Planetas rochosos como a Terra são comuns na nossa galáxia, a Via Láctea. O estudo que o comprova foi feito por uma equipa de astrofísicos que inclui os portugueses Nuno Santos e Vasco Neves, ambos do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP). Esta descoberta permite imaginar um imenso número de planetas nos quais pode existir água em estado líquido, como se sabe elemento essencial para a existência de vida como a conhecemos.

O número, impressionante, salta à vista. “O que causa mais impacto são os números, milhares de milhões de planetas rochosos, super-Terras, descobertos à volta de estrelas de tipo M, de menor massa que o Sol, por exemplo”, afirma Vasco Neves, um dos dois elementos lusitanos da equipa. Estas estrelas, mais pequenas e que emitem menos energia, são chamadas de anãs-vermelhas, e são bastante comuns na Via Láctea.

O investigador do CAUP explica como surgiu a descoberta. “Isto foi uma inferência estatística que foi feita a partir de três deteções de planetas na zona habitável. Tendo em conta os limites de perceção do nosso instrumento, o HARPS, podemos fazer um cálculo simples de forma a determinar uma percentagem daquilo que esperamos encontrar à volta de outras estrelas”, conta.

O que importa aqui é a zona habitável. Esta representa a zona de um sistema estelar onde é possível a existência de água no seu estado líquido. No caso das anãs-vermelhas, esta zona fica muito mais próxima da própria estrela, em comparação com o nosso sistema solar, em resultado do seu menor tamanho e menor emissão de luz e calor. No entanto, não é certo que isso permita, por si só, a existência de vida. “Uma coisa é esses planetas estarem na zona habitável, outra completamente diferente é serem habitáveis”, avisa o astrofísico português.

O estudo indica que cerca de 40% das estrelas do tipo analisado são rodeadas por planetas rochosos, mas Vasco Neves lembra que “estes resultados são preliminares e, em princípio, essa percentagem será ainda maior, até porque a nossa amostra é pouco mais de uma centena de estrelas – as que se encontram mais próximas do nosso sistema solar”.

“Nos próximos 20 anos devemos ter indícios que suportem a existência de vida noutros planetas”

De facto, a tecnologia atual ainda não permite, por exemplo, detetar a existência de uma atmosfera nesses planetas longínquos. “Nós estamos apenas a falar da deteção desses planetas, não da deteção de uma atmosfera ou de vida, por isso só podemos especular”, diz o astrofísico, que começou a trabalhar com a equipa há cerca de dois anos.

Mas o próximo passo é mesmo detetar a atmosfera desses planetas, o que, segundo o investigador, “vai permitir avançar com mais respostas acerca destes planetas e sobre a possibilidade ou não de existir vida”. No entanto, estamos a falar de super-Terras. “São planetas com várias vezes a massa da Terra, pelo que poderão ter condições bastante diferentes, a própria gravidade será maior”, explica.

Apesar disso, Vasco Neves acredita que um planeta como a Terra será descoberto num curto espaço de tempo. “Eu diria que nos próximos dois anos conseguiremos detetar um planeta semelhante à Terra em termos de massa”, afirma confiante. E vai mais longe: “Daqui a 20 anos julgo que será possível detetar componentes da atmosfera nesses planetas que, embora não representem uma resposta definitiva, podem apresentar indícios que nos dêem ainda mais certezas sobre a existência de vida nesses locais”, conclui.

Não podemos, portanto, afirmar para já que a descoberta de vida noutros planetas seja uma realidade absoluta. No entanto, este estudo dá um passo gigante nesse sentido, abrindo espaço para outras análises que possam, naquela que seria provavelmente a descoberta científica mais importante de sempre: descobrir vida para além da Terra.