De acordo com um estudo encomendado pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) ao Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE), 94% dos alunos portugueses recorre a cópias ilegais dos livros, o que provoca perdas de 35 milhões de euros, por ano, no setor livreiro, e prejuízos de 11 milhões de euros ao Estado. O estudo foi apresentado esta sexta-feira na Feira do Livro de Lisboa.

A prática, frequente nas escolas portugueses, especialmente no ensino universitário, de fotocópia dos livros originais está a preocupar os livreiros que receiam pelo futuro do setor.

“É quase incomportável comprar os manuais originais de todas as cadeiras”

Inês Viana, aluna do 3.º ano do curso de Direito da Faculdade de Direito da Universidade do Porto, revela que costuma “fotocopiar livros na faculdade integralmente, mas não todos”. De acordo com a estudante, para as cadeiras do curso de Direito são necessários muitos livros, pelo que a opção de recorrer fotocópia dos mesmos é uma necessidade. “É quase incomportável comprar os manuais originais de todas as cadeiras”, explica.

Apesar do recurso frequente às fotocópias, Inês Viana defende que opta por comprar os livros “mais importantes e que vão ser úteis, posteriormente, na vida profissional”. A compra dos manuais originais passa, também, por uma “técnica de estudo” da aluna, uma vez que se se
obrigar “a gastar aquele dinheiro a comprar o manual”, acaba por se sentir obrigada a lê-lo.

Também Sara Quintas, aluna do 3.º ano do curso de Educação Social da Escola Superior de Educação do Porto, opta por fotocopiar livros para a faculdade, “mas não todos”. A estudante defende que “o preço das fotocópias em relação ao preço dos livros originais acaba por compensar”, uma vez que, por vezes, só precisa “para uma disciplina de um semestre”.

Tal como Inês, Sara salienta que apenas compra os livros originais quando vai “precisar deles no futuro para a vida profissional”, já que “é um bom investimento”.

Cópias ilegais colocam em risco o mercado de livros

Miguel Freitas da Costa, secretário-geral da APEL, revela que os resultados apresentados pelo estudo têm consequências diretas. “Isto põe em risco a própria criação dos livros, e afeta totalmente o setor, tanto nas livrarias como nos editores”, defende Miguel Freitas da Costa.

Face aos resultados que indicam que muitos dos estudantes universitários portugueses recorrem à cópia de livros, Miguel Freitas refere que, apesar de perceber a necessidade dos estudantes, “os livros custam dinheiro, e alguém os tem de pagar”.

A cópia ilegal de livros funciona como um “negócio bastante importante” para quem possui papelarias que faz essas fotocópias, o que conduz à existência de “uma indústria clandestina”.

Uma das principais medidas que o secretário-geral considera importante tomar passa pela sensibilização das pessoas, para que percebam que as cópias ilegais são “uma solução ilegal, imoral e suicida”, que pode conduzir ao fim do mercado dos livros. Além desta sensibilização, Miguel Freitas é da opinião de que é também importante aumentar a fiscalização e alterar a lei no que diz respeito ao apuramento de responsabilidades.