Apesar de ser muito normal associar a violência doméstica aos casamentos, a investigadora da Universidade do Minho, Sónia Caridade, apresenta um estudo que coloca em destaque a existência de actos de violência nas relações de namoro em grupos etários mais jovens.
Com uma amostra de 4667 jovens com idades entre os 13 e 29 anos, o estudo concluiu que, dentro do quadro das vítimas, 20% dos casos sofreu violência emocional, 13% violência física e 20% agressões mais severas. No que respeita oa quadro dos agressores, as percentagens não foram muito diferentes. 22% admitiu ter recorrido à violência emocional, 18% à violência física e 7% a agressões mais severas.
Sónia Caridade refere que, de uma forma geral, nas relações de namoro, os actos mais preponderantes são os de “menor gravidade”, nomeadamente, “insultos, difamações, bofetadas e gritos”. Contudo, a investigadora destaca que os actos de violência de maior gravidade, tais como, “ameaças com armas, forçar outra pessoa a manter actos sexuais” estão também presentes, apesar da pouca representatividade.
Apesar do estudo desenvolvido pela investigadora não apresentar dados muito conclusivos quanto ao género, Sónia Caridade afirma que foi verificada alguma “paridade de género” quanto aos padrões da vítima. Destaca que “as mulheres assumiram usar a violência física nas suas relações de namoro”, de uma forma mais recorrente, uma vez que estas “assumem mais facilmente os problemas quando as coisas correm mal nas relações de namoro”.
Como é que a vítima entende as agressões?
A forma como os jovens identificam e interpretam os actos de violência está relacionada, segundo a investigadora Sónia Caridade, com a atribuição destes actos a “causas familiares”, sobretudo quando a vítima vive num contexto familiar atribulado. As “explicações individuais”, como por exemplo os “ciúmes” ou possíveis “patologias apresentadas pelo agressor”, são algumas das respostas encontradas pelas vítimas para justificar as agressões.
A investigadora refere, ainda que “há uma tendência por parte dos jovens a atribuir estas dinâmicas mais agressivas a explicações mais individuais”. No entanto, com o estudo procuraram-se “explicações mais sociais”, uma vez que existe uma tendência para os jovens “legitimarem e minimizarem estas formas de violência”.
O medo da denúncia
Sónia Caridade refere que 25% dos inquiridos relataram ter sofrido algum tipo de violência e 31% assumiram terem sido agressores. A percentagem de vítimas pode ser justificada pelos “receios de retaliações” e pelo “medo de desacreditação” que envolve a denúncia destes actos.
A investigadora conta que muitas destas relações de namoro “não são aprovadas pelos pais” e “são feitas às escondidas”, pelo que assumir a existência de violência pode ser “complicado”. Outro facto que alimenta o medo é a “dependência emocional” que as vítimas por vezes criam em relação aos agressores, bem como a “crença” de que a violência cessa no casamento, o que acaba por ser o contrário, porque “o poder e o controlo sobre a vítima aumenta”.
A violência no namoro é cada vez mais precoce e por vezes aceite com naturalidade pelas vítimas e agressores, o que torna este fenómeno cada vez mais preocupante. Nesse sentido, Sónia Caridade lembra que a chave para reduzir este fenómeno se encontra não só na “prevenção e na desconstrução deste tipo de estereótipos”, mas também numa maior “sensibilização e consciencialização” por parte dos agentes educativos.