesar de conciliar as duas actividades, não se assume como um jornalista escritor, pois as duas profissões poderiam entrar “em conflito” uma com a outra. “Enquanto jornalista estou obrigado a manter fidelidade aos factos”, sublinha Manuel Jorge Marmelo, por isso prefere “manter a distinção”.

As viagens estão presentes nos seus livros, no entanto não considera que é a escrita que o motiva a viajar ou que são as viagens que o inspiram a escrever, pois, como afirma, viaja “mais profissionalmente do que em lazer”. Utiliza sim a literatura “para fazer as viagens”. As viagens presentes nos seus livros são as “imaginadas” por si, referindo como exemplo o livro “Aonde o vento me levar” que “é uma espécie de viagem por África”, onde Marmelo “nunca tinha indo” antes de escrever o livro. Para o escritor, o conhecimento pode adquirir-se também através de “fotografias, livros, textos históricos”.

Quanto à criação do próprio livro, Manuel Jorge Marmelo afirma que isso “varia muito de livro para livro”, não havendo “nenhuma receita” e, por isso, a estrutura inicial pode mudar durante o período em que se escreve o livro. “As sereias do Mindelo”, por exemplo, estava para ser “inicialmente um conjunto de contos”. “Acabei por alterar a estrutura e introduzir alguns elementos que permitissem coser os vários contos.”

De todos os livros que já publicou, Manuel Jorge Marmelo não consegue referenciar o livro que mais prazer lhe deu escrever. “O prazer da escrita é igual para todos. Posso ficar é mais ou menos satisfeito com o resultado final.” “Aonde o vento me levar” e “As sereias do Mindelo” são, para o autor, os livros “melhores conseguidos”. “Têm sinais de que fui melhorando e aprendendo alguma coisa com o processo de escrever livros.”

Manuel Jorge Marmelo mantém uma “relação boa” com os seus livros e já aconteceu surpreender-se a si próprio com aquilo que escreveu. “Há um livro que já tem seis ou sete anos, chamado ‘Fantasmas de Pessoa’ que eu peguei nele há uns tempos, comecei a relê-lo e impressionei-me a mim próprio com aquilo que eu escrevi, com a fluência do livro”.

“Vive-se muito dentro dos livros”

Para Manuel Jorge Marmelo, a “magia” que o livro tem condicionou tudo aquilo que é hoje. O escritor afirma “viver muito dentro dos livros” e é através deles que Manuel Jorge Marmelo já foi “a uma enorme quantidade de sítios sem sair do sofá”, revelando que, em muitos casos, a viagem imaginária é “melhor” do que as viagens reais.

Hoje, sexta-feira, é o Dia Mundial do Livro, uma data que passa despercebida para muitos, até porque Portugal continua a apresentar um baixo índice de leitores. Para Manuel Jorge Marmelo, o que falta no país não são melhores escritores ou melhores leitores, mas sim “uma melhor educação” para as pessoas acederem “a esse bem cultural com mais possibilidades”. “A cultura de massa do nosso país é, essencialmente, televisiva.”

Quanto ao futuro do livro, Manuel Jorge Marmelo não crê que o livro em papel acabe. “Creio que existirão sempre leitores que não dispensarão o livro em papel”, pois a relação que se cria com o livro em papel é “completamente diferente”. “A vertente sensitiva do toque, do cheiro” que não está presente no livro electrónico faz com que o livro em papel não acabe, até porque, como refere o autor, os livros electrónicos “cansam mais a vista”.

Relativamente ao futuro, Manuel Jorge Marmelo afirma que um novo livro está a caminho. No entanto, prefere não falar sobre isso. Uma coisa é certa, o seu futuro continuará ligado à escrita, invariavelmente enquanto jornalista e escritor. Mas de uma coisa não tem dúvidas, se pudesse “viver” da literatura, “abandonaria” o jornalismo.