Para uns é um sonho mas, para outros, é um caminho sem saída. Ser mãe é uma entrega que nem todos estão dispostos a assumir, enquanto há quem esteja destinado a não a viver. A esses, a maternidade tarda, mas vem. “Quando me apercebi que não conseguia alcançar, avancei para a adopção”, conta Bernardina Correia, mãe adoptiva da Inês.
Aos 35 anos, Bernardina entra num processo de adopção que, durante dois anos, a levou a preencher um questionário com mais de 40 folhas e a ter várias reuniões com psicólogos, que chegaram a ir diversas vezes a sua casa. Inês chegou aos braços de Bernardina com cinco meses, depois de um telefonema “às 17h40, de uma quinta-feira”, lembra a mãe, que sentia uma necessidade muito grande de ter uma filha. “Naquele momento senti que era o nascimento dela”, acrescenta.
Uma mãe que “todos os dias ia à caixa do correio para ver se já tinha uma criança” e que nunca pensa que a Inês é adoptada, “porque ela é minha”, realça Bernardina. Não escondeu as origens de Inês e, ao longo do tempo, foi-lhe contando que não tinha saído da barriga da mãe. Aos 12 anos, “sentamo-nos na mesa e, olhos nos olhos, contei-lhe toda a verdade”, partilha Bernardina.
“Ela não me vê exactamente como mãe”
“Desde pequena que tinha a ideia de querer adoptar”, conta Maria (nome fictício), mãe adoptiva da Joana (nome fictício). Há nove anos, Maria, já com uma filha biológica, decide levar para casa uma criança de dez anos, que conhecia de uma instituição. Depois de um processo de aproximadamente dois anos, Joana junta-se à família. “Foi complicado para toda a gente”, confessa. As duas filhas foram criando uma relação um pouco inconstante em que “primeiro davam-se bem, depois mal e depois como irmãs, mais ou menos”, revela.
“Ela não me vê exactamente como mãe”, confessa Maria. Sem conseguir desvendar os sentimentos de Joana, Maria acredita que é vista “como uma tia que tomou contou dela”, tendo em conta que Joana “conheceu a mãe”. Já em relação ao resto dos familiares, “sente-os como a sua família”, comenta Maria.
Um processo de adopção que “exigiu imensa coisa”, “muitos papéis, muitas idas ao tribunal”, o que tornou a fase de espera “muito chata”, considera Maria. Acrescenta que, “a partir do momento em que nos entregam a criança, nunca mais querem saber”, o que para a mãe “não deixa de ser estranho”.
Inês, com 14 anos e Joana, com 18, são duas jovens adoptadas, que trazem a uma mãe em lista de espera o sorriso que falta quando a natureza troca os caminhos.