“Estávamos agora a ver que o último telex que eles colocaram em linha foi pouco antes das cinco da manhã e, de então para cá, não há mais nenhuma notícia”. Quem o diz é José Manuel Rocha, editor de economia do “Público”. Refere-se à emissão habitual de notícias da Agência Lusa para o jornal.

Esta quinta-feira e durante os próximos três dias, o volume de notícias produzido pela única agência jornalística portuguesa promete ser pouco ou quase nenhum. A Lusa está em greve. “O nível de adesão, em todo o país, é praticamente total. Não há serviço na linha da Lusa, portanto, podemos considerar que é uma greve com êxito completo”, revela Alfredo Maia, presidente do Sindicato dos Jornalistas.

No entanto, para os jornalistas da agência noticiosa, o êxito deste protesto só será completo quando virem o governo recuar no corte de 30,9% anunciado para o orçamento de 2013: “Isso é o dobro do que a administração [da Lusa] tinha dito que seria possível acomodar sem despedir pessoas, o que significa que o serviço público que a Lusa presta neste momento, torna-se inviável e deixa de ser exequível”, diz Tiago Dias, do conselho de redação da Agência Lusa.

“Não queremos que haja esse corte. É por isso que estamos em greve e que estamos a falar com figuras públicas, partidos, intervenientes na sociedade civil, a todas as pessoas que tenham interesse no funcionamento de uma democracia saudável, para que nos ajudem, tomem medidas, para que isto não aconteça”, completa o jornalista.

Greve na Lusa – reações

José Manuel Rocha fala do peso da Lusa no “Público”
Alfredo Maia alude às ações de solidariedade para com a Lusa

Debilitar a Lusa é debilitar tudo

A verdade é que já muitos se mostraram solidários com a causa. Acima de tudo, através da petição “Em defesa da agência de notícias Lusa” e da carta aberta “Pelo Jornalismo, Pela Democracia” [PDF], divulgada e subscrita por mais de 70 jornalistas de vários órgãos de comunicação, entre os quais, Adelino Gomes.

“A nossa carta é um grito de alerta em relação a tudo aquilo que se está a passar”, afirma o histórico jornalista. “Esta carta não quer resolver o problema, nem salvar o jornalismo. Esta carta quer alertar os nossos concidadãos, para que não pensem que este é um problema laboral. Trata-se de um problema que pode, realmente, enfraquecer a democracia”, refere ao JPN.

O alerta de que Adelino Gomes fala, ganha ainda mais importância a partir do momento em que considera que “o problema não é só das empresas, nem dos jornalistas. É também dos leitores, dos ouvintes, dos espectadores”.

“Não podemos olhar com indiferença para aquela que é a única agência que existe em Portugal, e que se dirige ao mundo em que portugueses vivem. Debilitar essa agência é debilitar um património nacional e é por isso que isto deve criar um sobressalto cívico. Não tanto agora discutir se é 30 ou 25%… Enfranquecer o jornalismo é enfraquecer a democracia”, finaliza Adelino Gomes.